sexta-feira, 16 de março de 2012

Deus curte charuto, cachaça e vatapá: Um olhar afro religioso. (Leonardo Boff e Frei Betto)


Deus curte charuto, cachaça e vatapá
Toda a religião afro é profundamente cósmica. A nossa religião se dá na palavra, no rito, no conceito, na compreensão, enquanto a deles se dá nos alimentos, na pipoca, no charuto, na cachaça, na cor. Não se trata de qualquer alimento. A cachaça, o charuto, o vatapá têm a ver com as situações existenciais do cotidiano que eles viviam nos canaviais ou nas grandes plantações de fumo, aquele cotidiano avassalador em termos de trabalho opressor e de indignidade. Ali eles fizeram a experiência do sagrado e usaram aqueles elementos - o fumo, o pão velho no vatapá - como sacramentos para comunicar a experiência do sagrado, da mesma forma que nós usamos os elementos primordiais da nossa cultura, que são o pão e o vinho da cultura mediterrânea. Para os astecas e maias, e todas as culturas andinas, é o milho. Nas culturas orientais, o arroz. Os africanos têm uma experiência mais cósmica de Deus, ligada aos alimentos, que são carregados de axé, aquela energia divina que está nas coisas. Nós, cristãos, temos uma aproximação com o axé: o Espírito. Tudo está cheio de Espírito Santo ou das energias do espírito, que corresponde mais ou menos ao axé deles. Devemos alcançar a compreensão não de um e outro elementos, mas daquela totalidade cultural comparada a nossa totalidade cultural. Em vez de ficarmos no entendimento da superficialidade, ver as intencionalidades profundas.

Extraído de (adaptação joeana pela extração bettoana e boffeana):
BETTO, Frei; BOFF, Leonardo. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.



Recomendo a leitura deste livro :

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