quinta-feira, 15 de março de 2012

Literatura e Realidade em Proust


 
Este texto é fruto de anotações durante as aulas no curso, “A interpretação deleuzeana de Proust” ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Machado no IFCS. Disciplina da Pós Graduação em Filosofia, UFRJ, 1º Semestre de 2009.
Literatura e Realidade em Proust

     A música denuncia a falsidade da literatura. Há em Schopenhauer uma hierarquia das artes, no entanto, em Hegel há uma superioridade da poesia. Proust defende que a música é condição de possibilidade da literatura e Foucault fala sobre a literatura ao infinito que só foi possível graças ao desaparecimento do modelo absoluto: Deus. Sem a idéia do modelo, há possibilidade de criação do original, aliás, na modernidade é bom o que é original.

     A mentira da literatura está na literatura realista que observa e descreve porque ela é superficial. Há uma distinção metafísica entre aparência e essência, dessa forma, o escritor do original, precisa estar disposto a desentranhar o que esses fatos encerram. O conceito de essência é muito importante em “Em Busca do Tempo Perdido”.

     Kant limitou a filosofia porque ele fez uma filosofia dos limites no sentido de que estabeleceu os limites do conhecimento, esclarecendo, com sua crítica da metafísica, que o homem só pode conhecer o fenômeno, o que é espaço-temporal, e não a coisa em si.  Ao criar uma linguagem, o escritor vê e ouve os sons mais profundos, diz Deleuze. Ele insiste que o criador deve ambicionar levar a linguagem ao máximo do linear de intensidade para que um novo tipo de escuta seja possível. É na profundidade que está a verdadeira realidade, e o artista traduz a realidade essencial. Para Proust, profundidade significa interioridade e a verdadeira realidade é o interior. Podemos conhecer a coisa em si? Essa é a grande questão de Schopenhauer. O pensamento moderno diz que a essência está sempre no porvir.

     A arte é um tipo de conhecimento superior e podemos pensar nessa superioridade se dando no nível mental e espiritual. Leonardo Da Vinci assinalava que a pintura é coisa mental e que ao invés do objeto tudo está no espírito. Isso nos remete a Schopenhauer que dizia que a beleza não está no objeto. Proust já é mais intimista e realça que a realidade não está na distância, mas é algo que se está intimamente ligado devido possuir afetividade com a realidade. A música pode ser pensada como linguagem do corpo, se caracterizando como um conhecimento não representativo.

     Proust é o resultado da morte de Deus e está situado na modernidade e antes da modernidade, valorizava-se o passado nos quais as coisas guardavam a essência. Em Proust a realidade deve ser pensada como relação, isto é, relação simultânea entre sensações e lembranças.

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