sábado, 4 de agosto de 2012

AMAR (Drummond de Andrade) voz de Paulo Autran


Amar - Carlos Drummond de Andrade
 
" Amar " - ( Carlos Drummond de Andrade ) - ( Voz de Paulo Autran )

" Amar " - ( Carlos Drummond de Andrade ) - ( Voz de Paulo Autran )



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

Amar e esquecer, 
amar e malamar,

amar, desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, 
o ser amoroso,sozinho, 

em rotação universal, 
senãorodar também, e amar?

Amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, 
e o que, na brisa marinha,é sal, 

ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, 

um chão de ferro,e o peito inerte, 

e a rua vista em sonho,e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa, amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.

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