Em
favor da crítica. – Agora lhe parece um erro o que outrora você amou
como sendo uma verdade ou probabilidade: você o afasta de si e imagina que sua
razão teve aí uma vitória. Mas talvez esse erro, quando você era outro – você é
sempre outro, aliás -, lhe fosse tão necessário quanto as suas “verdades” de
agora, semelhante a uma pele que lhe escondia e cobria muitas coisas que você
ainda não podia ver. Foi sua nova vida que matou para você aquela opinião, não
a sua razão: você não precisa mais dela,
e agora ela se despedaça e a irracionalidade surge de dentro dela como um verme
que vem à luz. Quando exercemos a crítica, isso não é algo deliberado e
impessoal – é, no mínimo com muita freqüência, uma prova de que em nós há
energias vitais que estão crescendo e quebrando uma casca. Nós negamos e temos
de negar, pois algo em nós está querendo viver
e se afirmar, algo que talvez ainda não conheçamos, ainda não vejamos! – Estou
dizendo isso em favor da crítica.
Epístola de São Nietzsche, capítulo móvel, versículo conversível
Fonte:
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 208, (Aforismo Nº 307).
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