“Casamento é um assunto que sempre seduz, por dois motivos muito simples: porque casamento é ótimo e porque casamento é péssimo, e são justamente esses dois lados da moeda que atraem tanto as pessoas.
Casamento é ótimo porque nos sentimos amados,
seguros, porque ganhamos status social, porque temos sexo á hora que bem
entendermos (em tese), porque temos filhos, porque temos companhia para viajar,
porque não precisamos fingir ser o que não somos, porque na hora de ir ao
cinema um estaciona o carro enquanto o outro vai para a fila da bilheteria e,
principalmente, porque ninguém consegue devorar uma pizza sozinho. Casamento é
matemática: podemos dividir, somar, multiplicar e subtrair. É aí, na subtração,
que o casamento pode ser uma chatice.
Casamento é chato porque você vai passar o resto da
vida transando com a mesma pessoa (em tese), porque o fantasma da rotina paira
sobre nossas cabeças, porque passamos a ter mais responsabilidades e isso
impede de jogarmos tudo para o alto e ir estudar teatro em Nova York, porque a
solidão, afinal de contas, até que não é má companhia e as pizzarias, quem
diria, já entregam pizza brotinho.
Ainda assim, com seu lado bom e seu lado ruim, acho
que a geração que está casando agora tem mais chances de ser feliz do que
tiveram os casais que estão comemorando bodas de outro. Os casamentos atuais
estão deixando, aos poucos, de ser um contrato formal e estão se transformando
em ritos de passagem mais espontâneos e emocionais. Hoje se casa mais por amor
do que antigamente, e o número crescente de divórcios não me desmente, ao
contrário, reforça a minha crença, por mais contraditório que isso possa
parecer. Antes as pessoas casavam porque era uma tradição inquestionável, e não
raro os próprios pais escolhiam os noivos para seus filhos: o coração não era
convocado a depor. Assim sendo, todo casamento dava certo dentro de um molde
errado, e ninguém se separava. Arranjava-se um amante e seguia-se em frente.
Hoje as separações aumentaram porque ninguém mais suporta a idéia de não ser
feliz. Porque ninguém quer saber de viver de mentirinha. Porque tempo passou a
ser artigo de luxo e não pode ser desperdiçado. Se o casamento foi bom durante
cinco, dez anos, e agora não é mais, boa-noite, amor. A vida está chamando lá
fora. O casamento não está em desuso. O que está em desuso é a hipocrisia.
O fato de a mulher entrar no mercado de trabalho e
ganhar seu próprio dinheiro também ajudou os novos casais: tirou
do marido o papel de pai e patrão e o transformou no que ele é de fato, um
homem para se compartilhar a vida, não alguém a quem devemos nossa
sobrevivência e, por causa disso, obediência. A atriz Lizandra Souto, que uma
época levantou a bandeira da virgindade, casou e virou capa de revista por
conta do seu mais novo personagem: a Amélia dos anos 90. Abandonou a carreira
de atriz para brincar de casinha. É um direito que lhe assiste, mas não acho
legal quando divulgam essa decisão como uma volta aos velhos bons tempos.
Ninguém disse que seria fácil trabalhar fora, cuidar da casa e dos filhos, mas
é o preço a pagar pela nossa independência. Casamento não é emprego.
O que é casamento, então? Uma experiência que pode
ser doce e cruel, eterna e passageira, bem-humorada e maquiavélica, tudo ao
mesmo tempo. Como o mar, está sujeito a calmarias e tempestades. Como um disco,
tem faixas ótimas e outras nem tanto. Como tudo na vida, é preciso
experimentar, nem que seja para não gostar.”
Martha Mdeiros em Topless
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