sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Se o tempo é infinito, em qualquer instante estamos no centro do tempo. (Por Jorge Luis Borges)



“[...] Acredito na imortalidade: não na imortalidade pessoal, mas na cósmica. Continuaremos sendo imortais, para além da nossa morte física fica nossa memória, e para além da nossa memória ficam nossos atos; nossos feitos, nossas atitudes, toda essa maravilhosa parte da história universal, mesmo que não o saibamos, é melhor que não saibamos”.
Jorge Luis Borges. Borges oral & sete noites. Tradução: Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia Das Letras, 2008,  página 35  (LITERATURA ARGENTINA)

“Pensamos que, se um tempo é infinito, creio eu, esse tempo infinito tem de abarcar todos os presentes e, em todos os presentes [...]. Se o tempo é infinito, em qualquer instante estamos no centro do tempo. Pascal acreditava que, o universo é infinito, é uma esfera cuja circunferência está em todos os lugares e o centro em nenhuma. Por que não dizer que este momento tem atrás de si um passado infinito, um ontem infinito, e por que não pensar que esse passado também passa por este presente? Em todos os momentos estamos no centro de uma linha infinita, em qualquer ponto do centro infinito estamos no espaço, já que o espaço e o tempo são infinitos. Os budistas acreditam que vivemos um número infinito de vidas, infinito no sentido de número ilimitado, no sentido estrito da palavra, um número sem princípio nem fim, algo como um número transfinito da matemática moderna de Kantor. Neste momento estamos num centro – todos os momentos são centros – desse tempo infinito”.
Jorge Luis Borges. Borges oral & sete noites. Tradução: Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia Das Letras, 2008,  páginas 29 e 30


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Antologia Visual da Argentina: cinema e literatura no CCBB Rio (28\08 a 02\09)



A mostra fornece uma ampla visão sobre a relação entre a literatura e o cinema argentino. Serão exibidos 16 filmes divididos em três temas: “Resgate Histórico: clássicos do cinema a partir da literatura”, “Documentários: visão do escritor” e “Cenário Contemporâneo: o cinema e a literatura hoje”.
Mais informações aqui no link do Jornal Correio...



Programação completa:

Rio de Janeiro 28.08 a 02.09      
28/08 – terça
15h Los Libros y la Noche (el universo de Jorge Luis Borges)  Direção de Tristán Bauer (78 min)  LIVRE
17h Rosaura a las diez    Direção: Mario Soficci (100 min)   LIVRE
19h La mirada invisible  Direção: Diego Lerman  (97 min) 16 anos
21h Mentiras piadosas    Direção: Diego Sabanés  (100 min) 13 anos

29/08 – quarta
15h Cortázar   Direção:Tristán Bauer  (60 min)    LIVRE
17h La cifra impar     Direção: Manuel Antin  (85 min)   LIVRE
19h El pasado  Direção: Héctor Babenco   (114 min)  13 anos
21h Las viudas de los jueves  Direção: Marcelo Piñeiro  (122 min) 16 anos

30/08 - quinta 15h Ernesto Sábato, mi padre Direção: Mario Sábato (101 min)    LIVRE          
17h Juan Moreira  Direção: Leonardo Favio  (105 min)            14 anos
19h Mentiras piadosas    Direção: Diego Sabanés  (100 min) 13 anos
21h El pasado  Direção: Héctor Babenco   (114 min)  13 anos

31/08 - sexta 15h Dormir al sol  Direção: Alejandro Chomsky  (84 min)    13 anos            
17h No Habra mas penas ni Olvidos   Direção : Héctor Olivera (80 min) 18 anos
19h Las viudas de los jueves  Direção: Marcelo Piñeiro  (122 min) 16 anos

01/09 - sábado  16h Puig, paisajes de voces    Direçao: Silvia Hopenhayn e Marcello Iaccarino (52 min) LIVRE
17h Ultimos dias de la víctima     Direção: Rodolfo Aristarain (90 min)     18 anos
19h Dormir al sol       Direção: Alejandro Chomsky  (84 min)    13 anos            
21h Las viudas de los jueves  Direção: Marcelo Piñeiro  (122 min) 16 anos

02/09 - domingo 16h Borges y nosotros Direção: Omar Quiroga   (40 min.)   LIVRE    
17h Rosaura a las diez    Direção: Mario Soficci (100 min)   LIVRE
19h La mirada invisible  Direção: Diego Lerman  (97 min) 16 anos
21h Puig, paisajes de voces Direçao: Silvia Hopenhayn e Marcello Iaccarino (52 min) LIVRE


Livro Borges oral & sete noites de Jorge Luis Borges...Recomendadíssimo...excelente...literatura argentina



SINOPSE:
Em Borges oral (1979) e Sete noites (1980) se acham escritas palavras que brotaram da boca de um narrador cego, que falava como um sábio sibilino e irônico a auditórios do mundo todo. Sempre modesto, mas sem deixar de aludir a modelos gloriosos - Sócrates, Pitágoras, Cristo, Buda - e a outros mais próximos, como Macedonio Fernández, Borges (1899-1986) apresentava-se, na última etapa de sua vida, como um grande mestre da oralidade. 
A princípio tímido e reservado, a ponto de se ocultar em meio à plateia e pedir a um amigo para ler a conferência que redigira, com os anos e a progressiva cegueira, o escritor argentino tornou-se um narrador oral, como se quisesse dissolver-se na tradição épica dos narradores anônimos. A tradição daqueles cuja arte havia procurado imitar na prosa de seus relatos, em parte derivados dos livros que aprendera a amar desde menino na biblioteca do pai, mas muitas vezes também inspirados pelas histórias de valentões de arrabalde nos arredores de sua casa no velho bairro de Palermo, numa Buenos Aires mítica do começo do século XX. Embora aparentemente abstratos e intelectuais, os temas de suas conferências são tratados num recorte concreto, a que servem exemplos precisos, sempre manipulados com perfeição pelo refinado contador de casos, que não perde uma deixa para uma frase de humor e se orienta em meio às dificuldades do assunto pela força da memória e da imaginação. Por isso mesmo, num dos textos mais bonitos reunidos neste volume, entre tantas reflexões pessoais sobre motivos enciclopédicos, é o livro que se destaca como o instrumento mais assombroso inventado pelo homem.

Jorge Luis Borges. Borges oral & sete noites. Tradução: Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia Das Letras, 2008, 216 páginas

“Todo livro que vale pena reler foi escrito pelo Espírito”. (Por: Jorge Luis Borges)



“Um escritor, ou todo homem, deve pensar que tudo o que lhe ocorre é um instrumento, todas as coisas lhe foram dadas para determinado fim – e isso tem de ser mais forte no caso de um artista. Tudo o mais acontece a ele, inclusive as humilhações, as vergonhas, as desventuras, todas essas coisas lhe foram dadas como argila, como matéria-prima para sua arte; ele tem de aproveitá-las. Por isso já falei num poema do antigo alimento dos heróis: a humilhação, a desgraça, a discórdia. Essas coisas nos foram dadas para que as transmutemos, para que façamos, da miserável circunstância de nossa vida, coisas eternas ou que aspiram a sê-lo”.
Jorge Luis Borges. Borges oral & sete noites. São Paulo: Companhia Das Letras, 2008.




Uma vez perguntaram a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia: Ele respondeu: “Todo livro que vale pena reler foi escrito pelo Espírito”. Ou seja, um livro tem que ir além da intenção do seu autor. A intenção do autor é uma pobre coisa humana, falível, mas no livro tem de haver mais. O Quixote, por exemplo, é mais que uma sátira de livros de cavalaria. É um texto absoluto no qual não intervém absolutamente, de nenhuma maneira, o acaso.

Jorge Luis Borges. Borges oral & sete noites. São Paulo: Companhia Das Letras, 2008, página 15.


MOSTRA DE CINEMA CRISTÃO no Auditório CENTRO CULTURAL DA BÍBLIA (Centro do Rio)


terça-feira, 21 de agosto de 2012

O inútil é belo porque é menos real que o útil (Por Enrique Vila-Matas)



“Compreende aqui em Praga e, conforme vou reencontrando os amigos, que só as sensações mínimas e de coisas pequenissíssimas são as que vivo intensamente. Talvez isso aconteça por causa do meu amor ao fútil. Pode ser por minha meticulosidade em relação ao detalhe. Mas acredito ainda – não sei, nunca analiso estas coisas – que é porque o mínimo, por não ter em absoluto nenhuma importância social ou prática, tem, por causa dessa mera ausência, uma independência absoluta de associações turvas com a realidade. O mínimo [...] me soa sempre irreal. O inútil é belo porque é menos real que o útil, que continua e se prolonga; ao passo que o maravilhoso fútil, o glorioso infinistesimal, fica onde está, continua a ser o que é, vive livre e independente.”

ENRIQUE VILA-MATAS. História abreviada da Literatura Portátil. Rio de Janeiro: Cosac & Naify, .
Literatura espanhola.
Sinopse e informações sobre o livro acima.
http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10883/Hist%C3%B3ria-abreviada-da-literatura-port%C3%A1til.aspx
Resenha sobre o livro acima.
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/04/02/resenha-de-historia-abreviada-da-literatura-portatil-de-vila-matas-372458.asp


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

FILMES À MESA NA CAIXA CULTURAL RIO DE JANEIRO (cinema e comida -mostra)



Mostra temática exibe 34 obras que evidenciam a sedutora relação entre a sétima arte e a comida

Confira a programação completa aqui.


Luz, câmera e muitas degustações nos cinemas da CAIXA Cultural Rio de Janeiro, a partir de 21 de agosto, com a mostra “Filmes à Mesa”, que vai oferecer um banquete aos cinéfilos cariocas, durante duas semanas. A programação da mostra apresenta 34 obras, produzidas por diferentes décadas, começando com o célebre e premiado “Comilança”, do início da década de 1970, além de promover debates e, naturalmente, degustações especiais.

Os filmes, selecionados pelas curadoras Fernanda Teixeira e Elisabeth Jacob, evidenciam tramas - desde as cômicas às mais sórdidas ou dramáticas - tendo como eixo narrativo a comida. “Filmes à Mesa” apresenta ao público exibições de 17 nacionalidades e oferece um saboroso e criativo cardápio ao público que for às sessões.

“Visamos construir um painel capaz de tratar das diferentes percepções da relação estabelecida entre a comida e a visualidade criada pela arte sedutora do cinema em diferentes épocas, gêneros e nações. Com raridades e inéditos, como “Our Daily Bread”, uma produção peculiar germano-austríaca, e clássicos. Todos em película”, revela a cineasta Fernanda Teixeira.

O universo da mostra reúne produções que lidam com a temática da comida, de forma bastante extensa e versátil, capazes de se desmembrar, em diversos menus especiais, como o segmento “Pratos típicos”, “Cinco dias sem Nora” que mostra a cultura judaica, ou a magia da comida nos super clássicos “Festa de Babete” e “Como água para chocolate”. Tudo isso,nas boas sessões ”Segredos da Cozinha”.

Campanha de doação:
A mostra “Filmes à Mesa” vai promover também uma campanha de doação de alimentos ao Rio de Janeiro, durante sua temporada de 12 dias na CAIXA Cultural. Os alimentos arrecadados serão doados para uma instituição de caridade carioca.

Quem assistir a uma sessão e doar um 1 kg de alimento (arroz, feijão, macarrão ou leite em pó), ganhará um exclusivo catálogo da Mostra, com 102 páginas, composto por textos inéditos sobre os filmes.

Contatos e entrevistas:
Daisy Levy – (21) 9674-5636 / 8473-3375

Ficha Técnica:
Produção: Buendia Filmes
Coprodução: BLG Entretenimento
Curadoria: Beth Jacob e Fernanda Teixeira
Coordenação geral: Fernanda Teixeira
Direção de produção: Breno Lira Gomes
Produção executiva: Yves Moura
Patrocínio: Caixa Econômica Federal e Governo Federal

Serviço:
Filmes à Mesa
Local: CAIXA Cultural do Rio de Janeiro – Cinemas 1 e 2
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25. Centro (Metrô: Próximo à estação Carioca)
Informações: (21) 3980-3815
Datas: de 21 de agosto a 2 de setembro de 2012 (de terça-feira a domingo)
Horários: Consultar a programação
Ingressos: R$ 4,00 inteira e R$ 2,00 (meia-entrada. Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia)
Bilheteria: de terça-feira a domingo, das 10h às 20h
Classificação: verificar classificação etária de cada filme
Programação completa da CAIXA Cultural: www.caixa.gov.br/caixacultural

E a afetividade deles(as) era silenciosa como todos os grandes sentimentos destinados a durar uma vida inteira.



“Viveram lado a lado desde o primeiro instante, como gêmeos no útero materno. Não precisaram fazer pactos de amizade como costumam fazer os garotos dessa idade que se lançam com paixão e ostentação a rituais ridículos e solenes, dessa forma inconsciente e grotesca com que o desejo se manifesta entre os homens, quando decidem pela primeira vez arrancar do resto do mundo o corpo e a alma de outra pessoa para possuí-la com exclusividade. O sentido do amor e da amizade estava todo ali. A amizade deles era séria e silenciosa como todos os grandes sentimentos destinados a durar uma vida inteira. E como todos os grandes sentimentos, também continha certa dose de pudor e culpa. Ninguém pode se apropriar impunemente de uma pessoa, subtraindo-a de todas as outras”.

Sándor Márai. Livro As Brasas. Companhia Das Letras


“Viveram lado a lado desde o primeiro instante, como gêmeas no útero materno. Não precisaram fazer pactos de afetividade como costumam fazem algumas divas dessa idade que se lançam com paixão e ostentação a rituais ridículos e solenes, dessa forma inconsciente e grotesca com que o desejo se manifesta entre os homens e as mulheres, quando decidem pela primeira vez arrancar do resto do mundo o corpo e a alma de outra pessoa para possuí-la com exclusividade. O sentido do amor e da amizade estava todo ali. A amizade\amorosidade\cumplicidade delas era séria e silenciosa como todos os grandes sentimentos destinados a durar uma vida inteira. E como todos os grandes sentimentos, também continha certa dose de pudor e culpa. Ninguém pode se apropriar impunemente de uma pessoa, subtraindo-a de todas as outras”.

Joe (adaptação de um trecho do livro AS BRASAS do escritor húngaro Sándor Márai)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Zeitgeist Films apresenta documentário sobre ZIZEK (Cinema, psicanálise lacaniana, filosofia e afins)




O autor de obras sobre temas tão diversos como Alfred Hitchcock, 11 de Setembro, a ópera, o cristianismo, Lenin e David Lynch, filósofo esloveno Slavoj Žižek é um dos teóricos mais importantes-e ultrajante-cultural trabalhando hoje. Este cativante documentário, explora a personalidade excêntrica e trabalho esotérico deste grande escritor e acadêmico que tem sido chamado de tudo, desde "o Elvis da teoria cultural. ŽIŽEK mostra as trilhas do eminente pensador e intrépidos como ele cruza o globo de corrida de Nova York, as salas de aula da cidade, percorrendo as ruas de Buenos Aires, parando em sua casa em Ljubljana, na Eslovénia. Em trânsito, Žižek obsessivamente revela o funcionamento da ideologia invisível através de uma mistura única de psicanálise lacaniana, o marxismo ea crítica da cultura pop. Ele também é medo de transformar seu olhar crítico sobre si mesmo, oferecendo comentários de corte em sua personalidade, a vida privada de celebridades e crescente inter-nacional. ŽIŽEK! é tanto lição inesquecível de filosofia e um retrato convincente de um maverick intelectual. Possuir a capacidade de apelar para os não iniciados em uma maneira que nenhum outro filósofo antes dele poderia, combinação Slavoj Žižek é de alta e baixa cultura vai fascinar até mesmo aqueles que já acreditava que a filosofia de ser um furo.

Assista abaixo o documentário LEGENDADO com 70 minutos de duração.



Vídeo - ENTREVISTA COM ZIZEK (Filosofia e conexão com política, artes, ciência e afins..cinema, literatura



Entrevista com o filósofo Slavoj Zizek...Ele fala das relações da filosofia com a política, artes, ciência...Dialoga com o cinema, a literatura, psicologia e afins...
Recomendo a escuta do vídeo abaixo


Veja também este recorte com trechos de falas do filósofo ZIZEK e do escritor brasileiro CRISTOVÃO TEZZA falando sobre o russo BAKHTIN.



sábado, 11 de agosto de 2012

Profª Andrea França (PUC). Um feliz aniversário ao som de cinema, acasos e música.



         Hoje é um dia muito especial para mim, pois é o dia que tenho a honra de homenagear uma mulher que eu sou fã, no entanto, devo esclarecer, que meu fanatismo por ela é algo super saudável, porque foi fruto de um acaso bem acasual mesmo. Hoje é o aniversário da magrinha Andrea França (professora do departamento de cinema na PUC-RIO).
        Durante o ano de 2008, eu visitei semanalmente, sistematicamente pesquisativamente e fuçativamente a Maison de France para ler livros em português e\ou francês, pegar livros emprestados ou fazer empréstimos de DVDs, pois eu aspirava ser adestrado cinematograficamente pela filmografia francesa. Num belo dia, eu peguei a Trilogia das Cores do diretor polonês Krzysztof Kieslowski. Assisti os 3 filmes da trilogia: A Igualdade é Branca, A Liberdade é Azul e a Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs \Trois Couleurs Bleu\Rougue,etc...os títulos originais fazem mais sentido convergentemente a proposta dos filmes). Eu e meu companheiro de quarto Samuel D´Pádua assistimos tudo com muita atenção no alto da Colina no Palace XIX no internato da FABAT. Eu tenho a curiosa e lúcida mania de investigar o que tem nos EXTRAS de dos DVDs, pois eles são como notas de rodapé, por isso, vasculho tudo atrás de pérolas preciosas nos bastidores do solo epistêmico informacional. Pum!!!!!!!!! Dei de cara com uma tal de Andrea França. Cliquei e comecei a ouvir aquela morena magrinha falando sobre a trilogia....Ela falava rápido, gesticulava prá caramba...olhava sério para a câmera mas não parava de emitir informações profundas e cuidadosas sobre a convergência dos três filmes e sobre a ideia de ACASO que percorre todos os três filmes...O Acaso...Acaso..Acaso... O Samuca falou: Joe! Precisamos assistir tudo novamente, porque está mulher tirou coisas que eu nunca imaginava que pudesse haver no filme...Passamos lotados...Lá fomos nós re-assistir tudo novamente. Depois foi a vez de eu assistir o Decálogo do mesmo diretor, abordando sobre os 10 mandamentos da Bíblia. Zizek escreveu no livro “Ensaios sobre o cinema Moderno” que Kieslowski trabalhou com os mandamentos deslocados...
          Após assistir os filmes do polonês, fiquei curioso e com vontade de conhecer a Andrea França nos labirintos e estradas aleatórias da vida...Num belo dia, fui fazer uma disciplina de cinema e educação com a Profª Drª Adriana Fresquet, e ela nos intimou a irmos num colóquio de cinema (Não sei o que do REAL..sei lá..esqueci) na FE-UFRJ, porque ela disse que o guru Prof. Dr. Ismail Xavier estaria lá (depto de cinema da USP). Quando eu cheguei no salão e peguei a programação, vi que a Andrea França iria falar as 13h naquele mesmo dia. Fiquei de plantão, almocei correndo e Tum.....tava lá eu marcando presença. Quando acabou, fui o primeiro a cercá-la e dizer: “Parabéns...Vc é uma metralhadora epistêmica (cabeçona). Eu te conheci pelos EXTRAS do DVD da trilogia das cores. Eu queria ser teu aluno ouvinte se você me aceitar.” Ela disse: Eu e a Profª Drª Consuelo Lins iremos ministrar\lecionar uma disciplina sobre Cinema e Cultura de Massas aqui mesmo na Pós-Graduação da ECO-UFRJ e você pode participar. No mesmo dia, lá estava eu assistindo aula como aluno. Fiquei um semestre assistindo aquela disciplina. Me lembro de ter faltado apenas duas vezes. Aprendi sobre Didi-Hubermann, Walter Benjamin, Jonathan Crary (técnicas do observador), etc...Lá só rolava textos em inglês e francês e a gente tinha que se virar...Conheci a diva professora França ouvindo ela mencionar a palavra ACASO no DVD e foi através desta palavra ACASO que me aproximei dela e estudei com ela. Devo registrar que, posteriormente, em 2011, através do apoio da Consuelo Lins, da Andrea França e da Adriana Fresquet, pude pesquisar de forma livre usando o acervo cinematográfico do CCBB...Dias inesquecíveis de cabine e muuuuitos filmes...manhã, tarde e noite as vezes...Vi filmes Godard, Nani Moreti, Truffaut, Eisenstein, Rosselini, Francesco Rosi, Joaquim Pedro de Andrade, Sergio Bianchi, Ozu, Kurosawa, Almodóvar, Bergman, Hitchcock, Bunuel, Eduardo Coutinho e muitos outros excelentes diretores...

          Querida Andreia, desejo tudo de bom para você neste dia singelo em que sua memória involuntária escava as profundas profundezas do teu eu profundo para resgatar, trazendo à tua superfície por profundidade todas as coisas boas que marcaram  a tua trajetória no fluxo feminino de Ser-estar-aí-no-mundo. Que você seja possessa pelas forças divivas, pois elas te trarão paz, alegria, magia e encantamento. Você é uma excelente professora, portadora de simplicidade inteligente e animosidade convincente.
Bjão para você e tudo de bom...PARABÉNS e FELIZ ANIVERSÁRIO.
Teu aluno e fã, Joe

Bjão para você e tudo de bom...PARABÉNS e FELIZ ANIVERSÁRIO.
Teu aluno e fã, Joe

Oráculo de Aniversário (Por Vinícius de Moraes)

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
...
 Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(Vinicius de Moraes)
 




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Bíblia Desenterrada" - filme baseado na obra de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman



Biblia e arqueologia.
É só clicar e assistir o documentário\vídeo completo neste blog.

http://peroratio.blogspot.com.br/2012/03/2012324-biblia-desenterrada-filme.html


O box com 4 DVDs no Brasil tem outro nome:




Sou mestre na arte de falar em silêncio. (Diário de um escritor -Dostoiévski)



“Sou mestre na arte de falar em silêncio, passei minha vida toda conversando em silêncio e em silêncio acabei vivendo tragédias inteiras comigo mesmo. Oh, pois eu também era infeliz! Fui desprezado por todos, desprezado e esquecido, e ninguém, absolutamente ninguém sabe disso! E depois, de repente, vem essa garota de dezesseis anos, pega de gente infame detalhes sobre a minha vida e pensa que sabe tudo, enquanto  o que é secreto continua encerrado no peito deste homem!”.

Fiodor. M. Dostoievski. Uma criatura dócil. Tradução de Fátima Bianchi. Ilustrações de Lasan Segall. Cosac & Naify, 2009.
Em Dostoiévski, erro humano se entrelaça à ausência de Deus
                                                     Por Marcelo Coelho
·                                
É   É preciso certa coragem para se aproximar do universo de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Há a famosa profusão dos nomes russos e de seus diminutivos; a trama cheia de nós que não desatam; uma impressão constante de congestionamento espacial, de asfixia, de superpopulação; sem contar o próprio tamanho dos romances mais famosos -"Crime e Castigo", "Os Irmãos Karamázov"...

     Uma novela curta como "A Dócil" não tem por que intimidar tanto o leitor. Exceto por uma razão, bem mais profunda do que as citadas acima. O principal motivo para o medo que Dostoiévski possa inspirar talvez esteja na seriedade, na gravidade com que encara a capacidade humana para o erro, para o pecado, para o mal. Quando lemos um romance como "Madame Bovary", de Flaubert, ou "Dom Casmurro", de Machado de Assis, certamente acompanhamos com bastante consternação os deslizes e as misérias de seus protagonistas. Mas, de alguma forma, Bentinho ou Emma Bovary estão um pouco distantes de nós; o que vemos são casos exemplares, quase que diagnósticos morais, delimitados -magistralmente, é claro- em si mesmos.

E   Essa distância chega a conferir um caráter algo cômico a esses romances, se comparados aos de Dostoiévski -em que as personagens se debatem com tentações e misérias morais que reconhecemos de imediato como sendo nossas. O que assusta é que não as julgávamos, talvez, tão graves; mas Dostoiévski apresenta todo erro humano como sinal de danação, ou melhor, de uma radical ausência de Deus.

     Um breve diálogo, um curto raciocínio, um pouco de calculismo nas relações já nos precipitam aos caminhos da perdição mais irrespirável. Em "A Dócil" haveria material para um longo romance: o narrador, de origem nobre, perde sua patente militar num episódio em que foi acusado de covardia. Torna-se dono de uma casa de penhores. Uma jovem de 16 anos -a "dócil" do título- está na miséria. O narrador protege-a, humilha-a, toma-a em casamento. E é só o começo de uma história de crueldade moral e de dependência psíquica sem limites.

    O narrador conta tudo aos borbotões, algumas horas depois do suicídio da mulher. O que aconteceu? Por que ela se matou? Em poucas páginas, estamos confrontados com uma situação psicológica de extrema complexidade; impossível alcançar todos os motivos da personagem. Seu ato, como no caso de Cristo, é ao mesmo tempo sacrifício e acusação, promessa regeneradora e expiação dos pecados de outrem.

     O texto ganha corpo, e a voz do narrador adquire uma presença quase física, à medida que este se corrige, se recrimina, se retorce em busca de uma explicação para o que ocorreu. Ele passa de algoz a vítima com tamanha rapidez que a chave do mistério parece ter-se perdido no meio do caminho; de qualquer modo, desconfiamos dele. Ao mesmo tempo, acompanhamos seus pensamentos no momento mesmo em que aparecem; essa técnica, a "hipótese de um estenógrafo que anotaria tudo", diz Dostoiévski na introdução da novela, "é o que chamo de fantástico nessa narrativa".

    A tradução de Fátima Bianchi, para a Cosac e Naify, é mais "literária". A de Vadim Nikitin, para a 34, pareceu-me mais clara e coloquial; no próprio excesso de notas de rodapé, é como se reproduzisse a ansiedade do narrador. Comparem-se as traduções de um trecho bem do início do livro, onde já podemos entrever, na jactância do narrador ao conquistar a "dócil", o mal que se desencadeará.

"   Eu, quer dizer, por mim, gosto das orgulhosinhas. As orgulhosas são particularmente belas quando... bem, quando já não se duvida do poder que se tem sobre elas, hein? Ah, que homem baixo, canhestro!" (Vadim Nikitin). Na tradução de Fátima Bianchi: "Quanto a mim, digo, gosto das orgulhosinhas. As orgulhosas são particularmente boas quando... bem, quando já não se duvida do próprio poder sobre elas, não é? Oh, que sujeito inconveniente, infame!".

    A edição da Cosac tem ilustrações de Lasar Segall, e comentário primoroso de Augusto Massi. A da 34 traz outra novela curta de Dostoiévski, "O Sonho de um Homem Ridículo", um tanto abstrata e edificante, mas cujo primeiro capítulo, opondo as forças da miséria e do suicídio, já nos lança ao mundo terrível do autor. Vencido o medo, sair dele não é fácil.

   Duas Narrativas Fantásticas - A Dócil e Sonho de um Homem Ridículo (128 págs.)    
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Vadim Nikitin
Editora: 34

Uma Criatura Dócil (93 págs.)
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Fátima Bianchi
Ilustrações: Lasar Segall
Editora: Cosac e Naify

Texto acima extraído do link:

Mostra de cinema “100 Anos de Nelson Rodrigues na CAIXA CULTURAL do Rio (14 a 19 de agosto)


Jece Valadão em cena do filme "Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos

A Caixa Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 14 a 19 de agosto, a mostra “100 Anos de Nelson Rodrigues – Provocando o Cinema Brasileiro”. Serão exibidos 16 filmes baseados na obra do escritor, desde a primeira adaptação de Bonitinha Mas Ordinária, dirigida por J. P. de Carvalho, em 1963, até a mais recente versão de Vestido de Noiva, dirigida pelo seu filho, Joffre Rodrigues, em 2006, incluindo vários clássicos do cinema nacional. São filmes que destacam o papel dos textos de Nelson Rodrigues na construção da cinematografia brasileira e a versatilidade de sua produção teatral. A mostra promove ainda debates com alguns dos principais responsáveis pela apropriação do universo rodrigueana pelo cinema, como Nelson Rodrigues Filho e os diretores Neville de Almeida e Alberto Magno.
Nelson Rodrigues é um ícone do teatro mundial e um dos nomes mais estudados e conhecidos do teatro brasileiro. Possível dizer que Nelson riria ao ouvir isso, mas sua importância para a produção cultural brasileira e para criação de um imaginário representativo de brasilidade é unanimidade. Ele não foi apenas um dramaturgo, foi um divisor de águas para o teatro nacional e internacional. Transformando a definição de peça teatral, Nelson subverte a divisão entre teatro, cinema e novela, levando cenas cinematográficas e diálogos televisivos para os palcos brasileiros. 
Programação
14/08 (Terça)
14h - Um Olhar sobre a Cegueira de Nelson Rodrigues – Livre documentário de  Felipe Duque e Mariana Abbade (Brasil, 2004, 12 min.) / Engraçadinha Depois dos Trinta – 18 anos – de J. B.Tanko (Brasil, 1966, 95 min.)
16h - Bonitinha Mas Ordinária – 18 anos – de J. P. de Carvalho (Brasil, 1963, 101 min.)
18h - A Dama da Lotação – 18 anos - de Neville de Almeida (Brasil, 1978, 90 min)
20h Palestra “Uma Obra Atemporal – A contemporaneidade de Nelson Rodrigues” - com Vera Vianna (atriz, atuou em Asfalto Selvagem e Engraçadinha Depois dos Trinta),  Neville de Almeida (diretor de Os Sete Gatinhos e A Dama da Lotação), mediação de Andreas Valentin (fotógrafo, professor e pesquisador)
15/08 (Quarta)
14h - O Beijo – 18 anos de Flávio Tambellini (Brasil, 1966, 83 min.)
16h - Gêmeas – 14 anos – de Andrucha Waddington (Brasil, 1999, 75 min.)
18h - A Falecida – 12 anos – de Leon Hirszman (Brasil, 1965, 90 min.)
16/08 (Quinta)
14h - Bonitinha Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende – 18 anos – de Braz Chediak (Brasil, 1980, 85 min.)
16h - O Casamento – 18 anos- de Arnaldo Jabor (Brasil, 1975, 96 min.)
18h - Engraçadinha – 18 anos – de Haroldo Marinho Barbosa (Brasil, 1981, 100 min.)
17/08 (Sexta)
14h - Toda Nudez Será Castigada – 16 anos – de Arnaldo Jabor (Brasil, 1973, 102 min.)
16h - Vestido de Noiva  10 anos – de Joffre Rodrigues (Brasil, 2006, 112 min.)
18h - A Serpente – 18 anos – de Alberto Magno (Brasil, 1982, 77 min.)
20h - Palestra “Nelson e a Sétima Arte – A relevância da obra de Nelson Rodrigues para o Cinema Brasileiro”, com Nelson Rodrigues Filho (jornalista, produtor cultural e diretor de teatro),  Alberto Magno (diretor de A Serpente), mediação de Sasha Rodrigues (produtor Cultural)
18/08 – Sábado
14h - O Casamento – 18 anos – de Arnaldo Jabor (Brasil, 1975, 96 min.)
16h - Gêmeas – 14 anos – de Andrucha Waddington (Brasil, 1999, 75 min.)
18h - Os Sete Gatinhos – 18 anos de Neville de Almeida (Brasil, 1980, 108 min.)
19/07 (Domingo)
14h - O Beijo no Asfalto – 14 anos – de Bruno Barreto (Brasil, 1980, 77 min.)
16h - Boca de Ouro – 14 anos – de Nelson Pereira dos Santos (1962, 103 min.)
18h - Toda Nudez Será Castigada – 16 anos – de Arnaldo Jabor (Brasil, 1973, 102 min.)

100 Anos de Nelson Rodrigues – Provocando o Cinema Brasileiro

Curadoria: Susanna Lira
Local: Caixa Cultural Rio de Janeiro – Cinema 1
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô: Estação Carioca)
Telefone:             (21) 2544-4080      
Datas: de 14 a 19 de agosto de 2012
Ingressos: R$ 2,00 e R$ 1,00 (meia, além dos casos previstos em lei, clientes Caixa pagam meia)
Bilheteria: de terça-feira a domingo, das 10h às 20h
Lotação:  78 lugares + 3 para cadeirantes
Acesso para pessoas com deficiência


O ESPÍRITO DA PROSA: Uma autobiografia...O que leva um escritor a escrever? Livro de Cristovão Tezza (literatura sulista - Santa Catarina\Paraná)



[...] É provável que todo escritor que trabalhe em graus diferentes de entrega, atendendo a um e outro leitor, em ondas sutis, talvez mais pelo acaso da criação que por uma suposta consciência determinante ou uma escolha objetiva. Enfim, pensar a literatura é pensar o seu leitor, ou mais propriamente os seus leitores-nós mesmos, e os que espiam pelo nosso ombro, em segredo, o que escrevemos. O desejo de agradar a esses olhos, ou apenas a sombra às vezes hostil a este desejo, também move (às vezes perigosamente) a nossa mão.
CRISTOVÃO TEZZA. O espírito da prosa: uma autobiografia. Rio de Janeiro\São Paulo: Editora Records, 2012, página 61.


Com marcantes passagens autobiográficas, Tezza, em um ensaio não acadêmico, investiga a sua formação de escritor e o que fazia a cabeça de sua geração, nos tumultuados e transformadores anos 60 e 70. Ele examina o impacto de certos autores na sua visão literária, o imaginário utópico daquele tempo, o peso da influência acadêmica no ideário estético dos anos préinternet e suas consequências na prosa brasileira. 
Enfrentando as variáveis existenciais que marcaram sua vida, Tezza mergulha no processo de criação, tentando responder a pergunta que muitos leitores e aspirantes a escritores se fazem: o que leva alguém a escrever?


Cristovão Tezza (1952, Lages, Santa Catarina) é escritor, professor da Universidade Federal do Paraná e colaborador da Folha de S.Paulo e da revista Veja. Em 2007 publicou O filho eterno, romance baseado na relação com um de seus filhos, que tem síndrome de Down. O livro recebeu os prêmios Portugal Telecom, Bravo! e Jabuti de 2008, foi publicado na Itália e será traduzido para inglês, francês e espanhol. Há mais de trinta anos em Curitiba, o escritor elegeu a cidade como pano de fundo de seus romances, caso de Trapo (1988), seu livro de estreia, e de O fotógrafo (2004). Este livro, que conta as histórias interligadas de cinco personagens durante um único dia, venceu o Bravo! e o prêmio da Academia Brasileira de Letras. 



domingo, 5 de agosto de 2012

Casamento, Lado A e Lado B (Martha Medeiros)



“Casamento é um assunto que sempre seduz, por dois motivos muito simples: porque casamento é ótimo e porque casamento é péssimo, e são justamente esses dois lados da moeda que atraem tanto as pessoas.


Casamento é ótimo porque nos sentimos amados, seguros, porque ganhamos status social, porque temos sexo á hora que bem entendermos (em tese), porque temos filhos, porque temos companhia para viajar, porque não precisamos fingir ser o que não somos, porque na hora de ir ao cinema um estaciona o carro enquanto o outro vai para a fila da bilheteria e, principalmente, porque ninguém consegue devorar uma pizza sozinho. Casamento é matemática: podemos dividir, somar, multiplicar e subtrair. É aí, na subtração, que o casamento pode ser uma chatice.

Casamento é chato porque você vai passar o resto da vida transando com a mesma pessoa (em tese), porque o fantasma da rotina paira sobre nossas cabeças, porque passamos a ter mais responsabilidades e isso impede de jogarmos tudo para o alto e ir estudar teatro em Nova York, porque a solidão, afinal de contas, até que não é má companhia e as pizzarias, quem diria, já entregam pizza brotinho.

Ainda assim, com seu lado bom e seu lado ruim, acho que a geração que está casando agora tem mais chances de ser feliz do que tiveram os casais que estão comemorando bodas de outro. Os casamentos atuais estão deixando, aos poucos, de ser um contrato formal e estão se transformando em ritos de passagem mais espontâneos e emocionais. Hoje se casa mais por amor do que antigamente, e o número crescente de divórcios não me desmente, ao contrário, reforça a minha crença, por mais contraditório que isso possa parecer. Antes as pessoas casavam porque era uma tradição inquestionável, e não raro os próprios pais escolhiam os noivos para seus filhos: o coração não era convocado a depor. Assim sendo, todo casamento dava certo dentro de um molde errado, e ninguém se separava. Arranjava-se um amante e seguia-se em frente. Hoje as separações aumentaram porque ninguém mais suporta a idéia de não ser feliz. Porque ninguém quer saber de viver de mentirinha. Porque tempo passou a ser artigo de luxo e não pode ser desperdiçado. Se o casamento foi bom durante cinco, dez anos, e agora não é mais, boa-noite, amor. A vida está chamando lá fora. O casamento não está em desuso. O que está em desuso é a hipocrisia.

O fato de a mulher entrar no mercado de trabalho e ganhar seu próprio dinheiro também ajudou os novos casais: tirou do marido o papel de pai e patrão e o transformou no que ele é de fato, um homem para se compartilhar a vida, não alguém a quem devemos nossa sobrevivência e, por causa disso, obediência. A atriz Lizandra Souto, que uma época levantou a bandeira da virgindade, casou e virou capa de revista por conta do seu mais novo personagem: a Amélia dos anos 90. Abandonou a carreira de atriz para brincar de casinha. É um direito que lhe assiste, mas não acho legal quando divulgam essa decisão como uma volta aos velhos bons tempos. Ninguém disse que seria fácil trabalhar fora, cuidar da casa e dos filhos, mas é o preço a pagar pela nossa independência. Casamento não é emprego.

O que é casamento, então? Uma experiência que pode ser doce e cruel, eterna e passageira, bem-humorada e maquiavélica, tudo ao mesmo tempo. Como o mar, está sujeito a calmarias e tempestades. Como um disco, tem faixas ótimas e outras nem tanto. Como tudo na vida, é preciso experimentar, nem que seja para não gostar.”

Martha Mdeiros em Topless
 MARTHA MEDEIROS. Livro TOPLESS. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2002, página 104 a 106.

sábado, 4 de agosto de 2012

AMAR (Drummond de Andrade) voz de Paulo Autran


Amar - Carlos Drummond de Andrade
 
" Amar " - ( Carlos Drummond de Andrade ) - ( Voz de Paulo Autran )

" Amar " - ( Carlos Drummond de Andrade ) - ( Voz de Paulo Autran )



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

Amar e esquecer, 
amar e malamar,

amar, desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, 
o ser amoroso,sozinho, 

em rotação universal, 
senãorodar também, e amar?

Amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, 
e o que, na brisa marinha,é sal, 

ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, 

um chão de ferro,e o peito inerte, 

e a rua vista em sonho,e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa, amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.