domingo, 1 de abril de 2012

Sadomusicistas: Quando a sensualidade, profissionalidade e teatralidade se misturam.

Uma pessoa que tenha rido com gosto ao menos uma vez na vida não pode ser irremediavelmente toda ruim. Thomas Carlyle




         A primeira vez que eu vi esse nome "SADOMUSICISTAS" foi através de um post postado pela professora. Dra. Mirna Rubim (UNIRIO) no fluxo noticiário do facebook. Fiquei super curioso e fiquei possesso de curiosidade e prazer. Esse grupo de mulheres quentes musicalmente, vem nos mostrando que o percurso que um artista precisa percorrer para atingir o cume do Everest artístico, também é marcado por momentos de dores e de nãos, no entanto, sempre há de momentos de prazer seguido de delírios de júbilo. Quantos de nós ao sonharmos alcançar alguns objetivos na carreira, levamos tocos e batemos com a cara no paredão das burocracias da existência? Adélia Prado foi sábia ao dizer que a vida também é um soco no estômago. Quantos de nós já pensamos em desistir diante do primeiro NÃO que nos desestruturou pela raíz nos tornando indefesos temporariamente? Muitos artistas talentosos morreram pelas ciladas\armadilhas castrativas da existência, porém, muitos talentosos desafiaram a força da gravidade e ousaram a cair para cima, pois a sensibilidade da alma e a engrenagem da sustentabilidade dos sonhos potencializaram o espírito quebrantado, pois o poder do Sagrado (Deus) se aperfeiçoa nas fraquezas. Nas guaritas mais secretas do artista, ouve-se a divina voz: “A máquina de sofrer é uma peça de uma máquina que não pára de gozar consigo mesmo". (Gilles Deleuze e Félix Guattari).
          O filósofo, Prof. Dr. Oswaldo Giacóia, ao fazer um paralelo entre Nietzsche e Sade, acentua que o desejo e o prazer sádicos não podem encontrar satisfação senão no movimento perpétuo em que se consuma, pela destruição, o gozo como esgotamento e fruição total do objeto, destruição cujo o efeito principal é a potencialização do desejo e da necessidade de nova fruição, reproduzindo indefinidamente o movimento, numa espiral ascendente de prazer, dor e destruição. O desejo e o prazer sádicos não podem encontrar um limite de satisfação, porque a intensificação ao infinito é a lei interna de sua reprodução.
          Sade compreendia a vida como potência infinita de criação e Nietzsche vai pensar a vida, como um conjunto da natureza não-pacificada e não-acomodável às necessidades, porque ela é um campo de guerra e desequilíbrio de forças. A natureza como vida, não é mesquinha em suas formas, mas perdulária e dissipadora de suas criações. Aproximar Sade e Nietzsche nos instiga à fazermos menção do significado das festas culturais em honra de Dionysos e das bacanais. Nietzsche escreveu:“A Psicologia do Orgiástico como um exuberante sentimento de vida e força, no interior do qual mesmo a dor atua ainda como estimulante dando-nos a chave para o conceito do sentimento do trágico. O que o heleno garantia a si mesmo nesses mistérios? A vida eterna, o eterno retorno da vida, o triunfante sim à vida, para além da morte e mudança; a verdadeira vida como sobrevivência coletiva pela geração, pelos mistérios da sexualidade. Para os gregos, o símbolo sexual era símbolo venerável em si, o verdadeiro sentido profundo dentro de toda religiosidade antiga. Na doutrina dos mistérios a dor é declarada santa.
          Tal glorificação do sofrimento como condição de vida, implica uma reconceituação do prazer, que permite aproximar Nietzsche e Sade. “O sentido do prazer está precisamente na insatisfação da vontade, em que, sem limites e resistência, ela não está ainda suficiente satisfeita. A insatisfação normal de nossos impulsos, por exemplo, da fome, do impulso sexual, do impulso de movimento, não contém em si nada de depressivo; ela atua como estimulante sobre o sentido da vida, assim como fortalece todo ritmo de pequenos estímulos dolorosos. Essa insatisfação, ao invés de aborrecer a vida, é o maior estimulante da vida (Nietzsche)”.
          Percebe-se, assim que, que a teatralidade das Sadomusicistas nos diz claramente que  o prazer não apenas não exclui a experiência da dor e do sofrimento, como também exige sua intensificação. A escalada do prazer é tanto maior quanto mais intenso é o ritmo das pequenas estimulações dolorosas, o que significa que o movimento do prazer descreve uma trajetória infinita de intensificação da dor como sua condição de possibilidade.
          O grupo As Sadomusicistas nos mostra a vida como ela é sem rodeios e camuflagens, atiçando nossos desejos sonoros através das excitações e co-excitações musicais e visuais, pois no jogo combinativo de corpos altissonantes, a força do erotismo artistico eleva nossa sensibilidade auditiva\afetiva\reflexiva\analítica\libidinal à enésima potencia através do riso e dos júbilos. O legal de tudo é que em cada concerto, há um mover de corpos,  um alvoroçar de risos, pois As Sadomusicistas são isso: máquina propulsora de risos reflexivos. Elas desenham de forma cômica muitos problemas do nosso tempo, pois o "caricaturista é o demônio que eleva, que expande tudo o que Deus insinuou querer fazer”. (Henri Bergson – livro O RISO)
Acreditem....mas há quem diga que essa fotografia é uma louvação a arte do exagero...É preciso exagerar para que algumas bestas (sem tesão e sem coração) nao durmam ....


BIBLIOGRAFI

GIACÓIA, Osvaldo Júnior. Labirintos da Alma. Nietzsche e a auto-supressão da moral. Campinas: UNICAMP, 1997.

DELEUZE, Gilles. Sacher-Masoch: O frio e o cruel. Tradução: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

DELEUZE, Gilles. Sacher-Masoch: O frio e o cruel. Tradução: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.


DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Felix. Kafka. Por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977.



 
BERGSON, Henri. O Riso: Ensaio sobre a significação do cômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1983


Nenhum comentário:

Postar um comentário