quinta-feira, 19 de abril de 2012

A função do artista através da metáfora da árvore (por Paul Klee-pintor alemão do séc XX)


Por Paul Klee (pintor alemão do séc XX)        

Deixem-me usar uma metáfora, a metáfora da árvore. Pelo que podemos supor, o artista dedicou toda a sua atenção a esse mundo multiforme, e de alguma maneira encontrou seu caminho nele. Com toda calma. Ele tem um senso de orientação tão bom que é capaz de organizar a passagem fugidia dos fenômenos e das experiências. Essa orientação nas coisas da natureza e da vida, essa organização ramificada e diversificada, é o que eu gostaria de comparar à raiz da árvore.
          Dessa raiz afluem para o artista as seivas vitais que vão passar atravé dele e através dos seus olhos.
         Portanto ele ocupa o lugar do tronco.
        Pressionado e movido pelo poder daquele fluxo, ele encaminha o que foi vislumbrado para a obra.
        Assim como a copa da árvore se desdobra visivelmente para todos os lados, no tempo e no espaço, a mesma coisa acontece no caso da obra de arte.
          Ninguém pensaria em exigir da árvore que produzisse uma copa exatamente igual à raiz. Todos entendem que não pode existir uma relação de espelhamento entre a parte de baixo e a de cima. É claro que as diferentes funções, em diferentes domínios elementares, têm que produzir divergências vitais.
         Mas acontece que, no caso do artista, muitas vezes pretendem proibir justamente essas divergências em relação ao seu ponto de partida, contrariando uma necessidade plástica. Chegam ao cúmulo de acusá-lo de ser um incapaz e um falsificador intencional.
         Contudo, ocupando o lugar que lhe cabe – no tronco da árvore -, tudo o que ele faz é recolher e encaminhar aquilo que vem das profundezas da terra. Não servir nem dominar; apenas comunicar.
        Portanto ele assume uma posição realmente humilde. E a beleza da copa não lhe pertence, apenas passa através dele.

Informações extraídas de:
KLEE, Paul. Sobre a arte moderna e outros ensaios. Prefácio e notas: Günther Regel. Tradução: Pedro Süsskind. Revisão técnica: Cecília Cotrim. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, páginas 52 e 53


Para maiores informações sobre este livro, acesse o link.
http://filmesdejoe.blogspot.com.br/2012/02/sobre-arte-moderna-e-outros-ensaios.html


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