sábado, 23 de junho de 2012

A GAIA CIÊNCIA. Friedrich Nietzsche (Transcrição dos melhores momentos)...rs



A SUPERFÍCIE É O LOCAL DE COMUNHÃO ENTRE O PROFUNDO E O RASO.

Oh, esses gregos! Eles entendiam do viver! Para isto é necessário permanecer valentemente na superfície, na dobra, na pele, adorar a aparência, acreditar em formas, em tons, em palavras, em todo o Olimpo da aparência! Esses gregos eram superficiais – por profundidade!
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA (PRÓLOGO). Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 15


Remédio para pessimistas

Queixa-se de que nada lhe agrada¿
Ainda aqueles caprichos, meu amigo¿
Vendo-o praguejar, chorar, escarrar,
Perco a paciência e a alegria,
Ouça meu conselho! Decida-se um dia
A engolir um belo e gordo sapo
Rapidamente e sem olhar! –
A sua dispepsia ele vai curar!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 27



Toda felicidade que há na terra,
Meus amigos, vem da luta!
Sim, a amizade requer
Os vapores da pólvora!
Em três coisas se unem os amigos:
São irmãos na miséria,
Iguais ante o inimigo,
E livres diante da morte!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 37

Historia abscondita [História oculta]. – Todo grande homem exerce uma força retroativa toda a história é novamente posta na balança por causa dele, e milhares de segredos do passado abandonam seus esconderijos – rumo ao sol dele. Não há como ver o que ainda se tornará história. Talvez o passado ainda esteja essencialmente por descobrir! Tantas forças retroativas são ainda necessárias!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81

Heresia e bruxaria. – Pensar diferentemente do costume – isso é muito menos resultado de um intelecto melhor que de inclinações fortes, más, que desprendem, isolam, desafiam, inclinações alegremente maldosas e arrogantes. A heresia é a contrapartida da bruxaria, e certamente, tal como esta, nada inofensiva ou venerável em si. Os hereges e as bruxas são duas espécies de seres maus: têm em comum o fato de também se sentirem maus, mas terem um prazer incoercível em causar dano àquilo que é dominante (pessoas ou opiniões). A Reforma, uma espécie de redobramento do espírito medieval, num tempo em que ele já tinha a boa consciência a seu lado, produziu ambos em grande quantidade.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81

Contra o arrependimento. – O pensador vê seus atos como tentativas e questões para obter explicação acerca de algo: sucesso e fracasso, para ele, são antes de tudo respostas. Irritar-se ou mesmo sentir arrependimento, porque alguma coisa deu errado – isso ele deixa para aqueles que agem por terem recebido ordens, e que podem esperar uma surra, caso o seu senhor não se satisfaça com o resultado.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.


[...] Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável “calmaria” da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio é vulgar: assim como é vulgar trabalhar sem prazer.[...]
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.

Senso da verdade. – Eu elogio todo ceticismo ao qual posso responder: “Tentemos!”. Mas já não quero ouvir falar de todas essas coisas e questões que não permitem o experimento. Este é o limite do meu “senso da verdade”; pois ali a coragem perdeu seu direito.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 91, (Aforismo51).


Agora e outrora. – Que importa toda a arte de nossas obras de arte, se chegamos a perder a arte superior que é a arte das festas¿ Antigamente as obras de arte eram expostas na grande avenida de festas da humanidade, para lembrança e comemoração de momentos felizes e elevados. Agora se pretende, com as obras de arte, atrair os miseramente exaustos e enfermos para fora da via dolorosa da humanidade, para um instantezinho de prazer; um pouco de embriaguez e de loucura lhes é oferecido.

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 117, (Aforismo Nº 89).

Aprendendo a homenagear. – É preciso aprender a homenagear, tanto quanto a desprezar. Todo aquele que segue novos caminhos, e que conduziu muitos por novos caminhos, descobre assombrado como esses muitos são pobres e canhestros ao exprimir sua gratidão, e mesmo como é raro a gratidão poder se expressar. É como se, querendo falar, algo sempre lhe incomodasse a garganta, de forma que ela apenas pigarreia e silencia com o pigarro. O modo como um pensador chega a sentir o efeito de suas idéias e a energia transformadora e perturbadora destas é quase uma comédia; às vezes se diria que os que experimentaram esse efeito sentiram-se por ele ultrajados, no fundo, e que apenas com grosserias podem expressar a independência que acreditam ameaçada. São requeridas gerações inteiras para se inventar apenas uma convenção cortês de agradecimento; e apenas bem tarde chega o momento em que até na gratidão penetra algum espírito e genialidade; então geralmente há alguém que é o grande receptor da gratidão, não só pelo que ele próprio fez de bom, mas sobretudo por aquilo que gradualmente seus precursores acumularam, um tesouro do que há de melhor e de mais elevado.

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 126-127, (Aforismo Nº 100).

Demasiado judeu. – Se Deus queria tornar-se objeto de amor, tinha primeiramente que desistir de julgar e fazer justiça: - um juiz, mesmo um juiz clemente, nunca é objeto de amor. Neste ponto, o fundador do cristianismo não teve sensibilidade bastante refinada – como judeu.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 155, (Aforismo Nº 140).

A cor das paixões. – Naturezas como a do apóstolo Paulo não vêem com bons olhos as paixões; delas conhecem apenas o que é sujo, deformador e lancinante – daí a sua tendência idealista visar a destruição das paixões: vêem no que é divino a completa purificação delas. De modo bem diferente de Paulo e dos judeus, os gregos dirigiram a sua tendência idealista justamente para as paixões e as amaram, elevaram, douraram e divinizaram; evidentemente, com as paixões eles sentiam-se não apenas mais felizes, mas também mais puros e mais divinos. – E os cristãos¿ Queriam eles tornar-se judeus nesse ponto¿ Terão se tornado¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 153, (Aforismo Nº 139).


Guerras de religião. – O maior progresso das massas, até o momento, foi a guerra de religião: pois ela mostra que a massa começou a tratar os conceitos com reverência. As guerras de religião surgem apenas quando as disputas mais sutis entre as seitas levam ao refinamento da razão geral; de modo que mesmo a plebe se toma a sério minúcias, chegando a considerar possível que a “eterna salvação da alma” dependa de mínimas diferenças nos conceitos.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 157, (Aforismo Nº 144).


Sem alegria. – Basta uma única pessoa sem alegria para criar constante mau humor e céu escuro em toda uma casa; e somente por milagre ocorre que não haja esta pessoa! – A felicidade está longe de ser uma enfermidade assim contagiosa – de onde virá isso¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 239).

À beira mar. – eu jamais construiria uma casa para mim (e é próprio da minha felicidade não possuir uma!). Se tivesse de fazê-lo, porém, eu a construiria, como certos romanos, bem junto ao mar e nele penetrando – eu bem gostaria de partilhar segredos com esse belo monstro.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 240).

A obra e o artista. – Esse artista é ambicioso e nada mais: afinal, sua obra não passa de uma lente de aumento que ele oferece a todos os que olham em sua direção.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 241).

[A cada um o que é seu]. – Por maior que seja a minha avidez de conhecimento, não posso extrair das coisas mais do que já me pertence – o que é dos outros continua nelas. Como é possível que alguém seja assaltante ou ladrão¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 242).

Palavras de consolo de um músico. -  “Sua vida não chega aos ouvidos dos homens: para eles você vive uma vida muda, e permanece oculta para eles toda sutileza da melodia, toda delicada resolução quanto a seguir ou preceder. É verdade: você não aparece numa larga avenida ao som de uma banda militar – mas essa boa gente não tem o direito de afirmar, por causa disso, que em sua vida não há música. Quem tiver ouvidos, que ouça.”
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 178,179, (Aforismo Nº 234).

Na solidão. – Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto: pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes soam diferentes na solidão!
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 168, (Aforismo Nº 182).

O ofensivo na apresentação. – Esse artista me ofende pela maneira como apresenta suas idéias, suas boas idéias: muito ampla e enfática, e com toscos artifícios de persuasão, como se falasse à plebe. Após dedicarmos algum tempo à sua arte, achamo-nos sempre “em má companhia”.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 169, (Aforismo Nº 187).

A música do melhor futuro. – O primeiro dos músicos, para mim, seria aquele que conhecesse apenas a tristeza da mais profunda felicidade, e nenhuma tristeza mais: um tal músico ainda não existiu.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 168 e 169, (Aforismo Nº 183).

Pobre - Hoje ele é pobre; mas não porque lhe tiraram tudo, e sim porque jogou tudo fora – que lhe importa isso¿ Ele está habituado a encontrar – Pobres são aqueles que não entenderam a pobreza voluntária dele.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 185).

Má consciência – Tudo o que ele faz agora é correto e está em ordem – mas ele tem má consciência. Pois sua tarefa é o extraordinário.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 186).

O pensador. – Ele é um pensador: isto é, ele sabe como ver as coisas de modo mais simples do que são.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 189).

Contra algumas defesas. – A mais pérfida maneira de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com razões defeituosas.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 191).

O dissabor do orgulhoso. – O orgulhoso tem seu desgosto até mesmo com os que o levam adiante: ele olha irritado para os cavalos de seu coche.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 171, (Aforismo Nº 198).

Grande homem! – Pelo fato de alguém ser “um grande homem”, não podemos concluir que seja um homem; talvez seja apenas um garoto, ou um camaleão de todas as idades, ou uma mulherzinha enfeitiçada.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 208).

O invejoso. – Ele é um invejoso – não devemos esperar que ele tenha filhos; ele teria inveja deles, porque não pode mais ser criança.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 207).

Os mendigos e a indelicadeza. “Uma pessoa não é indelicada, se usa uma pedra para bater numa porta que está sem campainha” – é o que pensam os mendigos e necessitados de toda espécie; mas ninguém lhes dá razão.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 172, (Aforismo Nº 204).

Perigo na voz. – Com uma voz muito alta na garganta, quase não temos condições de pensar coisas sutis.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 216).

Minha antipatia. – Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necessitam estourar como bombas, e junto às quais sempre há o perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa mais.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 218).

Sem vaidade. – Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos – não por vaidade, mas para que o ser amado não sofra. Sim, aquele que ama gostaria de parecer um deus – e isso também não por vaidade.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 185, (Aforismo Nº 263).

Espírito e caráter. – Alguns atingem seu apogeu como caráter, mas seu espírito não fica à altura deste – e com outros sucede o contrário.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 179, (Aforismo Nº 235).


Alegria na cegueira. – “Meus pensamentos”, disse o andarilho a sua sombra, “devem me anunciar onde estou; não devem me revelar para onde vou. Eu amo a ignorância a respeito do futuro e não quero perecer de impaciência e do antegozo de coisas prometidas.”
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 194, (Aforismo Nº 287).

Saber terminar. – Os mestres de primeira categoria dão-se a conhecer pelo fato de, tanto nas coisas grandes como nas pequenas, saberem terminar de modo perfeito, seja uma melodia ou um pensamento, seja o quinto ato de uma tragédia ou uma ação política. Os melhores de segunda categoria sempre se inquietam com a aproximação do fim, não descendo para o mar com a orgulhosa e tranqüila cadência das montanhas junto a Portofino, por exemplo – ali onde a baía de Gênova termina de cantar sua melodia.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 191, (Aforismo Nº 281).

A quem você chama de ruim¿ - Aquele que quer sempre envergonhar.
Qual a coisa mais humana para você¿ - Poupar alguém da vergonha.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 186, (Aforismo Nº 273 e 274).

A originalidade. – O que é a originalidade¿ É ver algo que ainda não tem nome, não pode ser mencionado, embora se ache diante de todos. Do modo como são geralmente os homens, apenas o nome lhes torna visível uma coisa. – Os originais foram, quase sempre, os que deram nomes.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 184, (Aforismo Nº 261).


Sacrifícios. - A respeito de sacrifícios e de disposição para o sacrifício, os animais pensam de maneira diferente da dos espectadores – mas nunca lhes foi dada a palavra.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 220).

Poetas e mentirosos. – O poeta vê no mentiroso um irmão de leite ao qual ele roubou o leite; de modo que este irmão permaneceu fraco e não adquiriu sequer a boa consciência.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 222).

Finalidade do castigo.- O castigo tem a finalidade de melhorar aquele que castiga – este é o último recurso dos defensores do castigo.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 219).

Em favor da crítica. – Agora lhe parece um erro o que outrora você amou como sendo uma verdade ou probabilidade: você o afasta de si e imagina que sua razão teve aí uma vitória. Mas talvez esse erro, quando você era outro – você é sempre outro, aliás -, lhe fosse tão necessário quanto as suas “verdades” de agora, semelhante a uma pele que lhe escondia e cobria muitas coisas que você ainda não podia ver. Foi sua nova vida que matou para você aquela opinião, não a sua razão: você não precisa mais dela, e agora ela se despedaça e a irracionalidade surge de dentro dela como um verme que vem à luz. Quando exercemos a crítica, isso não é algo deliberado e impessoal – é, no mínimo com muita freqüência, uma prova de que em nós há energias vitais que estão crescendo e quebrando uma casca. Nós negamos e temos de negar, pois algo em nós está querendo viver e se afirmar, algo que talvez ainda não conheçamos, ainda não vejamos! – Estou dizendo isso em favor da crítica.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 208, (Aforismo Nº 307).


As condições para Deus. – “Deus mesmo não pode existir sem homens sábios” – disse Lutero com boa razão; mas “Deus não pode existir tampouco sem homens tolos” – isso o bom Lutero não chegou a dizer!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 151, (Aforismo Nº 129).


Nenhum comentário:

Postar um comentário