quinta-feira, 31 de maio de 2012

Quando somos frutos do milagre da vencibilidade da DISCRIMINAÇÃO RACIAL..Uma história verídica afetiva...




Meu Pai seu João e sua Bíblia Mágica...Minha mãe Dona Maria e seu olhar singelo e espirituoso..
Meu irmão e minha sobrinha....E eu lendo sobre os INTERNATIONALEN FERIENKURSE FÜR NEUE MUSIK DARMSTADT  1946-1966 -Rombach Editora (volume III de quatro volumes...texto em alemão)...Itaperuna..Pausa para a benção espiritual\manual \nietzscheana.....Tijolão do São Nietzsche tava ali do ladinho também....rs....

        Hoje tive a oportunidade de conversar com uma professora de ensino primário, sobre a questão do preconceito demonioso às religiões afros entre as crianças de ensino fundamental e afins. Tal professora também é de raiz cristã e ainda tem seus receios com relação à macumba, candomblé, umbanda e afins. Eu contei a história da minha mãe:
Minha mãe é de raiz portuguesa e meu avô adestrou minha mãe, minhas tias e tios alegando que gente preta são tudo bando de encapetados, sujos, de terceira categoria e afins. Daí minha mãe cresceu odiando os negros. Ela teve a oportunidade de sair da roça e veio morar no Rio para trabalhar e estudar. Ela foi estudar teologia no IBER (atual CIEM) que é uma Instituição da denominação Batista para preparo de mulheres para o serviço catequético missionário. Como complementação dos estudos e ganha pão (pois ela era pobre e sempre tava dura, dura), ela precisava estagiar em igrejas nas comunidades carentes. O IBER designou-a para trabalhar na favela do Jacarezinho (isso lá por meados dos anos 70...Magali mãe do Léo Cunha regia o coro do IBER disse minha mãe)...Minha mãe disse que lá só tinha PRETOS...muitos negões e negonas...Aqueles irmãozinhos afros e humildes, convidavam ela para almoçar na casa deles. Minha mãe disse que às vezes, a barriga roncava de fome, a comida era cheirosa e aparentava ser muito gostosa, mas quando ela sentava na mesa com aquela tropa de negões amorosos e famintos, a fome desaparecia milagrosamente e um nojo se instalava mentalmente. Após a oração de gratidão pelo maná precioso, eles pediam a ela para se servir, e ela sempre inventava uma desculpa que tava com mal estar, ou isso e aquilo e recorria fugaciosamente a santa coca cola. Disse ela, que quando ia almoçar em casa de pessoas diferentes, dava para disfarçar, mas repetia o mesmo procedimentos com variações e fuga, mas e quando tinha que repetir numa casa que já havia convidado-a outrora¿ Haja criatividade..Todo mundo começou achar estranho o comportamento daquela missionária que falava de Jesus, etc, mas que não comia a comida deles...Isso começou a pegar mal...Minha mãe disse q recebeu insights espirituais que apontavam que havia alguma coisa errada ali, mas pedia que Deus tirasse aquele nojo, aquele ódio contra os negros fruto da catequese colonialista de meu avô já falecido nos anos 80.  Deus resolveu tudo, colocando um NEGÃO  (meu pai) na fita dela. Na cara de pau africãnica, ele pediu ela em namoro numa daquelas românticas noites de sextas-feiras onde o IBER abria as portas para pastores aspirantes a Don Ruans que se aproximavam galanteanamente para fisgar afetivamente aquelas carentes e fogocentes mulheres convencionais\confessionais. Minha mãe aceitou, mas recusou, porém, meu pai malandro, deu um gelo daqueles bem gélidos e sumiu do mapa...6 meses depois, aquela branca baixotinha, tava doida atrás do paradeiro daquele negão amoroso, espirituoso e suruboso. Casaram-se fogociosamente e eu nasci fruto de energizações e ebulições frenéticas, sexuais, afetivas, sinistras e esquisitas. Um menino vos nasceu, e um Joe Black que se vos deu (e ele vai será incomodado e incomodante), assim disse o Senhor dos Milagres.
        Porque boa parte dos cristãos (incluindo os evangélicos) sempre demonizaram e criminarizam espiritualmente os orixás, macumbeiros, pais e mães de santo, umbandistas, candomblecistas e outros segmentos afros sem argumentos ou argumentos nunca convincentes? É fácil entender....Porque toda estrutura catequética católica e protestante, tem pano de fundo de colonizadores, portanto, ela foi idealizada para desde as classinhas de EBD, EBF, Primeira Comunhão, etc, adestrarem as crianças auditivamente a demonizarem tudo que é divindade dos negros em nome de uma estrutura judaico-cristã. As crianças crescem ouvindo isso e se tornam adolescentes, jovens, se tornam adultos, casam, tem filhos (os filhos repetem as mesmas coisas em forma de clichês) e continuam vendo demônios através das realidades psíquicas criadas estrategicamente\retoricamente\doutrinariamente pelos catequizadores que estão à serviço de um Sistema Colonizador que se utiliza do Nome de Deus para expulsar tudo aquilo que é pureza, espiritualidade pela ancestralidade afro...
        É necessária muita paciência, desconfiança e vontade de querer mudar para a gente passar a ver divindades nas manifestações vistas outrora como demonicidades e periculosidades espirituais. Eu falei para minha mãe que o mesmo Insight desconfioso que ela teve quanto à discriminação racial, ela precisaria ter para interligar essa experiência intuitiva ao âmbito doutrinário religioso que utiliza a mesma estratégia....É tudo farinha do mesmo saco...Graças a Deus eu tive esse Insight na vida...Se meus pais não tiverem, até eles falecerem,  sem problemas, pois pelo menos, eles venceram o demônio da discriminação racial (que foi um grande passo evolutivo)...Ser Forte é ser forte no limite, pois o que passar deste limite, poderá ser prejudicioso e não edificoso (eles já fizeram a parte deles...o resto é comigo)....A discriminação religiosa (Unilateralidade XIITA RELIGIOSA) e discriminação sexual (marcado por  um Reino Deus exclusivamente heterossexual) já foi vencida por mim...Espero que meus filhos, continuem a desbravar rompendo as fronteiras e barreiras pela divindade da diversidade acolhetiva.
 Um abraço caloroso e jubiloso...
Joe..fruto de um milagre da vencibilidade racial

quarta-feira, 30 de maio de 2012

...E Deus seria muito sacano se Ele submetesse professores, negros, homossexuais e afins à GRANDE TRIBULAÇÃO...



Papeando com uma amiga, ela acha que O Apocalipse de São João ocorrerá no futuro, como força metafórica reveladora...Eu discordei, e aleguei que aquelas metáforas foram utilizadas especificamente como mensagens subliminares em meio as turbulências ameaçadoras do Império Romano. Exemplifiquei: Chico Buarque, Caetano Veloso e outros escreveram metaforicamente e subliminarmente em meio ao contexto perigoso da Ditadura militar no Brasil. Não faz o menor sentido, dizermos que Chico, Caetano e outros estavam profetizando aquilo tudo para daqui 1000 anos...Ou quem futuriza tudo é inocente, ou é consciente, mas quer manipular os outros a partir da estética\estratégia escatológica do medo e da vigilância....Acho que Deus seria muito sacano se Ele submetesse professores (que ganham péssimos salários), negros, homossexuais, pobres, músicos da noite e outros que são oprimidos por forças dominantes ao mito da GRANDE TRIBULAÇÃO...Deus se veria em maus lençóis, porque com certeza, ele teria que conviver com revoltas armadas durante os 1000 anos...E teria o meu apoio...

terça-feira, 29 de maio de 2012

RABI LONGUINI: Por uma Louvação aniversariosa ao REVERENDO CAIPIRA por Excelência





Longuini curtindo um BATUQUE PASCOALINO 


Caro Amigo, Prof. Dr. Reverendo, Caipira, Palmeirense, jubiloso com o batuque pascoalino, Casamentor, zuador e degustador do líquido de Cristo (Degustatividades somente Presbiterianos, Luteranos, Anglicanos, Igreja Cristo em Nietzsche e outros segmentos sagrados e predestinados podem...Batistas? Confessionais? Assembleianos? ...JAMAIS...só o pão tá de bom tamanho...e só...pq têm rabo preso dogmaticamente e aquaticamente).....

Parabéns!!! Feliz aniversário!!!
Que neste dia caipira, você receba aniversariamente todas as bençãos de Deus que também se alegra com a tua caipiricidade. Que no coração de Jaú, o mugido ofegante das vacas italianas e o canto matutino do galo paulistano, elevem as mais singelas lembranças da sua alemosidade brasileira, pois em ti, a pulsividade, profissionalidade, espiritualidade e afetividade se convergem. Que você receba todo o afago amoroso secreto de Luíza, pois bendito é o homem que foi algemado sensualmente pelos braços fogosos de uma mulher suntuosa e virtuosa. Que a tua vida continue sendo regada com as boas oportunidades e celebridades que a vida oferece e que tua simplicidade seja abençoadora e acolhedora, para atrair confraternizativamente os amigos mais queridos e sinistros, pois é na diversidade fraterna, é que a Glória Divina se sinfoniza harmonicamente.
Desejo tudo de bom para você e sua família.
Um abraço carinhoso, caipira, palmeirense, respeitoso,  ...Joe (palmeirense por um dia)...rs
Realmente, foi um prazer INENARRÁVEL trabalhar contigo entre 2008 e 2011 na IPVI-Terra de Noel...O importante é que emoções eu vivi e você também...

Só Ele pra me aturar mesmo...Em 2008, após o rebuliço\confusão na igreja provocado pelo meu texto JESUS E A GANGUE DOS SAMURAIS: UMA HERESIA SEX CINEMATOGRÁFICA, Longuini me ligou muito pau da vida e falou:
Joe seu Maluco! Pára com essa Pô(...) de Samurai porque tá dando Mer(...). aqui na Igreja para mim...Eu te convido e você apronta essas heresias malucas....Seja MÚSICO!!!...deixe a teologia para os lúcidos!!!!!!!!!!!!....Morri de rir...Lon brigava comigo e eu me cagava de rir..ele tb ia junto e disse no final de 2010: Eu e o conselho de presbíteros  nos reunimos e chegamos a uma unânime conclusão: NEM O ESPÍRITO SANTO SEGURA O JOE..só se a gente der um tiro nele para des-heretizar ......KKKKKKKK


Longuini algemando afetivamente\espiritualmente as celebridades a partir de profecias de Gabriel Garcia Marques, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes e outros poetas...




Longuini, filha de Longuini (musa Susana Longuini e seu esposo "norueguês") + outra  loura filé...

Longuini e sua esposa Luíza 

Longuini orando pelo bebê....oração caipirosa prol predestinação espiritual desta inocente criança...
Longuini e seu vinho jaúnense..


Longuini algemando afetivamente\espiritualmente as celebridades a partir de profecias de Gabriel Garcia Marques, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes e outros poetas...

Longuini abençoando afetivamente as ovelhas e ex ovelhas...Casamento do Vitor, membro da IPVI-Terra de Noel onde ele foi pastor...

Longuini, Leonardo Boff e outros intelectuais..

Reverendo Longuini (reverendo Titular) e Reverendo Marquito-Salsicha (Rev. Auxiliar) ...março de 2012....Despedida do Rabi Longuini...Marquito sucedeu Longuini no pastorado na Terra de Noel...Longuini foi claro ao dizer: Aqui, pude aprender um pouco mais sobre mim a partir do contato com vocês....Marquito foi claro: Só estou aqui, graças a mão amiga e elástica do Longuini...ele estendeu a mão no momento muito difícil da minha vida..


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Além de MAMAESAMBAJAZZ, O BATUQUE PASCOALINO entre 2008 e 2010, pudemos realizar estes e outros eventos:
Show realizado em 15 de maio 2010 com musicos convidados:
Rafael Barata, Paulinho Trompete, Júlio Merlino, Jamil Joanes, Diogo Genovez, Joevan Caitano (Joe) , Clayton Rego Lins, Bernadete and Willsiano Sassuí. Good sounds.


Natal samba bell
Musicos: Eduardo Henrique, Berreldi, Marco Tulio , Ari Matea, Fabíola Carvalho, Diogo Genovez...e vozes..coral...





domingo, 27 de maio de 2012

Roland Barthes, Fragmentos do discurso amoroso.



"Ora, só há ausência do outro: é o outro que parte, sou eu que fico. O outro vive em eterno estado de partida, de viagem; ele é, por vocação, migrador, quanto a mim, que amo, sou por vocação inversa, sedentário, imóvel, disponível, à espera, fincado no lugar, não resgatado como um embrulho num canto qualquer da estação. A ausência amorosa só tem um sentido, e só pode ser dita a partir de quem fica - e não de quem parte: eu, sempre presente, só se constitui diante de você, sempre ausente."

Roland Barthes, Fragmentos do discurso amoroso.


JONAS NO PEIXÃO e JESUS no MADEIRÃO: Uma comédia de profetas comparados



JONAS NO PEIXÃO e JESUS no MADEIRÃO: Uma comédia de profetas comparados...(Nem Freud explica, mas Dostoiévski, Nietzsche e José Saramago explicam) Por Joe....

          A narrativa bíblica, diz que o profeta Jonas foi intimado por Deus para pregar as boas novas na monstruosa cidade de Nínive, no entanto, Jonas (bicho morador do interior), teve medo de encarar a selvageria de uma grande metrópole com avenidas, metrôs, trens superlotados, favelas, congestionamentos, assaltos a luz da bíblia, travestis manjubosos nos becos e nas esquinas, espaços culturais promotores de heresias que poriam em risco as verdades já canonizadas pela comodidade, etc, por isso, optou por fugir para Tarso, que era uma cidadezinha beeeeeeeem menor. No meio do percurso fugidio, houve um Tsunami logo na saída daquela embarcação e Jonas foi parar misteriosamente no fundo daquela superfície por profundidade. Alucinado pelo batismo de águas turvas, pediu socorro a um peixe enorme que passeava na beira mar á procura de lazer e visibilidade turística. Teleguiado pelos deuses, aquele peixe hospitalizou Jonas durante 3 dias e 3 noites, com direito a compartilhamento de água potável e sais minerais do estoque secreto daquele animal amoroso, veloz e flutuante. No primeiro dia, Jonas experienciou um estado de inconsciência, no entanto, no segundo dia, foi lhe concedido o poder de reflexão nos braços daquele silêncio eloqüente. Já no terceiro dia, foi lhe dado o privilégio sagrado da libertação suntuosa. A narrativa de Jonas se coaduna com a narrativa da morte, tumuloção, e ressurreição de Jesus que se dá num espaço seqüencial de três dias. O próprio Jesus esteve em alto mar e viu a embarcação dançar perigosamente e freneticamente sobre as águas revoltosas. Judas, Pedro, Tomé, Tiago, André, outros discípulos e pescadores que viajavam de classe super econômica, além de outros playboizinhos e patricinhas que estavam hospedados em camarotes de luxo e luxúria, gritaram atonalmente no ouvido do Mestre, mas aquele sacro Rabi pediu a todos que orassem tonalmente, pois o resto ele faria.

[...] E os pescadores, todos olhavam para Jesus, calados de assombro, apesar do estrondo da tempestade tinham ouvido os gritos, Cala-te, Aquieta-te, e ali estava ele, Jesus,o homem que gritara, o que ordenava aos peixes que saíssem das águas para os homens, o que ordenava às águas que não levassem os homens para os peixes. (José Saramago, 2001, página 336).
          Tanto Jonas como Jesus, sentiram-se abandonados em algum momento da existência, pois a angústia é fundo constitutivo da vida e ela nos devolve a solidão criativa e\ou reparadora através da experiência amarga do ENSOZINHAMENTO. “Na solidão. – Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto: pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes soam diferentes na solidão!” (NIETZSCHE, Friedrich, 2001, página, 168).
          
          Tanto Jonas na barriga e pós-barriga peixânica como Jesus durante o ministério pré-cruz, durante a cruz e pós-cruz, ouviram a sublime voz do Espírito Santo em forma estímulo reflexivo dostoievskianico e pregaram sobre este estímulo alertativo em forma de Boas Novas para os povos:

“Não tenhas medo de nada, e nunca tenhas medo, nem caias em melancolia. Desde que o arrependimento não míngüe em tua alma, Deus perdoará tudo. E ademais não há nem pode haver em toda a terra tamanho pecado que o Senhor não perdoe àquele que em verdade se arrepende. Além disso, um homem não pode absolutamente, cometer um pecado tão grande que esgota o infinito amor de Deus. Ou será que pode haver um pecado capaz de superar o amor divino? Preocupa-te apenas com o arrependimento, sempre, e quanto ao medo, afugenta-o de todo”. (Dostoievski, 2009, página 82).

BIBLIOGRAFIA
DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Os Irmãos Karamázov. Tradução de Paulo Bezerra (2. Volumes). Rio de Janeiro: Editora 34, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução. Notas e Posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.
SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.

Grupo PRELÚDIO 21: Uma tarde de fraternidade, musicalidade e circo de novo som Apocalíptico.




Fotografias: Alexandre Chaves





PRELÚDIO 21 em maio de 2012: Uma tarde de fraternidade, musicalidade e circo de novo som Apocalíptico.

Toda felicidade que há na terra,
Meus amigos, vem da luta!
Sim, a amizade requer
Os vapores da pólvora!
Em três coisas se unem os amigos:
São irmãos na miséria,
Iguais ante o inimigo,
E livres diante da morte!

NIETZSCHE 

[...] Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável “calmaria” da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio é vulgar: assim como é vulgar trabalhar sem prazer.[...]
NIETZSCHE 

“Todo espírito criador, olha baixo, olha manso, olha abençoador”. (NIETZSCHE)

       
        Estive no concerto do grupo PRELÚDIO 21, realizado no Centro Cultural da Justiça Federal do Rio, na tarde de 26 de maio de 2012. Carlos Drummond de Andrade iria adorar, pois re-evocaria toda a musicalidade de seu célebre poema Tarde de Maio.
        Sergio Roberto de Oliveira, compositor integrante deste grupo, subiu e disse que quando o grupo foi formado em 1998, os compositores escreviam as peças para a formação que desejavam, e convidavam os músicos para executarem aquelas peças com formações diversificadas. Ele explicou que posteriormente, o grupo mudou a tática, e ao invés, de cada um mapear o que queria, o grupo passou a convidar formações já consagradas e todos os compositores escreviam para aquela formação específica e faziam um concerto com peças distintas, mas delimitada a uma formação única de intérpretes definidos. Num dos concertos, lembro-me que convidaram o Duo Santoro para tocarem várias peças de vários compositores do grupo.


          Isso me lembra o excelente filme SOBRE CAFÉS E CIGARROS. Neste filme, o diretor Jim Jarmusch utiliza apenas os elementos café e cigarros para criar 11 curtas metragens dentro de um longa-metragem, e os atores diferentes e intercambiáveis discutem diversos temas mutantes, no entanto, o café e o cigarro permanecem como força estética onipresente durante todo o concerto de imagens e sons. Sergio Roberto frisou que aquela tarde era mágica, pois o concerto daquele fragmento do instante teria a participação de vários compositores e de várias formações e isso, lembrava a proposta inicial do grupo. Roberto falou de uma lembrança histórica que evoca retroações inventivas, pois recordar é preciso, lamentar não é preciso. Nietzsche exalta essa reviravolta no chão da história ao escrever em A Gaia Ciência:
Historia abscondita [História oculta]. – Todo grande homem exerce uma força retroativa toda a história é novamente posta na balança por causa dele, e milhares de segredos do passado abandonam seus esconderijos – rumo ao sol dele. Não há como ver o que ainda se tornará história. Talvez o passado ainda esteja essencialmente por descobrir! Tantas forças retroativas são ainda necessárias! (NIETZSCHE, Friedrich, 2001, página, 81)

        Após revirar retoricamente pelo prelúdio das palavras, Roberto desapareceu sutilmente do palco para abrir espaço para o divertido Alexandre Schubert que surgiu na clareira das sombras e luzes, portando um chapéu-tôca simples, colorido e cômico.
 Que bunitinho né??.....!!!!!


          Seguiu-se a entrada triunfal de jovens instrumentistas trajando indumentárias vívidas e festivas que somado a execução da peça Circo Brasileiro – A retreta do Apocalipse elevou-nos discretamente a condição de risadores e apreciadores. Henri Bérgson em seu livro O RISO - Ensaio sobre a significação da comicidade escreveu sobre a importância do riso como restaurador da vida.


          Vivacidade e gozoalidade marcaram aqueles pulsantes momentos em que pudemos escutar claramente numa peça schubertiana, um acorde perfeito maior, em forma de exercício pleno da liberdade da ludicidade interior, pois dentro de todos nós adultos, habita e co-habita uma jovialidade pura e tonal. Então, Alexandre Schubert assinalou que São João foi para a Ilha de Patmos, mas infelizmente só viu cavalos brancos, anciãos estressados com espadas flamejantes nas mãos e  poetizou tudo o que viu e o que não viu com muita ferocidade escatológica nas entrelinhas do Império Romano. Saturado com tanta alegoria futurística interpretativa\manipulativa efetuadas por muitos pseudos filólogos e exegetas na modernidade, São Schubert e seus intérpretes resolveram ir para a Ilha do Nada, e ficaram quietos, pois a espera é um à toa muito ativo. Quando as idéias chegaram (elas vem quando elas querem), São Schubert e companhia sonorizada, apenas lapidaram o que viram e ouviram, e escreveram: “Os nossos pensamentos são os nossos sentimentos, pois somos ungidos pelo afeto criativo acolhetivo, pois sabemos que os afetivos vêem coisas que os apáticos não vêem". E encerram citando um trecho do livro ANTICRISTO de Friedrich Nietzsche: “O Reino de Deus não é nada que se espere; não possui ontem, nem depois de amanhã, não virá em ‘mil anos’; está em toda parte, está em nenhum lugar...”. Para que a mensagem prol arte da criatividade atemporal fosse entendida por nós expectadores, foi necessário que Schubert “caricaturasse” aquela peça musical, pois ele sabe que o caricaturista é o demônio que expande tudo o que Deus insinuou querer fazer, mas não foi capaz de fazer. Por exemplo: A fotografia erra porque acerta, no entanto, a caricatura acerta porque erra, porque exagera. O mais legal de tudo foi ver a esposa de São Schubert interrompendo o maridão nos momentos pré-execução musical, para testemunhar coletivamente que foi vítima de assédio sonoro, pois Schubert levitando no mundo da lua acordou ela às 3 horas da madrugada intimando-a afetivamente a apreciar auditivamente aquele batuque da alegria pós-moderna. É interessante frisar que, quando o poeta, filósofo, músico, ou outro artista, está em processo de criação, ele é possuído por uma força organizadora, mostradora de alguma situação.
        Após o baile circense da fogocidade jubilosa criativa, foi à vez do compositor Marcos Lucas se apoderar vocalmente do microfone para esclarecer de forma sucinta sobre a peça Aforismos II.

          Ele foi claro e didático ao dizer que pensou em algo conciso e compactado, pois quem aforisma (verbo aforismar), precisa dominar a arte do erdichten (poetizar na língua alemã), que implica em capacidade artística de condensar uma multiplicidade informacional, num campo criativo\perceptivo bastante de\limitado, pois estilo, é forma e conteúdo e pode ser entendido também como gênese e modo de ser. Sobre isso, Oscar Wilde nos brinda com esta convincente citação: “Trabalhando dentro dos limites, que o mestre se revela e a limitação é a condição mesma de toda a arte, é o estilo” (Goethe citado por Oscar Wilde, 2007, página 1080). Convém mencionar também, que Nietzsche, o grande mestre desta técnica e portador do grande estilo condensativo, dizia que precisava apenas de um aforismo para dizer tudo o que os outros escritores gastavam um livro inteiro para não dizer. Essa linda peça estruturada em 3 movimentos, inspirada em 3 fragmentos poéticos, foi muito bem executada\interpretada pelo pianista Antônio Ziviani e pelo clarinetista Thiago Tavares. 

          Cabe ressaltar, que a figura dos intérpretes é muito importante, porque além de recriarem as peça, eles promovem a reconstrução dos processos mentais de quem escreveu as peça.
          A próxima peça a ser executada foi a do compositor José Orlando Alves.
Orlando está residindo na Paraíba, mas enviou uma gravação onde ele explica sobre detalhes panorâmicos daquela peça. Aquela voz paraibânica, se tornou a presença de uma ausência, mas todos nós ficamos sabendo que aquela peça chamada de Invariâncias, pertencia a um grupo de 33 peças, compostas durante o doutoramento dele na UNICAMP. Ele esclareceu que todas as 33 partes, podem ser tocadas de forma aleatória. A pianista Sara Cohen sentou-se majestosamente naquele piano negro e começou a dedilhar de forma feminina, aquelas teclas, e seduzindo paulatinamente e intensamente cada nota, cada frase, cada arpejo, cada “acorde”, cada ataque, cada movimentação do corpo e da alma, nos elevou as guaritas mais secretas e sensíveis com a força de exuberantes asas da pianicidade ebulitiva interior.
Sara Cohen sentada e ligada...uma diva da pianicidade expressiva...


          Todas as Quintas, do compositor Caio Senna, é o nome da peça que sucedeu no fluxo daquela programação. Segundo o porta-voz senniano, aquela peça foi inspirada nas aulas que Caio fazia com uma professora as quintas feiras (direto do túnel do tempo) e também nas obras do pianista Bill Evans que usava bastante intervalos de quinta. Linda composição e Sara Cohen mais uma vez sensualizou o piano de forma singela e amorosa ao executar aquela obra a partir de uma consangüinidade espiritual em sintonia mental com o compositor. “Quando duas pessoas fazem amor, não estão apenas fazendo amor, mas elas estão dando corda ao relógio do mundo”. (Mario Quintana)
          Subitamente, subiu naquele palco demonstrativo, uma mulher portadora de simpaticidade visual que emitia vocalizações portuguesas com sotaque americanizado. Era a simpática e alegre compositora americana Rami Levin.

 Ela explicou que a peça Shiramina composta em 4 movimentos foi denominada SHIRAMINA, pois é a combinação do nome das três irmãs dela (Shira, Rami e Hanina) e cada movimento caracteriza sonoramente o timbre de cada uma delas. O quarto movimento é a junção das vozes de todas as 3 irmãs, onde há convergência de todas as vozes numa simbiosidade tímbrica e e celeste, pois Shiramina é evocação de presenças, pois nomear é trazer à presença; é fazer-se; é mostrar-se. Rami Levin sabe muito bem que as coisas não tem apenas significado, mas elas têm presença. [...] “Basta criar novos nomes, avaliações e probabilidades para, a longo prazo, criar novas ‘coisas’”. (Friedrich Nietzsche, 2001, página 96). Essa belíssima obra para 3 flautas, foi executada pelos excelentes flautistas Maycon Lack, Rudi Garrido e Maria Carolina Cavalcanti.
          Dando continuidade aqueles momentos de curiosidade auditiva e visual, o compositor carioca-indígena Pauxy Gentil-Nunes foi convocado para explicar sobre a peça Jonas. Com uma voz portadora de doçura, loucura e ternura, ele esclareceu que um gringo (regente inglês amigo dele) ficou encantado com as estátuas de Congonhas de Aleijadinho, então, ele pediu que Pauxy escrevesse uma peça baseado no mito do PEIXÃO que engoliu Jonas.



          A narrativa bíblica, diz que o profeta Jonas foi intimado por Deus para pregar as boas novas na monstruosa cidade de Nínive, no entanto, Jonas (bicho morador do interior), teve medo de encarar a selvageria de uma grande metrópole com avenidas, metrôs, trens superlotados, favelas, congestionamentos, assaltos a luz da bíblia, travestis manjubosos nos becos e nas esquinas, espaços culturais promotores de heresias que poriam em risco as verdades já canonizadas pela comodidade, etc, por isso, optou por fugir para Tarso, que era uma cidadezinha beeeeeeeem menor. No meio do percurso fugidio, houve um Tsunami logo na saída daquela embarcação e Jonas foi parar misteriosamente no fundo daquela superfície por profundidade. Alucinado pelo batismo de águas turvas, pediu socorro a um peixe enorme que passeava na beira mar á procura de lazer e visibilidade turística. Teleguiado pelos deuses, aquele peixe hospitalizou Jonas durante 3 dias e 3 noites, com direito a compartilhamento de água potável e sais minerais do estoque secreto daquele animal amoroso, veloz e flutuante. Segundo Pauxy, no primeiro dia, Jonas experienciou um estado de inconsciência, no entanto, no segundo dia, foi lhe concedido o poder de reflexão nos braços daquele silêncio eloqüente. Já no terceiro dia, foi lhe dado o privilégio sagrado da libertação suntuosa. A narrativa de Jonas se coaduna com a narrativa da morte, tumuloção, e ressurreição de Jesus que se dá num espaço seqüencial de três dias.  O próprio Jesus esteve em alto mar e viu a embarcação dançar perigosamente e freneticamente sobre as águas revoltosas. Judas, Pedro, Tomé, Tiago, André, outros discípulos e pescadores que viajavam de classe super econômica, além de outros playboizinhos e patricinhas que estavam hospedados em camarotes de luxo e luxúria, gritaram atonalmente no ouvido do Mestre, mas aquele sacro Rabi pediu a todos que orassem tonalmente, pois o resto ele faria.

[...] E os pescadores, todos olhavam para Jesus, calados de assombro, apesar do estrondo da tempestade tinham ouvido os gritos, Cala-te, Aquieta-te, e ali estava ele, Jesus,o homem que gritara, o que ordenava aos peixes que saíssem das águas para os homens, o que ordenava às águas que não levassem os homens para os peixes. (José Saramago, 2001, página 336).

          Tanto Jonas como Jesus, sentiram-se abandonados em algum momento da existência, pois a angústia é fundo constitutivo da vida e ela nos devolve a solidão criativa e\ou reparadora através da experiência amarga do ENSOZINHAMENTO. Na solidão. – Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto: pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes soam diferentes na solidão!” (NIETZSCHE, Friedrich, 2001, página, 168).
          Tanto Jonas na barriga e pós-barriga peixânica como Jesus durante o ministério pré-cruz, durante a cruz e pós-cruz, ouviram a sublime voz do Espírito Santo em forma estímulo reflexivo dostoievskianico e pregaram sobre este estímulo em forma de Boas Novas para os povos:

“Não tenhas medo de nada, e nunca tenhas medo, nem caias em melancolia. Desde que o arrependimento não míngüe em tua alma, Deus perdoará tudo. E ademais não há nem pode haver em toda a terra tamanho pecado que o Senhor não perdoe àquele que em verdade se arrepende. Além disso, um homem não pode absolutamente, cometer um pecado tão grande que esgota o infinito amor de Deus. Ou será que pode haver um pecado capaz de superar o amor divino¿ Preocupa-te apenas com o arrependimento, sempre, e quanto ao medo, afugenta-o de todo”. (Dostoievski, 2009, página 82).
  
          Pauxy explicou que a peça Jonas foi escrita estrategicamente na tonalidade de Si Menor, pois segundo ele, os compositores barrocos, consideravam os dois sustenidos (# #) da armadura de clave os dois ladrões e o Lá sustenido (Lá #) da notação germânica era pensada e credibilizada como o ALFA, isto é, Jesus, por isso, o lá# sustenido aparecia em todo fluxo sonoro daquela peça, como uma onipresença estética. Aquela peça para piano, em três movimentos, foi executada pela competente pianista Kátia Baloussier. A loura Kátia deu um show de profissionalismo, clareza sonora e dinamismo pianistico, pois ao olhar para aquela partitura, ela soube conduzir solenemente as idéias gráficas na carruagem do ritmo, porque habitualmente, elas não conseguem andar sozinhas
.
Baixinha, porém, expressiva, sensível e virtuosa no paraíso da pianicidade...
       
          Aquele ambiente de Clareira, portadora de Luz e Sombras, cedeu à escuridão enigmática, pois um telão desceu do alto, e ficamos em ociosa expectativa perante aquela tela 333333333 ...D. Aos poucos, conglomerados de números passeavam afetuosamente perante nossos olhares atenciosos que suportavam a intensificação daquele tráfego de números que nos assediavam visualmente através da força esquisita de uma numerologia movente. O experiente compositor Neder Nassaro, nos presenteou naquela tarde graciosa, com a peça Números Complexos para vídeo e música, nos estimulando a pensar escutativamente através de imagens em movimento.

 Sou instigado, logo existo. Achei bem interessante aquela peça, apesar de não compreender toda aquela numeratividade acusmática, pois ser forte é ser forte no limite, pois o que passa deste limite, se torna arrogância, pedantismo e presunção intelectual. Quando coincide com o seu limite, o homem fica forte, porque, o máximo de força se dá quando nos colocamos no nosso limite. Nietzsche, em seu livro A Gaia Ciência, aforismo nº 195, sinaliza sobre Limites de nossa escuta. – Ouvimos apenas as questões para as quais somos capazes de encontrar resposta.” (Nietzsche, 2001, página 171).
          Apenas ouvi de forma inocente e despretenciosa, pois reconheço que naquela avenida de signos sonoros visuais, há uma experiência de escrita com sangue, pois quem escreve com sangue, sabe que sangue é espírito, é pathos, é experiência da alma.

“Por mais que alguém reduza a experiência da composição a esquemas formais ou noções verbais, lógicas, acústicas ou matemáticas, não descreve o fundo dessa experiência fundamental tão semelhante a fazer uma represa. Porque a isso se resume, no fim de contas, o trabalho de composição: achar um local apropriado, algumas pedras, colocar umas aqui, algumas outras mais para lá etc.” [...] (CAESAR, Rodolfo, 2008, página 59).

          Para finalizar, àquela tarde de confraternização entre amigos, compositores, intérpretes, conhecidos convidados e desconhecidos convidados, o compositor Sergio Roberto de Oliveira expôs de forma pueril sobre o período de gravidez musical da peça Suíte para Cordas.

Segundo ele, esta obra foi composta durante as noites em que ele embalava a filha dele, enquanto a ex-esposa já havia se recolhido ao mundo misterioso do sono. Ele se emocionou quando dedicou este filho musical a outra pessoa que ele tanto ama. Roberto lacrimejou sutilmente e a engasgou bruscamente, não conseguindo emitir mais nenhuma palavra, pois as palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler. A Suíte para cordas, contém 6 movimentos, sendo que cada movimento foi construído baseado num intervalo específico. Ao escutá-la, me lembrei de uma peça para orquestra de cordas escrita pelo compositor e arranjador Claus Ogermann. Confira aqui o som desta magnífica peça construída com muito bom gosto:

        A Suíte de Roberto foi executada pela Camerata do Rio de Janeiro, sob a regência do jovem músico Pedro Borges, (meu colega da minha turma de Licenciatura em Música na EM-UFRJ 2004-2007) que emitiu gestos simples e nobres na condução daqueles sensíveis músicos.


         Ao término daquele concerto, fomos convidados a tomar um bom vinho regado a um bom papo com aquelas pessoas que ali se fizeram presentes. Saí daquele teatro consciente de que música como arte promove um imenso diálogo que se processa em escala universal, e nesse diálogo, cada compositor e intérprete nacional acrescenta peculiaridades de sua história e de sua cultura a temas já representados em obras de outros países e em outras épocas, às vezes bem distantes. Fico feliz, pois esse grupo de compositores do Prelúdio 21, há mais de 12 anos, vem promovendo concertos que dignificam os ouvidos de pessoas ávidas pela música de concerto contemporânea. Esta força artística, proativa, realizadora, só é possível, porque esses desbravadores estão interessados em levar a obra de arte ao paraíso da plenitude pela realização prazerosa e singular. Nas Cartas sobre o humanismo, Martin Heidegger, fala sobre esse aspecto da ação intensificadora:

“Desde há muito que ainda não se pensa, com bastante decisão, a Essência do agir. Só se conhece o agir com a produção de um efeito, cuja efetividade se avalia por sua utilidade. A Essência do agir, no entanto, está em con-sumar. Con-sumar quer dizer: Conduzir uma coisa ao sumo, à plenitude de sua Essência. Levá-la a essa plenitude, procedure.” (Heidegger, 2009, páginas 23 e 24)

         Papeei um pouco com o Pauxy e a compositora Rami Levin, dei um alô para o Marcos Lucas, Neder Nassaro, Roberto e outros, e voltei para minha casa com sensação de tarde sabática felicíssima. Meus sinceros parabéns para este grupo de experientes, competentes e convincentes compositores em terra carioca.
         Com carinho, respeito e devaneios descritivos...
Joe


Joevan Caitano é Mestre em Musicologia pela Escola de Música da UFRJ com a dissertação EDUCAÇÃO COM “MÚSICA UNIVERSAL” NA PRO ARTE UMA ESTÉTICA ITIBEREANA DO FAZER COLETIVO.
Em 2011, Joevan Caitano foi convidado a doutorar-se na Ludwig Maximilian Universität em Munique no depto de Musikpädagogik visando desenvolver uma pesquisa de método comparado utilizando o tema (prol tese)
Cursos Internacionais de Férias para ensino e divulgação de Neue Musik em Darmstadt no ano de 1951: Convergências entre os Aspectos Musicais e procedimentos pedagógicos do pós-guerra e o pensamento artístico de Hans-Joachim Koellreutter no Brasil.


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA PARA PRELUDIAR DESCRITIVAMENTE.

BERGSON, Henri. O riso – ensaio sobre a significação da comicidade. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CAESAR, Rodolfo. Hermetologia in: Círculos Ceifados.  Rio de Janeiro: 7 LETRAS\FAPESP,  2008.
DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Os Irmãos Karamázov. Tradução de Paulo Bezerra (2. Volumes). Rio de Janeiro: Editora 34, 2009.
HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução. Notas e Posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo.http://www.lusosofia.net/textos/nietzsche_friedrich_o_anticristo.pdf acessado em 27\05\2012.
SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.
WILDE, Oscar. A decadência da mentira\Ensaios. Em: Obra Completa. Volume Único. Rio de Janeiro: Nova Aguila, 2007.

As traças e a poeira nos chifrarão com suas manjubas discretas e fométicas...



Eu tenho um montao de livros para ler, por isso, vou lendo devagar. Realmente, a internet consome nosso tempo, mas ela é um mal necessário. É só a gente saber administrar a poligamia informacional para arrumar tempo para as coisas da net e para as coisas dos livros de papel. Os livros são minhas mulheres de cartório, a net e seus PDFs, e-books, facebook, youtube, google e afins, são minhas concubinas.O lance é sexualizarmos oticamente fora de casa e quando chegar em casa, sentar na poltroninha e nãoo deixar a peteca cair durante as sexualizações com as folhas e brinquedos de papel marche, senão senão...As traças e a poeira nos chifrarão com suas manjubas discretas e fométicas...

Joe...33 cm de leitura elástica, intensa e conversível

sábado, 26 de maio de 2012

Carlos Drummond de Andrade (Arquivo N, Globo News) (vídeo)



Drummond de Andrade
Especial sobre a vida e obra de Carlos Drummond de Andrade exibido no canal Globo News, programa Arquivo N, em 08/2007, parte 1 de 3
Parte 1

Parte 2
Parte 3

Opiário: Em busca do consolo num Oriente ao oriente do Oriente. (Álvaro de Campos - Fernando Pessoa)



Álvaro de Campos 
 

                                          Opiário 
  
                                             Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro
                             É antes do ópio que a minh'alma é doente. 
                             Sentir a vida convalesce e estiola 
                             E eu vou buscar ao ópio que consola 
                             Um Oriente ao oriente do Oriente.
                             Esta vida de bordo há-de matar-me. 
                             São dias só de febre na cabeça 
                             E, por mais que procure até que adoeça, 
                             já não encontro a mola pra adaptar-me.
                             Em paradoxo e incompetência astral 
                             Eu vivo a vincos de ouro a minha vida, 
                             Onda onde o pundonor é uma descida 
                             E os próprios gozos gânglios do meu mal.
                             É por um mecanismo de desastres, 
                             Uma engrenagem com volantes falsos, 
                             Que passo entre visões de cadafalsos 
                             Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
                             Vou cambaleando através do lavor 
                             Duma vida-interior de renda e laca. 
                             Tenho a impressão de ter em casa a faca 
                             Com que foi degolado o Precursor.
                             Ando expiando um crime numa mala, 
                             Que um avô meu cometeu por requinte. 
                             Tenho os nervos na forca, vinte a vinte, 
                             E caí no ópio como numa vala.
                             Ao toque adormecido da morfina 
                             Perco-me em transparências latejantes 
                             E numa noite cheia de brilhantes, 
                             Ergue-se a lua como a minha Sina.
                             Eu, que fui sempre um mau estudante, agora 
                             Não faço mais que ver o navio ir 
                             Pelo canal de Suez a conduzir 
                             A minha vida, cânfora na aurora.
                             Perdi os dias que já aproveitara. 
                             Trabalhei para ter só o cansaço 
                             Que é hoje em mim uma espécie de braço 
                             Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.
                             E fui criança como toda a gente. 
                             Nasci numa província portuguesa 
                             E tenho conhecido gente inglesa 
                             Que diz que eu sei inglês perfeitamente.
                             Gostava de ter poemas e novelas 
                             Publicados por Plon e no Mercure, 
                             Mas é impossível que esta vida dure. 
                             Se nesta viagem nem houve procelas!
                             A vida a bordo é uma coisa triste, 
                             Embora a gente se divirta às vezes. 
                             Falo com alemães, suecos e ingleses 
                             E a minha mágoa de viver persiste.
                             Eu acho que não vale a pena ter 
                             Ido ao Oriente e visto a índia e a China. 
                             A terra é semelhante e pequenina 
                             E há só uma maneira de viver.
                             Por isso eu tomo ópio. É um remédio 
                             Sou um convalescente do Momento. 
                             Moro no rés-do-chão do pensamento 
                             E ver passar a Vida faz-me tédio.
                             Fumo.  Canso.  Ah uma terra aonde, enfim, 
                             Muito a leste não fosse o oeste já! 
                             Pra que fui visitar a Índia que há 
                             Se não há Índia senão a alma em mim?
                             Sou desgraçado por meu morgadio. 
                             Os ciganos roubaram minha Sorte. 
                             Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte 
                             Um lugar que me abrigue do meu frio.
                             Eu fingi que estudei engenharia. 
                             Vivi na Escócia.  Visitei a Irlanda. 
                             Meu coração é uma avòzinha que anda 
                             Pedindo esmola às portas da Alegria.
                             Não chegues a Port-Said, navio de ferro! 
                             Volta à direita, nem eu sei para onde. 
                             Passo os dias no smokink-room com o conde - 
                             Um escroc francês, conde de fim de enterro.
                             Volto à Europa descontente, e em sortes 
                             De vir a ser um poeta sonambólico. 
                             Eu sou monárquico mas não católico 
                             E gostava de ser as coisas fortes.
                             Gostava de ter crenças e dinheiro, 
                             Ser vária gente insípida que vi. 
                             Hoje, afinal, não sou senão, aqui, 
                             Num navio qualquer um passageiro.
                             Não tenho personalidade alguma. 
                             É mais notado que eu esse criado 
                             De bordo que tem um belo modo alçado 
                             De laird escocês há dias em jejum.
                             Não posso estar em parte alguma. 
                             A minha Pátria é onde não estou.
                             Sou doente e fraco. 
                             O comissário de bordo é velhaco. 
                             Viu-me co'a sueca...  e o resto ele adivinha.
                             Um dia faço escândalo cá a bordo, 
                             Só para dar que falar de mim aos mais. 
                             Não posso com a vida, e acho fatais 
                             As iras com que às vezes me debordo.
                             Levo o dia a fumar, a beber coisas, 
                             Drogas americanas que entontecem, 
                             E eu já tão bêbado sem nada!  Dessem 
                             Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.
                             Escrevo estas linhas.  Parece impossível 
                             Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta! 
                             O fato é que esta vida é uma quinta 
                             Onde se aborrece uma alma sensível.
                             Os ingleses são feitos pra existir. 
                             Não há gente como esta pra estar feita 
                             Com a Tranqüilidade.  A gente deita 
                             Um vintém e sai um deles a sorrir.
                             Pertenço a um gênero de portugueses 
                             Que depois de estar a Índia descoberta 
                             Ficaram sem trabalho.  A morte é certa. 
                             Tenho pensado nisto muitas vezes.
                             Leve o diabo a vida e a gente tê-la! 
                             Nem leio o livro à minha cabeceira. 
                             Enoja-me o Oriente. É uma esteira 
                             Que a gente enrola e deixa de ser bela.
                             Caio no ópio por força.  Lá querer 
                             Que eu leve a limpo uma vida destas 
                             Não se pode exigir.  Almas honestas 
                             Com horas pra dormir e pra comer,
                             Que um raio as parta!  E isto afinal é inveja. 
                             Porque estes nervos são a minha morte. 
                             Não haver um navio que me transporte 
                             Para onde eu nada queira que o não veja!
                             Ora!  Eu cansava-me o mesmo modo. 
                             Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali 
                             Para sonhos que dessem cabo de mim 
                             E pregassem comigo nalgum lodo.
                             Febre!  Se isto que tenho não é febre, 
                             Não sei como é que se tem febre e sente. 
                             O fato essencial é que estou doente. 
                             Está corrida, amigos, esta lebre.
                             Veio a noite.  Tocou já a primeira 
                             Corneta, pra vestir para o jantar. 
                             Vida social por cima!  Isso!  E marchar 
                             Até que a gente saia pla coleira!
                             Porque isto acaba mal e há-de haver 
                             (Olá!) sangue e um revólver lá pró fim 
                             Deste desassossego que há em mim 
                             E não há forma de se resolver.
                             E quem me olhar, há-de-me achar banal, 
                             A mim e à minha vida... Ora! um rapaz... 
                             O meu próprio monóculo me faz 
                             Pertencer a um tipo universal.
                             Ah quanta alma viverá, que ande metida 
                             Assim como eu na Linha, e como eu mística! 
                             Quantos sob a casaca característica 
                             Não terão como eu o horror à vida?
                             Se ao menos eu por fora fosse tão 
                             Interessante como sou por dentro! 
                             Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro. 
                             Não fazer nada é a minha perdição.
                             Um inútil.  Mas é tão justo sê-lo! 
                             Pudesse a gente desprezar os outros 
                             E, ainda que co'os cotovelos rotos, 
                             Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!
                             Tenho vontade de levar as mãos 
                             À boca e morder nelas fundo e a mal. 
                             Era uma ocupação original 
                             E distraía os outros, os tais sãos.
                             O absurdo, como uma flor da tal Índia 
                             Que não vim encontrar na Índia, nasce 
                             No meu cérebro farto de cansar-se. 
                             A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...
                             Deixe-me estar aqui, nesta cadeira, 
                             Até virem meter-me no caixão. 
                             Nasci pra mandarim de condição, 
                             Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.
                             Ah que bom que era ir daqui de caída 
                             Pra cova por um alçapão de estouro! 
                             A vida sabe-me a tabaco louro. 
                             Nunca fiz mais do que fumar a vida.
                             E afinal o que quero é fé, é calma, 
                             E não ter estas sensações confusas. 
                             Deus que acabe com isto!  Abra as eclusas — 
                             E basta de comédias na minh'alma!