Este texto é fruto das aulas assistidas durante o curso “A interpretação deleuzeana de Proust” ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Machado no IFCS. Disciplina da Pós Graduação em Filosofia, UFRJ, 1º Semestre de 2009
Proust e a simultaneidade dos tempos
Unir duas frases diferentes através de uma metáfora essa é a proposta proustiana. Isso é possível unindo dois termos de qualidade comum através de uma metáfora. Proust pensa a metáfora como metamorfose, sendo que a metáfora critica o realismo porque para ele, o realismo é incapaz de dar conta da realidade; no realismo há a impossibilidade de dar conta do tempo.
A impressão sensível está ligada à metáfora e na metáfora há o privilégio da relação, relações entre sensações e lendas. O que chamamos de realidade é a relação entre sensações e lembranças que nos envolvem simultaneamente. A sucessão é empírica, no entanto, a simultaneidade do tempo passado, presente e futuro, não é. Bergson fala do tempo puro que Proust valoriza devido à possibilidade de haver dois tempos diferentes atuando simultaneamente, dando a idéia de co-eternidade, com a existência do passado, presente e futuro. Espinosa adquiriu a eternidade no tempo e Deleuze aproveitou bem isso.
Como expressar as impressões num tempo acronológico? Escapar do tempo cronológico para o simultâneo é a ambição proustiana porque o tempo puro é interessante para o escritor porque escrever é relacionar aspectos da realidade. Proust quer escapar das contingências do tempo, do tempo empírico. A música é uma arte capaz de dialogar com o tempo puro, pois ela traz a dimensão da profundidade, escapando da aparência, da representação, do fenômeno. Para Proust adora a idéia de metáfora como metamorfose aliada à idéia de metáfora como relação, até porque, o tempo é uma figura de linguagem. A metáfora abarca a concepção de substituição, de relação de semelhanças de tradução, que implica em transportar de um lado para o outro. Em termos aristotélicos, fazer bem as metáforas é fazer as relações de semelhança. Aristóteles em seu livro “Poética” fala de metáfora como idéia de transposição e analogia.
Na metáfora é importante a relação entre um lugar e um produto, sendo que, ela se constitui numa noção muito importante para Proust. Ele escreveu um artigo sobre Flaubert chamado “O Eterno e o Perfeito” no qual, ele diz crer que só a metáfora pode dar ao estilo uma espécie de eternidade. Proust ainda fez uma crítica à Flaubert dizendo que ele jamais construiu uma bela metáfora. Proust defende a literatura como criação de metáfora, aliás, existe um livro chamado “Vida como Literatura” de um filósofo americano. Metáfora é relação e em Proust há a relação entre a literatura e a sua vida.
Deleuze fala que o signo sensível é o signo da vida e que a natureza é dada pela impressão sensível. Winckelmann defende que os gregos viveram a natureza com mais intensidade e que Aristóteles era alguém que insistia na natureza. O artista chega aonde à natureza foi incapaz de chegar; ele vai além da natureza. O grande escritor é o inesgotável, pois ele diz o indizível e como novo escritor, ele faz relações diferentes estabelecendo as relações, que a gente não gosta e que a gente não entende, porque relaciona os mesmos objetos de maneira diferentes. Proust é um teórico, escritor do novo e está relacionado à idéia de gênio que dá a luz ao novo, ao que é diferente.
A vida é relação e a arte é relação e geralmente é relação entre tempos diferentes. Deleuze fala de homologia estrutural que trabalha com semelhança de estruturas entre a memória involuntária e a metáfora literária. O projeto literário é voluntário, no entanto, a memória involuntária é obra do acaso. A verdadeira arte é metafórica e as metáforas são reminiscências da arte garante Deleuze. A literatura é expressão, tradução de um estímulo que relaciona. Há um teórico húngaro ligado à escola de Frankfurt que compara Walter Benjamin com Marcel Proust ao dizer que na metáfora duas coisas distintas perdem a sua identidade consigo devido uma analogia feita pelo poeta. A metáfora deve elevar o homem acima da temporalidade, acima do tempo sucessivo, tempo empírico. A metáfora deve descobrir o tempo puro, inclusive, Proust é um pensador da imanência e não da transcendência.
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