domingo, 20 de maio de 2012

GOZU...filme japonês. Diretor: Takashi Miike, (filme sobre a máfia japonesa)



" Quem gosta dos universos de David Lynch e David Cronenberg, repletos de acontecimentos que desafiam explicações racionais e de cenas impactantes, certamente irá se interessar pelo filme que a Zona Livre – Mostra Internacional de Cinema trouxe com exclusividade ao Rio de Janeiro: Gozu, do diretor japonês Takashi Miike. Foi uma oportunidade rara de ver na tela do cinema o estilo criativo de Miike, normalmente com circulação restrita à internet.



 
“Takashi Miike é um dos cineastas mais produtivos de todos os tempos: dos anos 1990 até agora, são cerca de 80 filmes na bagagem. Seu trabalho raramente é lançado ou exibido em mostras no Brasil, fazendo com que a internet se torne o melhor meio a variedade da sua arte. Gozu, a exemplo de grande parte da sua obra, trata sobre a máfia japonesa. Mas o que mais chama a atenção neste filme é o surrealismo acrescentado à história, onde o protagonista está tão positivamente perdido quanto aqueles que o assistem. Miike deixa um pouco de lado neste filme a sua usual violência, mas cria cenas que, dificilmente, irão existir em outros filmes que não nos seus.” – Davi Pretto e Bruno Carboni, curadores Zona Livre


Mesmo possuindo diferenças que o distanciam dos diretores citados, Miike apresenta diversos aspectos em sua filmografia que validam a analogia, em especial a fascinação por representações do subconsciente, a liberdade de limitações estruturais e a quebra de tabus sexuais. Assim como os outros cineastas, sem a necessidade de fornecer explicações lógicas para todos os acontecimentos, Miike, quando quer, se permite adentrar o mais puro surrealismo para contar suas histórias, normalmente inventivas, liberais e delirantes, apesar de conseguirem sustentar uma narrativa “lógica”. A exploração das relações familiares e o grande uso violência são marcas carimbadas nas realizações do diretor, cujo nome é constantemente relacionado ao cinema transgressor e ao Gore, estilo que abusa do sangue e de conteúdos chocantes e detém uma certa natureza mórbida.
Apesar de ser reconhecido principalmente pelas obras violentas, Miike afirma que não gosta particularmente da violência e que se dedica aos mais diversos gêneros cinematográficos. Para quem conhece o diretor, isso pode parecer engraçado, mas não tão improvável, levando-se em conta a quantidade de filmes que ele produz. Miike é um diretor prolixo, um dos mais produtivos de todos os tempos. Desde sua estreia nas telas de cinema, em 1995, com Shinjuku Triad Society, vem fazendo uma média de quatro longas por ano. “Fazer mais, para mim, é crescer mais. Cada vez faço mais filmes e tenho mais ideias. Tenho liberdade total para expressar as minhas capacidades e estou muito satisfeito com aquilo que faço e com este mundo. Quero seguir este estilo de trabalho”, disse ele em entrevista coletiva  no Festival de Sitges, na Espanha, quando Gozu arrecadou o prêmio de Melhores Efeitos Visuais e o Prêmio Especial do Júri. Na mesma ocasião, o diretor recebeu o prêmio-homenagem Máquina do Tempo, destinado a figuras do mundo cinematográfico que, de um modo ou de outro, contribuíram historicamente para a evolução da linguagem do cinema.
Em cartaz na mostra organizada pelo CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN) e pelo Centro Cultural Banco do Brasil, o cult Gozu (imdb /Wikipedia) carrega a reputação de ser um dos filmes japoneses mais estranhos feitos até hoje e é uma obra exemplar para que se tenha ideia do que Miike pode fazer. Através de cenas delirantes, que variam da comédia ao terror, acompanhamos os estranhos acontecimentos que envolvem Minami, um ingênuo membro dos Yakuza (máfia japonesa), encarregado de livrar-se de um colega sênior, Ozaki, por quem tem uma especial afeição e que começa a dar sinais de loucura. O trabalho sujo deve ser feito em uma viagem a Nagoya, porém antes de chegarem ao destino o amigo misteriosamente some, e Minami tem que encontrá-lo, vivo ou morto. Durante à busca ao desaparecido, locais bizarros e pessoas estranhas cruzam o destino de Minami, que é imerso numa série de acontecimentos que desafiam qualquer explicação lógica. Falar mais do enredo seria entregar o ouro ao bandido, mas para ter uma idéia, em uma das cenas vemos
Ozaki nascendo de novo do seu próprio corpo; e outras tomadas contam a participação da figura-título do filme, Gozu, uma criatura com corpo humano e cabeça de vaca.
Quando procuraram Takashi Miike pela primeira vez, os produtores de Gozu tinham em mãos uma história de yakuza muito mais perto do convencional – mas, como o orçamento era tão baixo, deram a ele total liberdade para fazer o que bem entendesse. Na tentativa de surgir com algo mais espontâneo e diferente, Miike deu ao roteirista Sakichi Sato (que aparece no filme como um garçom usando um sutiã) apenas uma semana para escrever o roteiro, de modo que não tivesse tempo de refletir e repensar o seu texto.
Outra curiosidade interessante é que, durante as filmagens, apesar do roteiro, Miike não deu detalhes da história aos atores, passando a eles apenas o nome de seus personagens e suas profissões e, assim, deixando muita coisa por conta da improvisação de cada um. Muito desta liberdade criativa e das soluções narrativas do diretor vêm do fato de ele trabalhar essencialmente com filmes direto para o vídeo. “Quando eu faço um filme direto para o vídeo, tenho mais liberdade para criar, e nada me pára ou me força a fazer algo que eu não quero”, ele explica.
Com Gozu não foi diferente: o filme nunca foi pensado para atingir grandes estruturas, até que foi encaixado no Festival de Cannes e recebeu uma entusiasmada resposta do público, despertando a atenção de distribuidores e empresas independentes norte-americanas. Na sequência, a psicodelia de Gozu entrou na seleção de diversos festivais independentes e conquistou premiações, na Bélgica, na Suíça e na Espanha.
Andréa Azambuja
O diretor
Takashi Miike nasceu no dia 24 de agosto de 1960, na pequena cidade de Yao, no Japão. Seu principal interesse na adolescência eram motocicletas, e por algum tempo ele até pensou em seguir a carreira de piloto. Aos 18 anos, foi estudar na escola de cinema em Yokohama, fundada pelo renomado diretor Shohei Imamura, especialmente porque não eram exigidos exames de admissão. Como reconhece o diretor, ele era um estudante indisciplinado e quase não ia às aulas. Quando uma companhia local de TV foi procurar assistentes voluntários na escola, porém, foi o turista Miike que os professores indicaram. Ele passou quase uma década trabalhando na televisão desempenhando diversos papeis, inclusive o de ator, até se tornar diretor assistente de alguns cineastas, entre eles o seu mentor, Imamura. O surgimento do V- Cinema (Direto para Vídeo), no início dos anos 90, foi a deixa para Miike dirigir seus próprios filmes, já que novas companhias começaram a contratar jovens diretores para trabalhar com orçamentos baixos em alguns filmes de ação.
 O primeiro longa-metragem de Miike a estrear no cinema foi Shinjuku Triad Society (1995), e daí por diante ele alternou produções direto para o vídeo com realizações de alto orçamento para o cinema. Miike começou a conquistar fama internacional com Audition (1999) e a cada ano ganha mais seguidores no Ocidente. Diretor prolixo, já dirigiu mais de 60 filmes nos 15 anos de carreira como diretor, obras essas conhecidos principalmente pelas representações explícitas de sexo e violência, o que pode ser conferido em títulos como Visitor Q (2001), Ichi The Killer (2001) e na Dead or Alive Trilogy: Dead or Alive: Hanzaisha (1999), Dead or Alive 2: Tôbosha (2000) e Dead or Alive: Final (2002). 
 
 O texto acima foi extraído da seguinte página:

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