sexta-feira, 23 de março de 2012

Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos)


O Prisioneiro da Grade de Ferro (1/12) 

Ficha Técnica

Estado: Em DVD
Título Original: Prisioneiro da Grade de Ferro
Gênero:
Direção:
Roteiro:
País de Origem: Brasil
Estreia Mundial: 2004
Duração: 124 minutos

Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto-retratos) é um filme documentário brasileiro de 2003, dirigido por Paulo Sacramento.
O documentário retrata a ineficácia do sistema carcerário brasileiro, sobretudo sua falha no processo de ressocialização. As lentes de Paulo Sacramento conseguem captar a desobediência a vários princípios constitucionais, principalmente em relação à dignidade do apenado.
Apesar de mostrar assassinos, estupradores, ladrões, entre outros, o filme expõe a maneira - muitas vezes inusitada e criativa - que os presos encontram para (sobre)viver no cárcere, numa tentativa de diminuir o tempo que sempre insiste em correr mais vagarosamente quando se está cerrado dentro das gaiolas de ferro. Por outro lado, o documentário revela as condições sub-humanas a que os apenados estão submetidos no cárcere, confirmando o descaso Estatal que impera no Sistema Penal brasileiro.

O sistema penitenciário brasileiro encarcera 170 mil, dos quais a metade se encontra no Estado de São Paulo. O Carandiru abrigava nos seus dias finais mais de 7 mil almas, e assim, com alguns dados e uma "desimplosação", onde os pavilhões literalmente se reerguem do pó, se inicia O prisioneiro da grade de ferro - auto-retratos, documentário de Paulo Sacramento. A intenção é boa: um curso de vídeo no complexo para ensinar alguns presos a mexer com uma câmera, registrar o áudio. A procura foi grande, mais de 200 inscritos, dos quais sobraram menos de 20 e o que se vê é aquilo que ninguém mais poderia retratar.
Apesar de não termos nenhum santo por ali, mas sim bandidos, ladrões, assassinos, picaretas, mal intencionados de todas as estirpes, ainda assim, é bom lembrar, são tão humanos quanto a gente, e diferentemente do que muitos coronéis e PMs pensam, com capacidade de expor suas angústias, revoltas, mas também demonstrar capacidades artesanais, seja pra fazer uma caravela com um metro de comprimento, ou a "maria loca", a cachaça destilada de arroz ou laranja.
Ali o buraco é mais embaixo, como lembra o sarcástico que fala na triagem diária para os que chegam. Todos sentados, em bancos que parecem de igreja, já de cabeça raspada (e olhando pra baixo, querendo talvez pensar que se trata de um sonho, ou melhor, pesadelo), a famigerada calça bege, camiseta branca. A comida é azeda, o cheiro não é dos melhores, o aperto é visível e vacilão é estocado até a morte. Tinha um com centenas de furos nas costas. Outro com um rombo no pescoço. Geralmente é dívida de droga. Mas todas essas informações que já sabíamos de antemão, que já formam essa imagem desses antros de animalização que vemos hora ou outra quando estoura uma rebelião país afora, não constituem o melhor. Esse aparece na tentativa dos presos de se auto-retratarem, como sugere o subtítulo do documentário.
E aí aparecem os grupos de rap, mas também a roda de samba, o futebol (um dos poucos momentos onde se vê sorrisos é quando o time vencedor comemora o título), os travecos, a hora da faxina dos pavilhões que precede a visita de sábado, a hora da tranca, a "Ave Maria", de Bach, todo fim do dia. Aparecem as mulheres peladas na parede, a comunicação com a moradora do albergue na frente, os ratos (quantos ratos, amiga!), o prédio do Banespa, "símbolo do capitalismo", como se refere um, o metrô que vai e vem, a oficina de bolas, os trabalhos artesanais, que provavelmente muita gente nem sabia possuir, o pastor e o pai de santo, a preparação das dolinhas de maconha, o crack, a "realidade da cadeia", como muitas vezes os detentos se referem.
Sem apologia nem execração prévia de quem está ali, coisa difícil para quem trabalha com isso, Sacramento montou um belo filme, não esquecendo que temos párias, como sempre existiu desde que o homem ainda era macaco, mas muitos infelizmente foram tragados pelas condições subumanas que dominam as nossas periferias.



 

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