quinta-feira, 15 de março de 2012

Introdução ao pensamento de Marcel Proust (Literatura Francesa)


Este texto é fruto de anotações durante as aulas no curso, “A interpretação deleuzeana de Proust” ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Machado no IFCS. Disciplina da Pós Graduação em Filosofia, UFRJ, 1º Semestre de 2009.
Introdução ao pensamento de  Marcel Proust

     Proust é considerado escritor de uma obra só. A estética de Proust abarca três artes: música, pintura e literatura. Proust emite várias idéias sobre várias questões e questões do cotidiano. O que interessa a Proust é a literatura. A obra O TEMPO REDESCOBERTO é importante para a reflexão sobre a arte. Trata-se de uma descoberta, a descoberta de uma vocação, a vocação literária.
     Proust pensa as três artes refletindo sobre os grandes artistas que representa cada arte. Na música ele reflete sobre Wagner que foi o músico que mais marcou Proust. Reflete também em cima de Beethoven principalmente os últimos quartetos de Beethoven. Era característica de Proust pensar alguns artistas reais. Proust pensa uma arte sobre a arte; uma literatura sobre a literatura.
     No livro “O CAMINHO DE SWANN” fala sobre um amor de Swann. O personagem Swann é um diletante em artes, encarregado de levar a arte à aristocracia. Ele indica as obras de arte de valor. Swann é alguém que passou a vida toda estudando o pintor Vermeer.
     A idéia de impressão é importante para a expressão. Proust faz uma reflexão sobre Balzac. Ele pensa a partir de Honoré Balzac e Gustav Flaubert. Proust tinha um ouvido para a musicalidade da língua. Ele gostava de pastiches, pois ele explicitava o estilo de alguém. Os irmãos Goncourt é um livro de pastiches. Há a importância da metáfora para Proust a partir da literatura. A paródia é crítica; o pastiche é a tentativa de dar conta do que o outro fez.
     Proust é mais crítico aos escritores do que em relação aos pintores e músicos. Para ele a literatura não está à altura da música, mas ele pretendia ser o maior e queria que a literatura se tornasse maior a partir dele.
      Na modernidade desparece o modelo. A literatura nasceu com a morte do modelo (Foucault). A morte de Deus é a morte do modelo (Nietzsche). Segundo a psicanálise, é preciso matar o pai (o modelo). Existe a importância de Schopenhauer para a concepção de arte em Proust. A concepção de música para Proust e de cunho shopenhaueriano e também wagneriano, pois Wagner bebeu em Schopenhauer. Segundo Schopenhauer a vida é um pêndulo que oscila perpetuamente entre a ansiedade e o tédio. É preciso superar a falta; é preciso preencher o desejo. Um desejo realizado deixa de ser um desejo. Nietzsche fala do desejo como criação. A proposta de Nietzsche é para superar Schopenhauer.
     Vanteuil é um músico wagneriano. Proust é um ficcionista que cria outros personagens. Proust cria Vanteuil que é músico, cria elstir que é pintor e cria Bergotte que é literato. O que interessa à Proust é pensar a literatura. Música e pintura aparecem como modelo de uma nova literatura. Uma literatura que dê conta da essência das coisas. A metafísica aborda o saber da transcendencia e a ontologia abarca o saber da imanencia. Platão inaugura a idéia de essência que é universal. Só a justiça é justa, só a beleza é bela (Deleuze).
Le temps retrouvé - Raoul Ruiz -Sonate de Vinteuil- Proust 


      Em Proust a essência é singular. Para Schopenhauer existem dois grandes filósofos: Platão e Kant. Schopenhauer tentou harmonizar os dois. Para Platão, é a filosofia que é capaz de revelar a essência, de dar conta da essência universal. Para Proust é a arte que dá conta da essência (posição schopenhaueriana). Há uma superioridade das artes em relação aos outros tipos de saberes. A arte é superior ao conhecimento científico, ao conhecimento racional. Proust faz diversas críticas à inteligência racional. Por exemplo: ele crítica a racionalidade de Swann, pois ela impediu-o de ouvir a música.
      Modernidade é o tempo começado a partir de Kant. Toda a filosofia é uma tentativa de escapar do Platonismo. Nós não podemos conhecer a essência (Kant). Schelling, Nietzsche e Schopenhauer tentaram interpretar Kant. Para Kant a arte não gera conhecimento. Para Schelling a arte dá um conhecimento mais profundo em relação às outras formas de saber (romantismo). Proust aspirava fundar uma literatura capaz de dar conta da essência. Só a música dá conta da essência. As outras artes ficam no nível da representação.
      Proust vai pensar um estilo de literatura a partir da pintura. Ele trabalha metáfora como metamorfose. Tudo se transforma em Proust; nada é sólido, até os nomes se transformam.
      O que interessa a Proust é unir presente, passado e futuro. Para Deleuze, a síntese das três dimensões do tempo se constitui no INSTANTE. Proust trabalha com o tempo mítico, o tempo não cronológico, simultaneo (Bergson) - cinema moderno. Há um problema filosófico: se Proust é ou não bergsoniano.
     A primeira vez é a vez da inexperiência (frase de Proust). Proust é o homem do aprendizado, da formação. EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO é o romance da aprendizagem, romance de formação. Não há progressão na aprendizagem.
      Para Proust a criação artística está vinculada a memória involuntária. Em Proust as frases crescem por dentro; tudo incha por dentro. Há em Proust uma reflexão sobre o tempo (tempo perdido, tempo redescoberto).
      Proust levanta algumas idéias importantes sobre a literatura. Eis algumas delas:
     1- Em Proust há a questão do livro como sendo fragmentado e planejado. Ele trabalha a questão do acaso na obra de arte.
     2- Relaciona EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO com o romance de formação. Numa tragédia grega não se aprende nada, só nós aprendemos; nada muda; não há uma progressão dramática.
     3- Trata da incapacidade para literatura que não tem progresso. Há uma osmose entre a vida de Proust e a literatura; há uma vida literária. Há uma novidade em Proust: não existe herói. Existe herói, narrador e Proust, porém, a relação entre os três é complicada.
     4- A arte e as impressões sensíveis são as condições de possibilidade para a descoberta da vocação literária; é condição genética. Há experiência do tempo não cronológico, não sucessivo. Memória involuntária para dar um salto por relações artísticas. A vida só tem sentido em forma de palavras. Uma impressão muito forte leva a expressão, pois transforma impressão em expressão.
     5- Relaciona a música com a pintura. Explica a música através de 2 personagens: Swann e Marcel. Proust trabalha a noção de realidade. Para ele a arte é capaz de dar conta da essência. Proust faz uma reflexão sobre música e realidade e literatura e realidade. Só tem sentido em falar de essência se falar de aparência.
     6- Pintura e relação com a literatura para ver a idéia de metamorfose. Relação entre metamorfose e identidade da diferença.


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