sexta-feira, 16 de março de 2012

Livro - Ulysses de James Joyce. Crítica, filme + video com expert em James Joyce, Literatura Irlandesa



A produção do ENTRELINHAS, fez um passeio literário por Dublin, mostrando os lugares que foram eternizados pelo romance mais revolucionário de todos os tempos: Ulisses, do escritor irlandês James Joyce. O Entrelinhas é um programa da Tv Cultura. Mais informações em: http://www.tvcultura.com.br/entrelinhas
Confira o vídeo abaixo com depoimento de um estudante que fazia mestrado naquela época, e tinha como objeto de pesquisa o livro ULYSSES de James Joyce.


Filme Ulysses (1967) parte I (youtube)
Título Original: Ulysses
Gênero: Drama
Ano de Lançamento: 1967
Direção:
Joseph Strick
audio em Ingles sem legendas


Recomendo :
James Joyce's Ulysses Documentary Part 1 of 9 




Recomendo a leitura desse artigo abaixo.
A desconstrução do romance Ulysses, de James Joyce, nas traduções brasileiras

Ulisses
de James Joyce
(por Antônio Houaiss)
Um dia na vida da Humanidade. Se fosse possível laçar o tempo
ou capturar o Infinito, oderíamos dizer que James Joyce
o conseguiu em seu livro. Um dia comum — 16 de junho
de 1904 — na vida de pessoas comuns — irlandeses, como
ele — numa cidade comum, Dublin. Só o romance é incomum.
Quando foi publicado, em 1922, por uma modesta editora de
Paris, a Shakespeare and Co
., os críticos mais atentos disseram
que aquele era ''um romance para acabar com todos os
romances''. Não desejavam, com isso, anunciar o fim da
literatura, mas sugerir que, a partir dali, nenhum romancista
lúcido poderia se contentar em narrar histórias com princípio,
meio e fim. Joyce, desconhecendo Freud, devastou os
subterrâneos do inconsciente; antes mesmo que o cinema,
criou novas técnicas revolucionárias para a narrativa;
e, sem ser um filósofo, abriu perspectivas para a compreensão
da História como um círculo sem começo nem fim.
Tem sido uma constante da crítica e dos comentaristas a associação e vinculação desse livro de Joyce ao mito de Ulisses. Esse mito, consagrado sobretudo nas duas principais epopéias homéricas, a Ilíada e a Odisséia (Ulisses é em grego Odysseús), já pelo século VIII antes de Cristo, é uma das mais prestigiosas lendas de todos os tempos, gregas ou não-gregas.
Enriquecido de outros elementos, reaparece em diversas tragédias de Ésquilo e Eurípedes, entre os próprios gregos, e em latim na Eneida, do mantuano Virgílio, projetando-se depois através da Idade Média, na Idade Moderna e na Contemporânea, aparecendo em poemas, narrativas, dramas, óperas etc. Essencialmente: andanças do herói até o retorno ao ponto de partida. Simbolicamente: de como o fim está no início e o início no fim; ou de como uma aventura — por exemplo, a vida — é um ciclo, isto é, algo que se desdobra formando como um roteiro em círculo que se fecha; ou de como tudo se repete. Se a premissa é contestável, como filosofia da História e mesmo da natureza, a simbologia, ideológica, não pode ser. Assim, cada um de nós pode ser um Ulisses ou uma Ulissa entre o acordar e o dormir, entre o emigrar e a nostalgia, entre ficar adulto e deperecer com saudades da infância e juventude, entre amar e desamar porque o amor deixou de ser o que era.
Tem-se repetido que o romance de Joyce marca o fim do gênero: depois dele, o romance estaria fadado a morrer, porque teria atingido tal clímax que daí por diante tudo seria declínio. Se fosse verdade o pressuposto, a maior verdade é que o Ulisses de Joyce teve uma espantosa ação fecundante sobre a capacidade de narrar dos homens. Hoje, sem que o saiba talvez, cada escritor, ao fazer ficção ou não-ficção, herda, por via direta ou indireta, algo da arte e da técnica de narrar, tais como as praticou Joyce em seu Ulisses.
O Ulisses de Joyce tem sido sempre considerado um livro dificílimo. Descontados os tropeços intrínsecos às diferentes línguas, o Ulisses de Joyce seria o mais difícil de todos os Ulisses através dos tempos.
Sim e não. Uma das dificuldades maiores provém do próprio mito, em dois sentidos: seria necessário conhecer a intimidade do mito pré-grego e grego para entender, compreender, apreender, captar o Ulisses de Joyce; criou-se o sobremito de que, sem isso, o Ulisses de Joyce não seria perceptível ou inteligível. Ora, ao que creio, Joyce não quis recriar o mito. Pelo contrário, creio que teria querido matá-lo, como desmistificá-lo, desmistificando-o. Então fez algo que é isto: de como algumas horas da vida de uma, duas ou três pessoas comuns, ordinárias, correntias, expostas em sua vivencial e existencial cotidianidade de um dia qualquer, constituem uma, duas ou três odisséias; de como o fluxo de cada vida é tão heróico ou tão vulgar como o mito de Ulisses ou Ulisses mesmo. Nesse sentido — reduzido a esse cotidiano —, o Ulisses de Joyce pode (eu diria mais, deve) ser lido — pelo menos em primeira leitura — como um romance qualquer. E será então um romance qualquer com uma só pequena diferença: é um imenso, notável, surpreendente, espantoso romance qualquer, com o sopro de um gênio que transformou o trivial e cotidiano numa coisa inacreditável. Nisto: por mais que suponhamos que a nossa, a minha vida é um drama, ou uma tragicomédia, ou uma tragédia, ou um romance, ela é de fato trivial e cotidiana como um drama, uma tragicomédia, uma tragédia, um romance, um mito. Qualquer supervalorização de mim mesmo, em face dos meus semelhantes, é um exagero, é um egocentrismo, é um egoísmo: somos todos; de Ulisses a João da Silva, feitos da mesma argamassa de fragilidades, puerilidades, ordinariedades e — se se quiser — grandezas e heroísmos de que são feitos quaisquer Joões da Silva ou Ulísseses.
Sua obra é hoje um dos pontos de referência da literatura universal. Mas o é ao lado de uma série imensa de pontos de referência anteriores — e citá-los seria arrolar pelo menos uma centena, em que o ouro da casa apareceria pelo menos com Machado de Assis — e ao lado de uma série apreciável de pontos de referência concomitantes ou posteriores, como um Thomas Mann, um Alejo Carpentier, um Quasimodo, em que a prata da casa compareceria com Graciliano e Guimarães Rosa, e o ouro com C.D.A.
Se essa seleção é polêmica ou não — o fato é que James Joyce nem quis matar nem matou a literatura, a ficção, a poesia. Fecundou-as.
Irlandês de Dublin — 2 de fevereiro de 1882 —, morreu em Zurique, na Suíça, em 13 de janeiro de 1941. De formação católica, sob o então férreo jugo jesuítico, pobre, viu-se, por sua busca de si mesmo, a multiplicar tropeços para situar-se. Um achamento foi Ibsen, aos dezoito anos. Outro foi Paris (1902, lá tendo voltado, mais tarde), outro foi o exílio (1905), tornado definitivo (1912).

Texto extraído do link:

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