domingo, 27 de maio de 2012

Grupo PRELÚDIO 21: Uma tarde de fraternidade, musicalidade e circo de novo som Apocalíptico.




Fotografias: Alexandre Chaves





PRELÚDIO 21 em maio de 2012: Uma tarde de fraternidade, musicalidade e circo de novo som Apocalíptico.

Toda felicidade que há na terra,
Meus amigos, vem da luta!
Sim, a amizade requer
Os vapores da pólvora!
Em três coisas se unem os amigos:
São irmãos na miséria,
Iguais ante o inimigo,
E livres diante da morte!

NIETZSCHE 

[...] Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável “calmaria” da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio é vulgar: assim como é vulgar trabalhar sem prazer.[...]
NIETZSCHE 

“Todo espírito criador, olha baixo, olha manso, olha abençoador”. (NIETZSCHE)

       
        Estive no concerto do grupo PRELÚDIO 21, realizado no Centro Cultural da Justiça Federal do Rio, na tarde de 26 de maio de 2012. Carlos Drummond de Andrade iria adorar, pois re-evocaria toda a musicalidade de seu célebre poema Tarde de Maio.
        Sergio Roberto de Oliveira, compositor integrante deste grupo, subiu e disse que quando o grupo foi formado em 1998, os compositores escreviam as peças para a formação que desejavam, e convidavam os músicos para executarem aquelas peças com formações diversificadas. Ele explicou que posteriormente, o grupo mudou a tática, e ao invés, de cada um mapear o que queria, o grupo passou a convidar formações já consagradas e todos os compositores escreviam para aquela formação específica e faziam um concerto com peças distintas, mas delimitada a uma formação única de intérpretes definidos. Num dos concertos, lembro-me que convidaram o Duo Santoro para tocarem várias peças de vários compositores do grupo.


          Isso me lembra o excelente filme SOBRE CAFÉS E CIGARROS. Neste filme, o diretor Jim Jarmusch utiliza apenas os elementos café e cigarros para criar 11 curtas metragens dentro de um longa-metragem, e os atores diferentes e intercambiáveis discutem diversos temas mutantes, no entanto, o café e o cigarro permanecem como força estética onipresente durante todo o concerto de imagens e sons. Sergio Roberto frisou que aquela tarde era mágica, pois o concerto daquele fragmento do instante teria a participação de vários compositores e de várias formações e isso, lembrava a proposta inicial do grupo. Roberto falou de uma lembrança histórica que evoca retroações inventivas, pois recordar é preciso, lamentar não é preciso. Nietzsche exalta essa reviravolta no chão da história ao escrever em A Gaia Ciência:
Historia abscondita [História oculta]. – Todo grande homem exerce uma força retroativa toda a história é novamente posta na balança por causa dele, e milhares de segredos do passado abandonam seus esconderijos – rumo ao sol dele. Não há como ver o que ainda se tornará história. Talvez o passado ainda esteja essencialmente por descobrir! Tantas forças retroativas são ainda necessárias! (NIETZSCHE, Friedrich, 2001, página, 81)

        Após revirar retoricamente pelo prelúdio das palavras, Roberto desapareceu sutilmente do palco para abrir espaço para o divertido Alexandre Schubert que surgiu na clareira das sombras e luzes, portando um chapéu-tôca simples, colorido e cômico.
 Que bunitinho né??.....!!!!!


          Seguiu-se a entrada triunfal de jovens instrumentistas trajando indumentárias vívidas e festivas que somado a execução da peça Circo Brasileiro – A retreta do Apocalipse elevou-nos discretamente a condição de risadores e apreciadores. Henri Bérgson em seu livro O RISO - Ensaio sobre a significação da comicidade escreveu sobre a importância do riso como restaurador da vida.


          Vivacidade e gozoalidade marcaram aqueles pulsantes momentos em que pudemos escutar claramente numa peça schubertiana, um acorde perfeito maior, em forma de exercício pleno da liberdade da ludicidade interior, pois dentro de todos nós adultos, habita e co-habita uma jovialidade pura e tonal. Então, Alexandre Schubert assinalou que São João foi para a Ilha de Patmos, mas infelizmente só viu cavalos brancos, anciãos estressados com espadas flamejantes nas mãos e  poetizou tudo o que viu e o que não viu com muita ferocidade escatológica nas entrelinhas do Império Romano. Saturado com tanta alegoria futurística interpretativa\manipulativa efetuadas por muitos pseudos filólogos e exegetas na modernidade, São Schubert e seus intérpretes resolveram ir para a Ilha do Nada, e ficaram quietos, pois a espera é um à toa muito ativo. Quando as idéias chegaram (elas vem quando elas querem), São Schubert e companhia sonorizada, apenas lapidaram o que viram e ouviram, e escreveram: “Os nossos pensamentos são os nossos sentimentos, pois somos ungidos pelo afeto criativo acolhetivo, pois sabemos que os afetivos vêem coisas que os apáticos não vêem". E encerram citando um trecho do livro ANTICRISTO de Friedrich Nietzsche: “O Reino de Deus não é nada que se espere; não possui ontem, nem depois de amanhã, não virá em ‘mil anos’; está em toda parte, está em nenhum lugar...”. Para que a mensagem prol arte da criatividade atemporal fosse entendida por nós expectadores, foi necessário que Schubert “caricaturasse” aquela peça musical, pois ele sabe que o caricaturista é o demônio que expande tudo o que Deus insinuou querer fazer, mas não foi capaz de fazer. Por exemplo: A fotografia erra porque acerta, no entanto, a caricatura acerta porque erra, porque exagera. O mais legal de tudo foi ver a esposa de São Schubert interrompendo o maridão nos momentos pré-execução musical, para testemunhar coletivamente que foi vítima de assédio sonoro, pois Schubert levitando no mundo da lua acordou ela às 3 horas da madrugada intimando-a afetivamente a apreciar auditivamente aquele batuque da alegria pós-moderna. É interessante frisar que, quando o poeta, filósofo, músico, ou outro artista, está em processo de criação, ele é possuído por uma força organizadora, mostradora de alguma situação.
        Após o baile circense da fogocidade jubilosa criativa, foi à vez do compositor Marcos Lucas se apoderar vocalmente do microfone para esclarecer de forma sucinta sobre a peça Aforismos II.

          Ele foi claro e didático ao dizer que pensou em algo conciso e compactado, pois quem aforisma (verbo aforismar), precisa dominar a arte do erdichten (poetizar na língua alemã), que implica em capacidade artística de condensar uma multiplicidade informacional, num campo criativo\perceptivo bastante de\limitado, pois estilo, é forma e conteúdo e pode ser entendido também como gênese e modo de ser. Sobre isso, Oscar Wilde nos brinda com esta convincente citação: “Trabalhando dentro dos limites, que o mestre se revela e a limitação é a condição mesma de toda a arte, é o estilo” (Goethe citado por Oscar Wilde, 2007, página 1080). Convém mencionar também, que Nietzsche, o grande mestre desta técnica e portador do grande estilo condensativo, dizia que precisava apenas de um aforismo para dizer tudo o que os outros escritores gastavam um livro inteiro para não dizer. Essa linda peça estruturada em 3 movimentos, inspirada em 3 fragmentos poéticos, foi muito bem executada\interpretada pelo pianista Antônio Ziviani e pelo clarinetista Thiago Tavares. 

          Cabe ressaltar, que a figura dos intérpretes é muito importante, porque além de recriarem as peça, eles promovem a reconstrução dos processos mentais de quem escreveu as peça.
          A próxima peça a ser executada foi a do compositor José Orlando Alves.
Orlando está residindo na Paraíba, mas enviou uma gravação onde ele explica sobre detalhes panorâmicos daquela peça. Aquela voz paraibânica, se tornou a presença de uma ausência, mas todos nós ficamos sabendo que aquela peça chamada de Invariâncias, pertencia a um grupo de 33 peças, compostas durante o doutoramento dele na UNICAMP. Ele esclareceu que todas as 33 partes, podem ser tocadas de forma aleatória. A pianista Sara Cohen sentou-se majestosamente naquele piano negro e começou a dedilhar de forma feminina, aquelas teclas, e seduzindo paulatinamente e intensamente cada nota, cada frase, cada arpejo, cada “acorde”, cada ataque, cada movimentação do corpo e da alma, nos elevou as guaritas mais secretas e sensíveis com a força de exuberantes asas da pianicidade ebulitiva interior.
Sara Cohen sentada e ligada...uma diva da pianicidade expressiva...


          Todas as Quintas, do compositor Caio Senna, é o nome da peça que sucedeu no fluxo daquela programação. Segundo o porta-voz senniano, aquela peça foi inspirada nas aulas que Caio fazia com uma professora as quintas feiras (direto do túnel do tempo) e também nas obras do pianista Bill Evans que usava bastante intervalos de quinta. Linda composição e Sara Cohen mais uma vez sensualizou o piano de forma singela e amorosa ao executar aquela obra a partir de uma consangüinidade espiritual em sintonia mental com o compositor. “Quando duas pessoas fazem amor, não estão apenas fazendo amor, mas elas estão dando corda ao relógio do mundo”. (Mario Quintana)
          Subitamente, subiu naquele palco demonstrativo, uma mulher portadora de simpaticidade visual que emitia vocalizações portuguesas com sotaque americanizado. Era a simpática e alegre compositora americana Rami Levin.

 Ela explicou que a peça Shiramina composta em 4 movimentos foi denominada SHIRAMINA, pois é a combinação do nome das três irmãs dela (Shira, Rami e Hanina) e cada movimento caracteriza sonoramente o timbre de cada uma delas. O quarto movimento é a junção das vozes de todas as 3 irmãs, onde há convergência de todas as vozes numa simbiosidade tímbrica e e celeste, pois Shiramina é evocação de presenças, pois nomear é trazer à presença; é fazer-se; é mostrar-se. Rami Levin sabe muito bem que as coisas não tem apenas significado, mas elas têm presença. [...] “Basta criar novos nomes, avaliações e probabilidades para, a longo prazo, criar novas ‘coisas’”. (Friedrich Nietzsche, 2001, página 96). Essa belíssima obra para 3 flautas, foi executada pelos excelentes flautistas Maycon Lack, Rudi Garrido e Maria Carolina Cavalcanti.
          Dando continuidade aqueles momentos de curiosidade auditiva e visual, o compositor carioca-indígena Pauxy Gentil-Nunes foi convocado para explicar sobre a peça Jonas. Com uma voz portadora de doçura, loucura e ternura, ele esclareceu que um gringo (regente inglês amigo dele) ficou encantado com as estátuas de Congonhas de Aleijadinho, então, ele pediu que Pauxy escrevesse uma peça baseado no mito do PEIXÃO que engoliu Jonas.



          A narrativa bíblica, diz que o profeta Jonas foi intimado por Deus para pregar as boas novas na monstruosa cidade de Nínive, no entanto, Jonas (bicho morador do interior), teve medo de encarar a selvageria de uma grande metrópole com avenidas, metrôs, trens superlotados, favelas, congestionamentos, assaltos a luz da bíblia, travestis manjubosos nos becos e nas esquinas, espaços culturais promotores de heresias que poriam em risco as verdades já canonizadas pela comodidade, etc, por isso, optou por fugir para Tarso, que era uma cidadezinha beeeeeeeem menor. No meio do percurso fugidio, houve um Tsunami logo na saída daquela embarcação e Jonas foi parar misteriosamente no fundo daquela superfície por profundidade. Alucinado pelo batismo de águas turvas, pediu socorro a um peixe enorme que passeava na beira mar á procura de lazer e visibilidade turística. Teleguiado pelos deuses, aquele peixe hospitalizou Jonas durante 3 dias e 3 noites, com direito a compartilhamento de água potável e sais minerais do estoque secreto daquele animal amoroso, veloz e flutuante. Segundo Pauxy, no primeiro dia, Jonas experienciou um estado de inconsciência, no entanto, no segundo dia, foi lhe concedido o poder de reflexão nos braços daquele silêncio eloqüente. Já no terceiro dia, foi lhe dado o privilégio sagrado da libertação suntuosa. A narrativa de Jonas se coaduna com a narrativa da morte, tumuloção, e ressurreição de Jesus que se dá num espaço seqüencial de três dias.  O próprio Jesus esteve em alto mar e viu a embarcação dançar perigosamente e freneticamente sobre as águas revoltosas. Judas, Pedro, Tomé, Tiago, André, outros discípulos e pescadores que viajavam de classe super econômica, além de outros playboizinhos e patricinhas que estavam hospedados em camarotes de luxo e luxúria, gritaram atonalmente no ouvido do Mestre, mas aquele sacro Rabi pediu a todos que orassem tonalmente, pois o resto ele faria.

[...] E os pescadores, todos olhavam para Jesus, calados de assombro, apesar do estrondo da tempestade tinham ouvido os gritos, Cala-te, Aquieta-te, e ali estava ele, Jesus,o homem que gritara, o que ordenava aos peixes que saíssem das águas para os homens, o que ordenava às águas que não levassem os homens para os peixes. (José Saramago, 2001, página 336).

          Tanto Jonas como Jesus, sentiram-se abandonados em algum momento da existência, pois a angústia é fundo constitutivo da vida e ela nos devolve a solidão criativa e\ou reparadora através da experiência amarga do ENSOZINHAMENTO. Na solidão. – Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto: pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes soam diferentes na solidão!” (NIETZSCHE, Friedrich, 2001, página, 168).
          Tanto Jonas na barriga e pós-barriga peixânica como Jesus durante o ministério pré-cruz, durante a cruz e pós-cruz, ouviram a sublime voz do Espírito Santo em forma estímulo reflexivo dostoievskianico e pregaram sobre este estímulo em forma de Boas Novas para os povos:

“Não tenhas medo de nada, e nunca tenhas medo, nem caias em melancolia. Desde que o arrependimento não míngüe em tua alma, Deus perdoará tudo. E ademais não há nem pode haver em toda a terra tamanho pecado que o Senhor não perdoe àquele que em verdade se arrepende. Além disso, um homem não pode absolutamente, cometer um pecado tão grande que esgota o infinito amor de Deus. Ou será que pode haver um pecado capaz de superar o amor divino¿ Preocupa-te apenas com o arrependimento, sempre, e quanto ao medo, afugenta-o de todo”. (Dostoievski, 2009, página 82).
  
          Pauxy explicou que a peça Jonas foi escrita estrategicamente na tonalidade de Si Menor, pois segundo ele, os compositores barrocos, consideravam os dois sustenidos (# #) da armadura de clave os dois ladrões e o Lá sustenido (Lá #) da notação germânica era pensada e credibilizada como o ALFA, isto é, Jesus, por isso, o lá# sustenido aparecia em todo fluxo sonoro daquela peça, como uma onipresença estética. Aquela peça para piano, em três movimentos, foi executada pela competente pianista Kátia Baloussier. A loura Kátia deu um show de profissionalismo, clareza sonora e dinamismo pianistico, pois ao olhar para aquela partitura, ela soube conduzir solenemente as idéias gráficas na carruagem do ritmo, porque habitualmente, elas não conseguem andar sozinhas
.
Baixinha, porém, expressiva, sensível e virtuosa no paraíso da pianicidade...
       
          Aquele ambiente de Clareira, portadora de Luz e Sombras, cedeu à escuridão enigmática, pois um telão desceu do alto, e ficamos em ociosa expectativa perante aquela tela 333333333 ...D. Aos poucos, conglomerados de números passeavam afetuosamente perante nossos olhares atenciosos que suportavam a intensificação daquele tráfego de números que nos assediavam visualmente através da força esquisita de uma numerologia movente. O experiente compositor Neder Nassaro, nos presenteou naquela tarde graciosa, com a peça Números Complexos para vídeo e música, nos estimulando a pensar escutativamente através de imagens em movimento.

 Sou instigado, logo existo. Achei bem interessante aquela peça, apesar de não compreender toda aquela numeratividade acusmática, pois ser forte é ser forte no limite, pois o que passa deste limite, se torna arrogância, pedantismo e presunção intelectual. Quando coincide com o seu limite, o homem fica forte, porque, o máximo de força se dá quando nos colocamos no nosso limite. Nietzsche, em seu livro A Gaia Ciência, aforismo nº 195, sinaliza sobre Limites de nossa escuta. – Ouvimos apenas as questões para as quais somos capazes de encontrar resposta.” (Nietzsche, 2001, página 171).
          Apenas ouvi de forma inocente e despretenciosa, pois reconheço que naquela avenida de signos sonoros visuais, há uma experiência de escrita com sangue, pois quem escreve com sangue, sabe que sangue é espírito, é pathos, é experiência da alma.

“Por mais que alguém reduza a experiência da composição a esquemas formais ou noções verbais, lógicas, acústicas ou matemáticas, não descreve o fundo dessa experiência fundamental tão semelhante a fazer uma represa. Porque a isso se resume, no fim de contas, o trabalho de composição: achar um local apropriado, algumas pedras, colocar umas aqui, algumas outras mais para lá etc.” [...] (CAESAR, Rodolfo, 2008, página 59).

          Para finalizar, àquela tarde de confraternização entre amigos, compositores, intérpretes, conhecidos convidados e desconhecidos convidados, o compositor Sergio Roberto de Oliveira expôs de forma pueril sobre o período de gravidez musical da peça Suíte para Cordas.

Segundo ele, esta obra foi composta durante as noites em que ele embalava a filha dele, enquanto a ex-esposa já havia se recolhido ao mundo misterioso do sono. Ele se emocionou quando dedicou este filho musical a outra pessoa que ele tanto ama. Roberto lacrimejou sutilmente e a engasgou bruscamente, não conseguindo emitir mais nenhuma palavra, pois as palavras proferidas pelo coração não têm língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler. A Suíte para cordas, contém 6 movimentos, sendo que cada movimento foi construído baseado num intervalo específico. Ao escutá-la, me lembrei de uma peça para orquestra de cordas escrita pelo compositor e arranjador Claus Ogermann. Confira aqui o som desta magnífica peça construída com muito bom gosto:

        A Suíte de Roberto foi executada pela Camerata do Rio de Janeiro, sob a regência do jovem músico Pedro Borges, (meu colega da minha turma de Licenciatura em Música na EM-UFRJ 2004-2007) que emitiu gestos simples e nobres na condução daqueles sensíveis músicos.


         Ao término daquele concerto, fomos convidados a tomar um bom vinho regado a um bom papo com aquelas pessoas que ali se fizeram presentes. Saí daquele teatro consciente de que música como arte promove um imenso diálogo que se processa em escala universal, e nesse diálogo, cada compositor e intérprete nacional acrescenta peculiaridades de sua história e de sua cultura a temas já representados em obras de outros países e em outras épocas, às vezes bem distantes. Fico feliz, pois esse grupo de compositores do Prelúdio 21, há mais de 12 anos, vem promovendo concertos que dignificam os ouvidos de pessoas ávidas pela música de concerto contemporânea. Esta força artística, proativa, realizadora, só é possível, porque esses desbravadores estão interessados em levar a obra de arte ao paraíso da plenitude pela realização prazerosa e singular. Nas Cartas sobre o humanismo, Martin Heidegger, fala sobre esse aspecto da ação intensificadora:

“Desde há muito que ainda não se pensa, com bastante decisão, a Essência do agir. Só se conhece o agir com a produção de um efeito, cuja efetividade se avalia por sua utilidade. A Essência do agir, no entanto, está em con-sumar. Con-sumar quer dizer: Conduzir uma coisa ao sumo, à plenitude de sua Essência. Levá-la a essa plenitude, procedure.” (Heidegger, 2009, páginas 23 e 24)

         Papeei um pouco com o Pauxy e a compositora Rami Levin, dei um alô para o Marcos Lucas, Neder Nassaro, Roberto e outros, e voltei para minha casa com sensação de tarde sabática felicíssima. Meus sinceros parabéns para este grupo de experientes, competentes e convincentes compositores em terra carioca.
         Com carinho, respeito e devaneios descritivos...
Joe


Joevan Caitano é Mestre em Musicologia pela Escola de Música da UFRJ com a dissertação EDUCAÇÃO COM “MÚSICA UNIVERSAL” NA PRO ARTE UMA ESTÉTICA ITIBEREANA DO FAZER COLETIVO.
Em 2011, Joevan Caitano foi convidado a doutorar-se na Ludwig Maximilian Universität em Munique no depto de Musikpädagogik visando desenvolver uma pesquisa de método comparado utilizando o tema (prol tese)
Cursos Internacionais de Férias para ensino e divulgação de Neue Musik em Darmstadt no ano de 1951: Convergências entre os Aspectos Musicais e procedimentos pedagógicos do pós-guerra e o pensamento artístico de Hans-Joachim Koellreutter no Brasil.


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA PARA PRELUDIAR DESCRITIVAMENTE.

BERGSON, Henri. O riso – ensaio sobre a significação da comicidade. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CAESAR, Rodolfo. Hermetologia in: Círculos Ceifados.  Rio de Janeiro: 7 LETRAS\FAPESP,  2008.
DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Os Irmãos Karamázov. Tradução de Paulo Bezerra (2. Volumes). Rio de Janeiro: Editora 34, 2009.
HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução. Notas e Posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo.http://www.lusosofia.net/textos/nietzsche_friedrich_o_anticristo.pdf acessado em 27\05\2012.
SARAMAGO, José. O Evangelho Segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001.
WILDE, Oscar. A decadência da mentira\Ensaios. Em: Obra Completa. Volume Único. Rio de Janeiro: Nova Aguila, 2007.

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