A SUPERFÍCIE É O LOCAL DE COMUNHÃO ENTRE O
PROFUNDO E O RASO.
Oh, esses
gregos! Eles entendiam do viver! Para
isto é necessário permanecer valentemente na superfície, na dobra, na pele,
adorar a aparência, acreditar em formas, em tons, em palavras, em todo o Olimpo
da aparência! Esses gregos eram superficiais – por profundidade!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA (PRÓLOGO). Tradução, notas e posfácio de Paulo César
de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 15
Remédio
para pessimistas
Queixa-se de que
nada lhe agrada¿
Ainda aqueles
caprichos, meu amigo¿
Vendo-o
praguejar, chorar, escarrar,
Perco a
paciência e a alegria,
Ouça meu
conselho! Decida-se um dia
A engolir um
belo e gordo sapo
Rapidamente e
sem olhar! –
A sua dispepsia
ele vai curar!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 27
Toda felicidade
que há na terra,
Meus amigos, vem
da luta!
Sim, a amizade
requer
Os vapores da
pólvora!
Em três coisas
se unem os amigos:
São irmãos na
miséria,
Iguais ante o
inimigo,
E livres diante
da morte!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 37
Historia abscondita
[História oculta]. – Todo grande homem exerce uma força retroativa toda a
história é novamente posta na balança por causa dele, e milhares de segredos do
passado abandonam seus esconderijos – rumo ao sol dele. Não há como ver o que
ainda se tornará história. Talvez o passado ainda esteja essencialmente por
descobrir! Tantas forças retroativas são ainda necessárias!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81
Heresia e
bruxaria. – Pensar diferentemente do costume – isso é muito menos resultado de
um intelecto melhor que de inclinações fortes, más, que desprendem, isolam,
desafiam, inclinações alegremente maldosas e arrogantes. A heresia é a
contrapartida da bruxaria, e certamente, tal como esta, nada inofensiva ou
venerável em si. Os hereges e as bruxas são duas espécies de seres maus: têm em
comum o fato de também se sentirem maus, mas terem um prazer incoercível em
causar dano àquilo que é dominante (pessoas ou opiniões). A Reforma, uma
espécie de redobramento do espírito medieval, num tempo em que ele já tinha a
boa consciência a seu lado, produziu ambos em grande quantidade.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81
Contra o arrependimento. – O pensador
vê seus atos como tentativas e questões para obter explicação acerca de algo:
sucesso e fracasso, para ele, são antes de tudo respostas. Irritar-se ou mesmo
sentir arrependimento, porque alguma coisa deu errado – isso ele deixa para
aqueles que agem por terem recebido ordens, e que podem esperar uma surra, caso
o seu senhor não se satisfaça com o resultado.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.
[...] Para o
pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável
“calmaria” da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem
de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as
naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio é vulgar: assim
como é vulgar trabalhar sem prazer.[...]
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.
Senso
da verdade. – Eu elogio todo ceticismo ao qual posso responder:
“Tentemos!”. Mas já não quero ouvir falar de todas essas coisas e questões que
não permitem o experimento. Este é o limite do meu “senso da verdade”; pois ali
a coragem perdeu seu direito.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 91, (Aforismo51).
Agora e outrora.
– Que importa toda a arte de nossas obras de arte, se chegamos a perder a arte
superior que é a arte das festas¿ Antigamente as obras de arte eram expostas na
grande avenida de festas da humanidade, para lembrança e comemoração de
momentos felizes e elevados. Agora se pretende, com as obras de arte, atrair os
miseramente exaustos e enfermos para fora da via dolorosa da humanidade, para
um instantezinho de prazer; um pouco de embriaguez e de loucura lhes é
oferecido.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 117, (Aforismo Nº 89).
Aprendendo a homenagear. – É preciso
aprender a homenagear, tanto quanto a desprezar. Todo aquele que segue novos
caminhos, e que conduziu muitos por novos caminhos, descobre assombrado como
esses muitos são pobres e canhestros ao exprimir sua gratidão, e mesmo como é
raro a gratidão poder se expressar. É
como se, querendo falar, algo sempre lhe incomodasse a garganta, de forma que
ela apenas pigarreia e silencia com o pigarro. O modo como um pensador chega a
sentir o efeito de suas idéias e a energia transformadora e perturbadora destas
é quase uma comédia; às vezes se diria que os que experimentaram esse efeito
sentiram-se por ele ultrajados, no fundo, e que apenas com grosserias podem
expressar a independência que acreditam ameaçada. São requeridas gerações
inteiras para se inventar apenas uma convenção cortês de agradecimento; e
apenas bem tarde chega o momento em que até na gratidão penetra algum espírito
e genialidade; então geralmente há alguém que é o grande receptor da gratidão,
não só pelo que ele próprio fez de bom, mas sobretudo por aquilo que
gradualmente seus precursores acumularam, um tesouro do que há de melhor e de
mais elevado.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 126-127, (Aforismo Nº 100).
Demasiado judeu.
– Se Deus queria tornar-se objeto de amor, tinha primeiramente que desistir de
julgar e fazer justiça: - um juiz, mesmo um juiz clemente, nunca é objeto de
amor. Neste ponto, o fundador do cristianismo não teve sensibilidade bastante
refinada – como judeu.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 155, (Aforismo Nº 140).
A cor das
paixões. – Naturezas como a do apóstolo Paulo não vêem com bons olhos as
paixões; delas conhecem apenas o que é sujo, deformador e lancinante – daí a
sua tendência idealista visar a destruição das paixões: vêem no que é divino a
completa purificação delas. De modo bem diferente de Paulo e dos judeus, os
gregos dirigiram a sua tendência idealista justamente para as paixões e as
amaram, elevaram, douraram e divinizaram; evidentemente, com as paixões eles
sentiam-se não apenas mais felizes, mas também mais puros e mais divinos. – E
os cristãos¿ Queriam eles tornar-se judeus nesse ponto¿ Terão se tornado¿
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 153, (Aforismo Nº 139).
Guerras de
religião. – O maior progresso das massas, até o momento, foi a guerra de
religião: pois ela mostra que a massa começou a tratar os conceitos com
reverência. As guerras de religião surgem apenas quando as disputas mais sutis
entre as seitas levam ao refinamento da razão geral; de modo que mesmo a plebe
se toma a sério minúcias, chegando a considerar possível que a “eterna salvação
da alma” dependa de mínimas diferenças nos conceitos.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 157, (Aforismo Nº 144).
Sem alegria. –
Basta uma única pessoa sem alegria para criar constante mau humor e céu escuro
em toda uma casa; e somente por milagre ocorre que não haja esta pessoa! – A
felicidade está longe de ser uma enfermidade assim contagiosa – de onde virá
isso¿
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 239).
À beira mar. –
eu jamais construiria uma casa para mim (e é próprio da minha felicidade não
possuir uma!). Se tivesse de fazê-lo, porém, eu a construiria, como certos
romanos, bem junto ao mar e nele penetrando – eu bem gostaria de partilhar
segredos com esse belo monstro.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 240).
A obra e o
artista. – Esse artista é ambicioso e nada mais: afinal, sua obra não passa de
uma lente de aumento que ele oferece a todos os que olham em sua direção.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 241).
[A cada um o que
é seu]. – Por maior que seja a minha avidez de conhecimento, não posso extrair
das coisas mais do que já me pertence – o que é dos outros continua nelas. Como
é possível que alguém seja assaltante ou ladrão¿
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 242).
Palavras de
consolo de um músico. - “Sua vida não
chega aos ouvidos dos homens: para eles você vive uma vida muda, e permanece
oculta para eles toda sutileza da melodia, toda delicada resolução quanto a
seguir ou preceder. É verdade: você não aparece numa larga avenida ao som de
uma banda militar – mas essa boa gente não tem o direito de afirmar, por causa
disso, que em sua vida não há música. Quem tiver ouvidos, que ouça.”
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 178,179, (Aforismo Nº 234).
Na solidão. –
Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto:
pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes
soam diferentes na solidão!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 168, (Aforismo Nº 182).
O ofensivo na
apresentação. – Esse artista me ofende pela maneira como apresenta suas idéias,
suas boas idéias: muito ampla e enfática, e com toscos artifícios de persuasão,
como se falasse à plebe. Após dedicarmos algum tempo à sua arte, achamo-nos
sempre “em má companhia”.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 169, (Aforismo Nº 187).
A música do
melhor futuro. – O primeiro dos músicos, para mim, seria aquele que conhecesse
apenas a tristeza da mais profunda felicidade, e nenhuma tristeza mais: um tal
músico ainda não existiu.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 168 e 169, (Aforismo Nº 183).
Pobre - Hoje ele
é pobre; mas não porque lhe tiraram tudo, e sim porque jogou tudo fora – que
lhe importa isso¿ Ele está habituado a encontrar – Pobres são aqueles que não
entenderam a pobreza voluntária dele.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 185).
Má consciência –
Tudo o que ele faz agora é correto e está em ordem – mas ele tem má
consciência. Pois sua tarefa é o extraordinário.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 186).
O pensador. – Ele é um pensador: isto é,
ele sabe como ver as coisas de modo mais simples do que são.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 189).
Contra algumas defesas. – A mais pérfida
maneira de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com razões
defeituosas.
NIETZSCHE, Friedrich.
A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 191).
O dissabor do orgulhoso. – O orgulhoso
tem seu desgosto até mesmo com os que o levam adiante: ele olha irritado para
os cavalos de seu coche.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 171, (Aforismo Nº 198).
Grande homem! – Pelo fato de alguém ser
“um grande homem”, não podemos concluir que seja um homem; talvez seja apenas
um garoto, ou um camaleão de todas as idades, ou uma mulherzinha enfeitiçada.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 208).
O invejoso. – Ele é um invejoso – não
devemos esperar que ele tenha filhos; ele teria inveja deles, porque não pode
mais ser criança.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 207).
Os mendigos e a indelicadeza. “Uma
pessoa não é indelicada, se usa uma pedra para bater numa porta que está sem
campainha” – é o que pensam os mendigos e necessitados de toda espécie; mas
ninguém lhes dá razão.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 172, (Aforismo Nº 204).
Perigo na voz. –
Com uma voz muito alta na garganta, quase não temos condições de pensar coisas
sutis.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 216).
Minha antipatia. – Não gosto de pessoas
que, para ter algum efeito, necessitam estourar como bombas, e junto às quais
sempre há o perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa
mais.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 218).
Sem vaidade. –
Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos – não por
vaidade, mas para que o ser amado não sofra. Sim, aquele que ama gostaria de
parecer um deus – e isso também não por vaidade.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 185, (Aforismo Nº 263).
Espírito e
caráter. – Alguns atingem seu apogeu como caráter, mas seu espírito não fica à
altura deste – e com outros sucede o contrário.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 179, (Aforismo Nº 235).
Alegria na cegueira. – “Meus pensamentos”,
disse o andarilho a sua sombra, “devem me anunciar onde estou; não devem me
revelar para onde vou. Eu amo a
ignorância a respeito do futuro e não quero perecer de impaciência e do
antegozo de coisas prometidas.”
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 194, (Aforismo Nº 287).
Saber terminar. – Os mestres de primeira
categoria dão-se a conhecer pelo fato de, tanto nas coisas grandes como nas
pequenas, saberem terminar de modo perfeito, seja uma melodia ou um pensamento,
seja o quinto ato de uma tragédia ou uma ação política. Os melhores de segunda
categoria sempre se inquietam com a aproximação do fim, não descendo para o mar
com a orgulhosa e tranqüila cadência das montanhas junto a Portofino, por
exemplo – ali onde a baía de Gênova termina de cantar sua melodia.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 191, (Aforismo Nº 281).
A quem você
chama de ruim¿ - Aquele que quer sempre envergonhar.
Qual a coisa
mais humana para você¿ - Poupar alguém da vergonha.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 186, (Aforismo Nº 273 e 274).
A originalidade. – O que é a
originalidade¿ É ver algo que ainda não tem nome, não pode ser mencionado,
embora se ache diante de todos. Do modo como são geralmente os homens, apenas o
nome lhes torna visível uma coisa. – Os originais foram, quase sempre, os que
deram nomes.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 184, (Aforismo Nº 261).
Sacrifícios. - A respeito de sacrifícios
e de disposição para o sacrifício, os animais pensam de maneira diferente da
dos espectadores – mas nunca lhes foi dada a palavra.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 220).
Poetas e mentirosos. – O poeta vê no
mentiroso um irmão de leite ao qual ele roubou o leite; de modo que este irmão
permaneceu fraco e não adquiriu sequer a boa consciência.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 222).
Finalidade do castigo.- O castigo tem a
finalidade de melhorar aquele que castiga
– este é o último recurso dos defensores do castigo.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 219).
Em
favor da crítica. – Agora lhe parece um erro o que outrora você amou
como sendo uma verdade ou probabilidade: você o afasta de si e imagina que sua
razão teve aí uma vitória. Mas talvez esse erro, quando você era outro – você é
sempre outro, aliás -, lhe fosse tão necessário quanto as suas “verdades” de
agora, semelhante a uma pele que lhe escondia e cobria muitas coisas que você
ainda não podia ver. Foi sua nova vida que matou para você aquela opinião, não
a sua razão: você não precisa mais dela,
e agora ela se despedaça e a irracionalidade surge de dentro dela como um verme
que vem à luz. Quando exercemos a crítica, isso não é algo deliberado e
impessoal – é, no mínimo com muita freqüência, uma prova de que em nós há
energias vitais que estão crescendo e quebrando uma casca. Nós negamos e temos
de negar, pois algo em nós está querendo viver
e se afirmar, algo que talvez ainda não conheçamos, ainda não vejamos! – Estou
dizendo isso em favor da crítica.
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 208, (Aforismo Nº 307).
As condições para Deus. – “Deus mesmo
não pode existir sem homens sábios” – disse Lutero com boa razão; mas “Deus não
pode existir tampouco sem homens tolos” – isso o bom Lutero não chegou a dizer!
NIETZSCHE,
Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 151, (Aforismo Nº 129).
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