quinta-feira, 12 de abril de 2012

Maria (Mary), de Abel Ferrara (EUA/Itália, 2005) com Juliette Binoche e Jean-yves Leloup (teólogo francês)



Original: Mary
País: EUA/Itália
Direção: Abel Ferrara
Elenco: Juliette Binoche, Forest Whitaker, Matthew Modine, Heather Graham, Marion Cotillard, Stefania Rocca, Gisella Marengo, Francine Berting, Massimo Cortesi, Jean-yves Leloup, Gretchen Mol.
Duração: 89 min.
Estréia: 13/04/07
Ano: 2005



Cineasta de carreira controversa e de altos e baixos, o nova-iorquino Abel Ferrara retorna às telas - e ao seu melhor cinema -, depois de quatro anos de ausência. No longa-metragem Maria (Mary, 2005), ele retoma seu tema favorito, a fé, propondo um inquietante contraste entre a crença e o ego.
Educado severamente dentro do catolicismo, Ferrara reflete em sua cinematografia uma curiosa e ambígua relação com a crença, quase uma obsessão. Em tempos em que a fé católica impulsiona produtos pop mundo afora, ele não poderia abster-se e oferece aqui sua visão a respeito do tema.
Nitidamente incomodado, ele abre Mary com o encerramento das filmagens de um longa sobre Maria Madalena. Rodado por um cineasta megalomaníaco (Mathew Modine), o filme "Este é o meu sangue" mostra a personagem bíblica sobre uma nova luz - não a de prostituta da Igreja, não à de esposa/amante da recente ficção medíocre, mas a de importante apóstolo de Cristo, idéia extraída de textos apócrifos. O tal diretor, porém, está muito mais preocupado com sua imagem e em criar polêmica, algo que vai ajudá-lo a vender o filme, numa claríssima referência a Mel Gibson (A Paixão de Cristo). Parte dessa estratégia foi o tratamento de seu elenco, exigindo tanto de seus atores que a protagonista do filme, Marie (a brilhante Juliette Binoche), torna-se incapaz de abandonar sua personagem, partindo numa jornada espiritual. Passa-se um ano até que o longa fique pronto e a trama acompanha então um cético jornalista televisivo (Forrest Withaker, fulminante), dono de um programa diário sobre fé, que tem como objetivo principal uma entrevista com o egocêntrico cineasta.
Ferrara brinca com a fé de forma desconcertante e irônica. Uma desgraça pessoal, por exemplo, faz com que um dos personagens volte-se a Deus em busca de auxílio. Mas não seria o mesmo Deus que lhe trouxe a desgraça? Outros, devotados e iluminados, sofrem na mesma proporção. Escancara-se então o moto -contínuo religioso a respeito do qual o diretor é tão interessado.
Surpreende também a maneira com que Ferrara registra tudo isso. As sombras marcadas, os tons quentes, os movimentos de câmera e a música pungente parecem os mesmos habitualmente empregados em filmes de terror. A maneira como o diretor focaliza uma estátua de Cristo na cruz é aterrorizante. Não fosse Maria um drama, haveria a certeza de que a imagem se moveria.
Um filme com potencial para incitar debates, portanto. Discussões relevantes, que mereciam espaço muito maior em nossa cultura que as iniciadas por "Códigos" e "Paixões" diversos

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