quinta-feira, 24 de maio de 2012

Exercer a crítica, é atiçar as energias vitais para crescer quebrando as cascas conceituais



Em favor da crítica. – Agora lhe parece um erro o que outrora você amou como sendo uma verdade ou probabilidade: você o afasta de si e imagina que sua razão teve aí uma vitória. Mas talvez esse erro, quando você era outro – você é sempre outro, aliás -, lhe fosse tão necessário quanto as suas “verdades” de agora, semelhante a uma pele que lhe escondia e cobria muitas coisas que você ainda não podia ver. Foi sua nova vida que matou para você aquela opinião, não a sua razão: você não precisa mais dela, e agora ela se despedaça e a irracionalidade surge de dentro dela como um verme que vem à luz. Quando exercemos a crítica, isso não é algo deliberado e impessoal – é, no mínimo com muita freqüência, uma prova de que em nós há energias vitais que estão crescendo e quebrando uma casca. Nós negamos e temos de negar, pois algo em nós está querendo viver e se afirmar, algo que talvez ainda não conheçamos, ainda não vejamos! – Estou dizendo isso em favor da crítica.

Epístola de São Nietzsche, capítulo móvel, versículo conversível

Fonte:
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 208, (Aforismo Nº 307).

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