sábado, 30 de junho de 2012

História dos filmes de animação (cinema alemão -atualidade). GESCHICHTE DES DEUTSCHEN ANIMATIONSFILMS


Assisti esses filmes hoje na Biblioteca do Instituto Goethe...Os filmes são bacanas e super engraçados...São vários curtas metragens de vários diretores contidos neste DVD que traz filmes referente à produção de cinema de animação alemão desde 1989 até 2006. Vale a pena assistir. Tem legenda em português no Goethe Instituto Rio...Pode assistir lá na hora ou pegar emprestado e levar para casa..Pode ficar uma semana de posse do DVD.

Copiei e colei o texto em alemão sobre este DVD ..extraído do link abaixo.


DVD 5 von 6 der Reihe 

Puppentrick, Zeichentrick, Computeranimation und künstlerische Mischformen – die DVD ZEITGENOSSEN umfasst die spannendsten künstlerischen Kurzfilme aus dem Deutschland der letzten zwanzig Jahre. Mit dem Fall der Mauer veränderte sich auch die deutsche Animationslandschaft. Das DEFA-Trickfilmstudio in Dresden wurde geschlossen, nachdem der Versuch gescheitert war, das Studio unter neuen wirtschaftlichen Rahmenbedingungen weiterzuführen. Neue Filmhochschulen wurden gegründet, z. B. in Ludwigsburg oder Köln, und es kam zu einer Verstärkung der Animationsausbildungsgänge. Neben dem Zuwachs an Ausbildungsstätten trug auch die Digitalisierung der Animationsprozesse zu einer Zunahme und Beschleunigung von Animationsproduktionen. Abstrakt, opulent, witzig, subversiv und immer mit Tiefgang und voller brillanter Bildideen – der künstlerische Animationsfilm aus Deutschland besticht durch sein hohes künstlerisches Niveau, das ihn auf Festivals im In- und Ausland so erfolgreich gemacht hat. Ein einzigartiges Kompendium zeitgenössischer Animationskultur.


Die Filme: 
Balance (Christoph Lauenstein, Wolfgang Lauenstein)
Die Beichte (Jochen Kuhn)
Die Kreuzung (Raimund Krumme)
Der Hahn (Heinrich Sabl)
Clocks (Kirsten Winter)
Wir lebten im Gras (Andreas Hykade)
Der falsche Spieler (Mariola Brillowska)
Quest (Tyron Montgomery, Thomas Stellmach)
Rubicon (Gil Alkabetz)
Feuerhaus (Bärbel Neubauer)
Die Trösterkrise (Daniel Nocke)
YO LO VI (Hanna Nordholt, Fritz Steingrobe)
_grau (Robert Seidel)
458nm (Jan Bitzer, Tom Weber, Ilija Brunck)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sétima arte, um culto moderno: o idealismo estético e o cinema



Este livro abaixo foi indicado pelo Prof. Dr. João Luiz Vieira (depto de cinema da UFF) durante palestra sobre DOUGLAS SIRK no CCBB (29\06\12 entre 14h e 16h)

LIVRO:
Sétima arte, um culto moderno: o idealismo estético e o cinema (DEBATES)
Autor: Ismail Xavier (prof. Dr. depto de cinema da USP)
São Paulo: 1978, Editora Perspectiva
275 páginas

Capa

quinta-feira, 28 de junho de 2012

CADA UM É CADA UM...Crer ou não crer não é sinônimo de felicidade e bem estar interior



Existem pessoas que crêem no Sagrado (Deus ou outro nome), etc e vivem bem e é feliz. Existe gente que crê e não é feliz nos bastidores da alma e da intimidade (mas vive de felicidade de aparência na coletividade). Existe muitos que nao crêem e sao felizes e vivem de bem com a vida com tb existem outros q nao crêem e estao no fundo do poço...Crer ou nao crer não é sinônimo de felicidade e bem estar interior...O Universo caminha independente de nossas crenças e descrenças. Cada um é cada um.
Joe

E "Deus" seria muito sádico e sacano se (...) condenasse a diversidade...



Não são todos os pais e todas as mães que estão preocupados em terem filhos APENAS HETEROSSEXUAIS. Muitos de meus amigos que são papais e mamães, não estão nem aí mais pra isso e aceitam o que vier (homossexuais, bissexuais, etc), pois o Ser precisa ser o que ele verdadeiramente é na raiz. O lance é a gente ter várias amizades e conviver com diversas pessoas de múltiplos nichos além dos muros da igreja para a gente ver que existem outras pessoas que pensam diferente do mundinho restrito (às vezes medíocre) das comunidades de fé (muitas xiitas e fundamentalistas)....Temos que conviver com a diversidade para ver que o Universo (Deus??) não se preocupa com a cor da unha do elefante, pois na manifestação explosiva criativa, ele dá a luz a todos e mata todos sem distinção. Confesso que não estou nenhum pouquinho preocupado com a temperatura acima de zero do inferno e com a temperatura abaixo de zero do céu. Só acho que Deus seria um sádico muito sacano se colocasse pessoas para morrerem carbonizadas e outras para morrerem congeladas no paraíso de ouro e neve pesada ao som de coros angelicais, fomentando aos seus fiéis e infiéis, a trágica ilusão de um casaco mágico com textura fina\invisível chamado de CORPO GLORIFICADO....
Joe.....

terça-feira, 26 de junho de 2012

Mostra de Cinema português contemporâneo na CAIXA Cultural do Rio de Janeiro (26 de junho a 1 de julho)


Mostra, que decorre até 1 de julho, no Centro Cultural da Caixa Económica Federal, inclui títulos de João Canijo, Sérgio Tréfaut ou José Filipe Costa, entre outros.
O Rio de Janeiro recebe a partir de hoje uma mostra de cinema português contemporâneo que contará com a presença dos realizadores Sérgio Tréfaut, de "Viagem a Portugal", e José Felipe Costa, criador de "Linha Vermelha".
Para a abertura, será exibido o primeiro filme de ficção do documentarista Sérgio Tréfaut, "Viagem a Portugal", seguido de um encontro com o realizador.
Na quarta-feira, vai ser apresentado "Entre Muros", de José Filipe Costa e João Ribeiro, com a presença do primeiro, para um debate com o público.
Ao longo da semana, outras 15 obras cinematográficas portuguesas serão exibidas, entre elas "Palavra e Utopia", de Manuel de Oliveira, protagonizado por Lima Duarte, e o premiado "Sangue do Meu Sangue", de João Canijo.
Entre os filmes escolhidos para serem exibidos ao público brasileiro figura ainda uma série de curtas-metragens, com destaque para as de animação "Viagem a Cabo Verde", de José Miguel Ribeiro, e "A Noite", de Regina Pessoa.
Para a sessão de encerramento foi escolhido o filme "Juventude em Marcha", de Pedro Costa.
A mostra vai decorrer entre os dias 26 de junho e 01 de julho, no Centro Cultural da Caixa Económica Federal, no Rio de Janeiro.
A mesma seleção seguirá na próxima semana para São Paulo, onde será apresentada na Caixa Cultura de São Paulo, entre os dias 3 e 8 de julho.

 EXTRAÍDO de:

RIO FESTIVAL DE CINEMA GAY (de 29 de junho a 08 de julho) de 2012


Foto: Uma iniciativa de primeira ordem! Vamos?
Dia 28 de junho: DIA INTERNACIONAL DO ORGULHO LGBT!
TODOS CONVIDADOS!

Adoro homens que são excelentes diretores, pois eles são capazes de filmar o real para nos trazer a magia e o encantamento da beleza da sétima arte.
Adoro as mulheres que fazem a mesma coisa..
Adoro travestis que dominam a arte de manipulação artística das câmeras.
Os cineastas também são pensadores, pois eles pensam através de imagem\ação e de imagem\movimento (Gilles Deleuze).
Maiores informações:



Recebi a divulgação através do INSTITUTO GOETHE RIO (Brasil\Alemanha) e compartilho convosco este evento de cinema voltado para temática gay.

Subject: Rio Festival Gay de Cinema 2012
Date: Mon, 25 Jun 2012 17:13:51 -0300
From: Almerinda.Stenzel@rio.goethe.org
To: Bibliothek@rio.goethe.org

Quanto menos a palavra DEUS entrar em nosso vocabulário, vírgulas e pontos determinativos, mais honesta será a nossa abordagem social\caridosa\espirituosa



O fato de se adotar algum livro como regra de fé e prática, comporta a possibilidade de aceitabilidade geral e\ou parcial, mas não elimina a possibilidade de discordância em alguns pontos onde não há sequer coerência e aplicabilidade com as novas mutações sociais da modernidade. Os textos canônicos devem ser utilizados para abençoar, complementar a auto-ajuda das pessoas e não para ditar xiitamente o que elas tem que fazer em nome de benefícios ou malefícios no aqui\além. Cada um deve cuidar da sua vida, pois o Grandioso Sagrado saberá o que fazer com nós pobres mortais no aqui e no porvir... Quanto menos a palavra Deus entrar em nosso vocabulário, vírgulas e pontos determinativos, mais honesta, saudável e humana se tornará nossa abordagem social\caridosa\espirituosa...
Joe...
 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

)Nietzsche: Filosofia, arte e vida (CAIXA Cultural do Rio de Janeiro de 26 a 29 de junho de 2012: Programação com o horário das palestras))



Mais informações:
nietzschecaixa@gmail.com

Nietzsche: Filosofia, arte e vida
26 a 29 de junho de 2012
CAIXA Cultural Rio de Janeiro

Discutir a atualidade do pensamento nietzschiano e suas possíveis interpretações e interfaces é o objetivo do ciclo de palestras Nietzsche: Filosofia, arte e vida, que oferece encontros com alguns dos principais pesquisadores do filósofo. Entre os temas abordados, estão a importância da cultura grega e da afirmação da vida, a crítica aos valores judaico-cristãos, as contribuições nietzscheanas para a educação e as singulares compreensões do trágico, da liberdade, do corpo e da subjetividade.

Programação: 26 de junho
18h – Rosa Dias - Nietzsche, a arte e a vida
19h30 – Adriany Mendonça - O sentimento trágico em Nietzsche

27 de junho
18h – Danilo Bilate - Nietzsche, a liberdade e o trágico
19h30 – Alexandre Mendonça - Nietzsche por uma educação voltada para a vida

28 de junho
18h – Iracema Macedo - A importância dos gregos no pensamentode Nietzsche
19h30 – Miguel Angel de Barrenechea - Nietzsche e sua reinterpretação do corpo: a subjetividade carnal

29 de junho
18h – Maria Cristina Franco Ferraz - Atualidade do pensamento de Nietzsche
19h30 – André Martins - Críticas de Nietzsche à tradição

Organização e Coordenação Geral:
André Masseno e Tiago Barros


sábado, 23 de junho de 2012

NEUKÖLLN Unlimited (filme alemão sobre libaneses fugitivos que moram em Berlim)



Neukölln. Uma cidade (bairro) dentro de uma cidade com 300.000 habitantes. Pessoas de mais de 160 nacionalidades vivem aqui. O distrito de Berlim é famosa por sua comunidade multi-cultural - e também notório, pelo menos desde "Knallhart" e "Rütli".

Em “Neukölln” os meios de comunicação, o que significa incerteza, gangues de jovens, o tráfico de drogas. Mas isso é realmente o caso? A família Akkouch é uma típica Neukölln família: ela é jovem, criativa e pensa em encontrar uma saída em todas as crises. O mais velho filho Hassan é um campeão alemão de Breakdance, filha Lial trabalha como promotora num Boxstalls, e o mais novo, traz consigo o belo nome de Maradona quer de qualquer jeito se tornar um super talento na\da Alemanha. Mas um problema parece insolúvel: Os Akkouchs vêm do Líbano, fugiram da guerra civil e esperam serem tolerados em solo Alemanha, no entanto, a remoção pode ser feito de repente, isto é subitamente.

"Neukölln Unlimited" mostra durante um ano, a vida do Akkouchs. A câmera acompanha-os em suas rotinas diárias, através da luta cotidiana para o reconhecimento oficial e mostra a determinação absoluta para viver no país que eles amam. "Neukölln Unlimited" é um apaixonante, anabolizante e estimulante sinal de uma área que é considerada por muitos como o Bronx alemão. "Neukölln Unlimited" - um filme que faz graça da vida!

Este filme constou no programa do vencedor Festival Internacional de Cinema de Berlim do Júri Generation 14plus Urso de Cristal 2010

(Tradução do alemão: Joevan Caitano)

SINOPSE: Original (Alemão)

Trailer.


BAÚ DE ESPANTOS (Mário Quintana). link Download PDF



Baú de Espantos foi uma das últimas obras de Quintana e reuniu 99 poemas até aquela data inéditos, havendo inclusive escritos de sua juventude, como o poema Maria , de 1923, quando ele tinha 27 anos, o que confere ao livro uma estrutura de rigorosa montagem e um caráter especial. Quase todos os poemas são breves e em versos livres, mas há sonetos (alguns com métrica e rima) e mesmo poemas em quadras com versos heptassílabos e rimados.

CLIQUE AQUI E FAÇA O DOWNLOAD deste Livro de Poesias


ESCRITOS SOBRE DIREITO de Nietzsche. (Transcrição dos Melhores Momentos)



NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola.


Ninguém acusa sem alimentar o pensamento dissimulado do castigo e da vingança – mesmo quando este é o seu próprio destino, ou seja, quando ele mesmo é acusado. – Toda queixa é uma acusação, todo contentamento é um elogio: como quer que seja um e outro caso, sempre tornamos alguém responsável.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 177.

Pode-se perdoar¿
Como se pode perdoar se eles não sabem o que fazem! Não se tem absolutamente nada a perdoar. – Mas um homem sabe alguma vez plenamente o que faz¿ E se isto permanece sempre pelo menos duvidoso, segue-se disso que os homens ainda jamais têm nada a ser perdoado, e o exercício da graça é, para o mais razoável, uma coisa impossível. Afinal de contas, se os criminosos soubessem realmente o que tinham feito, nós teríamos também o direito de perdão caso tivéssemos o direito de culpar e castigar. Mas este direito nós não temos.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 186.

As numerosas mortes de mártires se tornaram as fontes de energia para os homens, no sentido da obstinação numa convicção, não naquele de um severo exame. As atrocidades prejudicam a verdade, mas servem à vontade [que se manifesta na fé].

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 174.

Também se é injusto quando se acha os grandes homens muito grandes e as coisas do mundo muito profundas. Quem quer dar uma significação mais profunda à vida cerca o mundo com teias de fábulas; [...]

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 175-176.

Fala-se de circunstâncias atenuantes: elas são admitidas como atenuando a culpa, para que assim a pena seja menor. Mas observando de perto a origem da culpa, se apaga pouco a pouco esta culpa por força de atenuá-la, e então nenhuma pena seria mais permitida. Pois, no fundo, sendo dado que a vontade não é livre, não pode haver justamente culpa. Quando se dá à pena um valor de intimidação, não poderá mais haver então circunstâncias atenuantes que se relacionem com a origem da culpa. Uma vez constatado o crime, a pena se seguirá inexoravelmente; o homem é aqui um meio em vista do bem de todos. O cristianismo também diz; não julgueis!, em consideração, é verdade, ao dano pessoal. O Cristo: “Deus julgará”. Mas isto é um erro.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 175.

As sentenças dos tribunais criminais, com seus jurados, são falsas pela mesma razão pela qual a avaliação formulada por um corpo de professores sobre um aluno é falsa: elas decorrem de um compromisso entre os diferentes julgamentos emitidos; a supor, no caso mais favorável, que somente um dos jurados tenha julgado justamente, o resultado global será a média entre este julgamento e vários outros, falsos, quer dizer, ele será falso em todos os casos.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 173.

Impedimento do suicídio
Há um direito em virtude do qual se pode tirar a vida de um homem, mas nenhum que permita tirar a vida dele a sua morte: isto é uma crueldade pura e simples.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 168.

A: O que significa justiça¿ B: Minha justiça é o amor abrindo o olho. A: Mas imagina o que tu dizes: esta justiça exonera todo mundo com exceção daquele que julga! Este amor suporta não somente todas as penas, mas também todas as culpas! B: Que assim seja!

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 130.

(...) Todas as coisas boas foram outrora coisas más; de todo pecado original saiu uma virtude original. O casamento, por exemplo, apareceu durante muito tempo ser uma ofensa ao direito da comunidade; outrora se pagava uma multa por ter sido tão pouco modesto, apropriando-se de uma mulher (...).
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 123.

A justiça [a equidade] nasce entre os homens que gozam de um poder quase igual, tal como viu corretamente Tucídides [nesse terrível diálogo dos deputados atenienses e mélicos] é quando não há superioridade claramente reconhecida e quando um conflito só leva a perdas recíprocas e sem resultados nasce a idéia do entendimento e da negociação sobre as pretensões de cada lado: o caráter de troca é o caráter inicial da justiça. Cada um satisfaz o outro, na medida em que recebe aquilo que aprecia mais do que o outro. Dá-se a cada um o que ele quer ter e que será doravante seu e se recebe em troca o que se deseja. A justiça é, portanto, troca e equilíbrio, uma vez colocada uma relação de forças mais ou menos iguais: é assim que originalmente a vingança pertence à esfera da justiça, ela é uma troca.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 77.

O homem é invejoso, hostil por excelência, a sua inveja quer prejudicar; e é por isso que ele não suporta uma situação em que a inveja não tenha força suficiente para ferir a legalidade.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 75.

(...) A satisfação transcendente da vingança

O sentimento da justiça é um ressentimento, ele está ligado à vingança: tal como a representação de uma justiça no além está ligada ao sentimento de vingança.
A justiça consiste na represália [ofensa como retaliação]; à ofensa deve corresponder uma injúria recíproca: talião. Esta é uma concepção tão velha quanto o mundo e sempre popular. Por outro lado, buscou-se uma razão e se chegou, pela justiça oficial, a uma razão final: prevenção da ofensa pela intimidação.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 72.
  
(...) A diferença entre o justo e o injusto é muito simples para aqueles que sofrem, mas ela é difícil para aqueles que cometem uma injustiça; o conceito do justo surge exatamente naquele que sofre. Aqueles que sofrem se vingam, por isso é que eles professam a justiça para todos. Pressupõe-se uma força de resistência daqueles que sofrem a injustiça: só há direito igual para forças iguais, portanto entre iguais. [...]

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 69

[...] “não existirá mais exploração” – a meus ouvidos, estas palavras soam como se alguém prometesse inventar uma forma de vida que se isentaria voluntariamente de qualquer função orgânica. A “exploração” não é característica de uma sociedade corrompida ou imperfeita e primitiva: ela faz parte da essência da vida, da qual ela constitui uma função primordial, ela decorre muito exatamente da vontade de poder, que é justamente vontade de vida.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Páginas 112- 113

De alguém que fica raivoso conosco, devemos nos resguardar como de alguém que teria atentado contra a nossa vida, pois o fato é que ainda estamos vivos, mas isto apenas se deve à ausência do poder de matar; se os olhares bastassem, isto teria sido feito há muito tempo. [...]

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 166.

Para onde pode conduzir a sinceridade

Alguém tinha o mau hábito de se explicar muito sinceramente, quando era o caso, sobre os motivos que o levavam a agir e que eram tão bons e maus quanto são os motivos de todos os homens. Primeiro ele causou escândalo, depois suscitou a desconfiança, depois foi decididamente apontado como perigoso e em seguida banido da sociedade, até que finalmente a justiça se lembrou, nesta ou naquela circunstância, de um ser tão rejeitado, para quem ela antigamente não tinha olhos, ou pelo menos tinha os olhos fechados. Esta falta de discrição quanto ao segredo geral e esta tendência imperdoável de ver o que ninguém queria ver [a si mesmo] levaram-no à prisão e a uma morte prematura.

O erro da absolvição eclesiástica [assim como, freqüentemente são as punições do Estado] vem do fato de que é preciso conseguir que um ato isolado não se reproduza. Quando a lembrança de uma culpa deixa de atormentar, o mecanismo interno que ela articulou funciona mais facilmente e não há mais obstáculo para que se cante novamente a velha ladainha. É por isso que não é raro encontrar entre as mulheres católicas as que são piedosas e adúlteras, que peca todos os dias e se fazem absolver todos os dias.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 208.

O “assassino” que condenamos é um fantasma: “o homem capaz de um assassinato”. Mas todos somos capazes disso.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 206.

Que aquele que quer matar o seu adversário se pergunte se esta não é a melhor maneira de eternizá-lo dentro de si mesmo.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 205.

“A aversão ao crime é de tal maneira inata em nós, que acreditamos muito facilmente naquele que o confessa, na necessidade em que ele se achava de cometê-lo”.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 214.

Os homens sofrem por causa da vergonha, não do crime. Poucas pessoas são bastantes sutis para fazer aqui esta distinção.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 215.

Não percebemos as ações como morais senão a partir do momento em que a sua utilidade não é mais percebida: portanto, trata-se de uma utilidade imposta, hereditária e consagrada. Pode-se muito bem dar uma indicação com auxílio de punições e recompensas, mas não é em função da punição ou da recompensa que estas ações são exigidas, e sim porque uma autoridade as exige por razões DESCONHECIDAS!
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 215.

É um erro grave querer estudar as leis penais de um povo como sendo a expressão do seu caráter: as leis não revelam a natureza de um povo, mas antes o que lhe parece estranho, singular, monstruoso, como algo exterior a ele. As leis dizem respeito às exceções da moral dos costumes e as penas mais duras ferem aquilo mesmo que é conforme aos costumes de um povo vizinho. [...]
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 216.

Lógica no roubo. Poder ser ladrão. – Todos querem comprar pelo menor preço possível: quer dizer, cada um rouba o seu próximo enquanto for necessário para este último se deixar roubar.
NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre Direito. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Rio de Janeiro: 2009, Editora PUC\Edições Loyola, Página 219.








HUMANO DEMASIADO HUMANO de Nietzsche -VOLUME II (transcrição dos Melhores momentos)


(NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume II. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002)

Humano, Demasiado Humano II

(NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume II. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002)



Expressar apenas pensamentos seletos ao conversar com pessoas desconhecidas ou não muito conhecidas, falar dos amigos célebres, de experiências e viagens importantes é indício de não ser orgulhoso, ou ao menos de não desejar parecer que é. A vaidade é a máscara de polidez do orgulhoso. (p. 112)

Com pessoas a quem falta o respeito que é pessoal não devemos andar, ou devemos antes colocar-lhes, implacavelmente, as algemas da compostura. (p. 112)

A boa amizade nasce quando se preza bastante o outro, mais do que a si mesmo; quando também se ama o outro, mas não tanto quanto a si mesmo, e quando, para facilitação do trato, sabe-se juntar a isso uma tintura e penugem de intimidade, mas sabiamente guardando-se, ao mesmo tempo, da verdadeira intimidade, e evitando confundir Eu com Você. (p. 112,113)

Quando mudamos muito, nossos amigos que não mudaram se tornam fantasmas do nosso passado: sua voz nos chega vaga e horripilante – como se ouvíssemos a nós mesmos, porém mais jovens, mais duros e imaturos. (p. 113)

Todas as pessoas que deixamos esperar por muito tempo na antecâmara do nosso favor, entram em fermentação e ficam azedas. (p. 115)

Quando velhos amigos se revêem após uma longa separação, com freqüência sucede aparentarem interesse ao falar de coisas que se tornaram indiferentes para eles: e às vezes ambos o percebem, mas não ousam levantar o véu – graças a uma triste dúvida. Assim nascem conversas como que no reino dos mortos. (p. 116)

Raramente quebramos a perna quando subimos trabalhosamente na vida, mas sim quando começamos a fazer corpo mole e tomar os caminhos fáceis. (p. 118)

Todo grande amor traz consigo o cruel pensamento de matar o objeto do amor, para subtraí-lo de uma vez por todas ao sacrílego jogo da mudança: pois o amor tem mais receio da mudança do que do aniquilamento. (p. 122)

Dizer duas vezes – É bom exprimir algo duas vezes, dando-lhes um pé direito e um pé esquerdo. A verdade pode se sustentar numa só perna; mas com duas ela andará e circulará. (p. 171)

A proibição sem motivos – Uma proibição cujo motivo não entendemos ou não admitimos é, não só para o homem teimoso, mas também para o ávido de conhecimento, quase uma injunção: chega-se a testá-la, para assim descobrir por que houve a proibição. Interdições morais, como as dos dez mandamentos, são adequadas apenas para épocas de razão subjugada: hoje em dia, uma proibição como “não matarás”, “não cometerás adultério”, enunciada sem motivos, terá um efeito antes pernicioso do que útil. (p.194)

Com a imitação, o ruim ganha prestígio, o bom perde – sobretudo na arte. (p. 151)

Sinal de grandes mudanças – Se sonhamos com pessoas há muito esquecidas ou mortas, este é um sinal de que passamos por uma grande mudança e de que o chão em que vivemos foi totalmente revolvido: então os mortos se levantam e nossa antiguidade se converte em novidade. (p. 151)

Perigo na admiração. – Na excessiva admiração por virtudes alheias, pode-se perder o gosto em suas próprias virtudes e, por falta de exercício, finalmente perdê-las, sem adquirir as alheias em troca. (p. 146)

Da terra dos canibais - Na solidão o solitário devora a si mesmo, na multidão o devoram muitos. Agora escolha. (p. 144)

É preciso saber obscurecer-se, a fim de livrar-se do enxame de admiradores importunos. (p. 148)

Muitas coisas precisamos deixar no Hades do sentir semiconsciente e não querer salvar de sua existência sombria; do contrário elas se tornam, como pensamento e palavra, nossos amos demoníacos, e exigem cruelmente o nosso sangue. (p. 150)


Perseguidor de Deus. – Paulo concebeu, Calvino retomou a idéia de que a danação se acha eternamente aplicada a um sem-número de indivíduos, e que esse belo plano universal foi estabelecido para que nele se manifeste a glória de Deus; ou seja, céu e terra e humanidade devem existir para – satisfazer a vaidade do Senhor! Que cruel e insaciável vaidade deve ter cintilado na alma daquele que concebeu ou reconcebeu algo assim! – ou seja, Paulo continuou Saulo, afinal – o perseguidor de Deus. (p. 209, aforismo 85)

Perigo na pessoa - Quanto mais Deus foi considerado como pessoa, tanto menos as pessoas lhe foram fiéis. Elas se apegam muito mais às suas idéias do que àquelas que mais amam: por esse motivo se sacrificam pelo Estado, pela Igreja e também por Deus – enquanto ele continua seu produto, sua idéia, e não é tomado muito pessoalmente. Neste último caso, quase sempre discutem com ele: até o homem mais devoto já deixou escapar a amarga exclamação: “Meu Deus, por que me abandonaste”¿. (p. 206, 207, aforismo nº 80)

O que é “obstinado”¿ - O caminho mais curto não é o mais reto possível, mas aquele em que os ventos mais favoráveis inflam nossas velas: eis o que diz o ensinamento dos navegantes. Não segui-lo é ser obstinado: a firmeza de caráter é aí maculada pela estupidez. (p. 198, aforismo nº 59)

O conteúdo da consciência moral. -  O conteúdo de nossa consciência moral é tudo que, nos anos da infância, foi de nós exigido regularmente e sem motivo, por seres que adorávamos ou temíamos. A partir da consciência moral é despertado, então, o sentimento de obrigação (“isso tenho que fazer, isso não) que não pergunta: por quê¿. – Nos casos em que algo é feito com o “porque”, o ser humano age sem consciência moral; mas nem por isso contra ela. – A crença em autoridades é a fonte da consciência moral: logo, não é a voz de Deus no coração da pessoa, mas a voz de algumas pessoas na pessoa.
(p. 195, aforismo nº 52)

Esqueletos pintados. Esqueletos pintados: são os autores que querem substituir por cores artificiais o que lhes falta de carne.
(p. 230 , aforismo 147)

Quando se é mal-entendido como um todo, é impossível erradicar inteiramente um mal-entendido específico. Deve-se levar isso em conta, para não gastar forças em sua própria defesa inutilmente.
(Página 143, parte I,  aforismo nº 346)

Bens móveis e bens de raiz. – Quando a vida tratou alguém de maneira totalmente rapace, tirando-lhe tudo o que podia em matéria de honras, alegrias, seguidores, saúde, propriedade de toda espécie, talvez esse alguém descubra mais tarde, após o assombro inicial, que é mais rico do que antes. Pois somente então ele sabe o que lhe é tão próprio que ladrão nenhum pode tocar: e, assim, talvez saia de toda a pilhagem e desordem com a nobreza de um grande proprietário de terras.
(p. 142, Parte I, aforismo 343)

A posse possui. – Apenas em certa medida a posse torna o homem mais livre e independente; um grau adiante – e a posse torna-se senhor, e possuidor, escravo; ele tem de lhe sacrificar seu tempo, sua reflexão, e de ora em diante sente-se obrigado a freqüentar determinado círculo, sente-se atado a um lugar, incorporado a um Estado: tudo isso, talvez, contrariando sua necessidade mais íntima e essencial.
(Página 132, aforismo nº 318)

[...] A vida espiritual deve voltar a ser verdadeiramente real em nós – é preciso que adquira um ímpeto nascido do pessoal, que nos derrube e force a nos levantarmos de verdade -  e esse ímpeto só se manifesta como legítimo na simplicidade, não no esnobe decadente, no forçado...Vida espiritual só pode ser vivida e configurada de modo que os participantes sejam atingidos por ela diretamente em sua existência [...]
MARTIN HEIDEGGER citado por RÜDIGER SAFRANSKI. Heidegger um mestre na Alemanha entre o bem e o mal. São Paulo: Geração Editorial, 2000, página 119


[...] “escrever melhor significa contemporaneamente também pensar melhor; encontrar coisas sempre mais dignas de serem comunicadas e saber de fato comunicá-las”. [...]. “Ora, o bom autor não se distingue só pela força e concisão do seu raciocínio. Ele também se adivinha, se fareja, contanto que seja homem de nariz fino. Um escritor assim se obriga e se dedica constantemente antes de tudo a estabelecer e a tornar sempre mais sólidos, de modo rigoroso, os seus conceitos (a unir conceitos unívocos às suas palavras) e, antes que isto aconteça, não gosta de escrever”.

FRIDRICH NIETZSCHE citado por DOMENICO LOSURDO em NIETZSCHE O REBELDE ARISTOCRATA: Biografia intelectual e balanço crítico, Editora Renan, página 865.

“Tácito relata que Cristo, autor e primeiro responsável pela difusão da superstição e do contágio, é condenado “ao suplício por ordem do procurador Pôncio Pilatos”. Em O Anticristo vemos Pilatos representar a “ciência” ao passo que Jesus e Paulo exprimem a “fé”, a qual não é senão “o veto à ciência” (AC, 47). A primeira luta entre luzes, ciência e tolerância, por um lado, e fé e fanatismo, por outro, ocorre já no ocaso do mundo antigo: de um lado está Pilatos, que declara que não sabe o que é a verdade, do outro lado está Jesus, que com ela pretende identificar-se: “O nobre sarcasmo de um romano, ante o qual se comete um vergonhoso abuso da palavra ‘verdade’, enriqueceu o Novo Testamento com a única palavra que tem valor – que é a sua crítica e até a sua aniquilação: ‘o que é a verdade¿ Nietzsche não esconde, antes sublinha a dimensão social do conflito. À atitude que segue os princípios do ceticismo e da tolerância da classe dominante de Roma, satisfeita consigo, se opõe a necessidade de certezas dogmáticas do “escravo”, inspirado e agitado por idéias loucas de emancipação.”

DOMENICO LOSURDO, NIETZSCHE O REBELDE ARISTOCRATA: Biografia intelectual e balanço crítico, página 854.

“Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável ‘calmaria’ da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito”.

Friedrich Nietzsche citado por Domenico Losurdo em Nietzsche o rebelde aristocrata, editora Revan, página 945.

Intrínseca e intoleravelmente “oriental” é um deus “ávido de honras na sua sede celeste”, que vê um crimen lesae maiestatis no pecado de toda mínima infração à norma por ele soberanamente publicada. Não obstante o seu poder desmedido, ele é também “ávido de vingança” e exige de cada homem uma humilhação terrível e  igual, com a completa renúncia de todo senso de dignidade.” Ser contrito, aviltado, rolar no pó – esta é a primeira e derradeira condição para unir-se à sua graça”. Aos olhos de Nietzsche, quem tem algo de oriental é o monoteísmo enquanto tal, com seu culto de um deus único, onipotente e perfeito, cuja infinita distância em relação aos homens torna impercebíveis ou anula as diferenças existentes entre estes últimos: “O deus único como preparação moral do rebanho”. Não pode haver aristocracia na terra se esta for moral do rebanho”. Não pode haver aristocracia na terra se esta for cancelada e negada no céu: “Deve haver muitos super-homens [...]. Um só deus seria sempre um diabo!.

DOMENICO LOSURDO, Nietzsche o rebelde aristocrata, página 965.

Junto com o mito genealógico cristão-germânico ou cristão-ariano-germânico, Nietzsche acabou colocando em crise também o mito genealógico “judeu-cristão-grego-ocidental”, que é aquele hoje chamado a legitimar a missão planetária imperial do Ocidente. Um não é menos ridículo do que o outro. Se o primeiro procura ocultar as origens judaicas de Jesus, que se torna contra sua vontade ariano e até germânico, o segundo afasta as origens orientais de judaísmo e cristianismo, que se tornam sem querer tão ocidentais que são chamados a legitimar as recorrentes cruzadas contra o Oriente. [...]. Por outro lado, mesmo entre oscilações e contradições, Nietzsche chama a atenção para os conflitos acontecidos entre judaísmo e cristianismo, conflitos tão ásperos que, por algum tempo, os judeus tiveram relações mais amigáveis com o islã do que com o cristianismo; isto é demonstrado, entre outras coisas, pela esplêndida civilização mourisca, da qual o filósofo faz o mais alto elogio. [...]

DOMENICO LOSURDO, NIETZSCHE O REBELDE ARISTOCRATA, páginas 965, 966.

HUMANO DEMASIADO HUMANO de Nietzsche - VOLUME I (Transcrição dos melhores momentos)


O caráter imutável - Que o caráter seja imutável não é uma verdade no sentido estrito; esta frase estimada significa apenas que, durante a breve duração da vida de um homem, os motivos que sobre ele atuam não arranham com profundidade suficiente para destruir os traços impressos por milhares de anos. Mas, se imaginássemos um homem de oitenta mil anos, nele teríamos um caráter absolutamente mutável: de modo que dele se desenvolveria um grande número de indivíduos diversos, um após o outro. A brevidade da vida humana leva a muitas afirmações erradas sobre as características do homem.
(NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002. p. 49, aforismo 41).

Hipocondria – Existem homens que se tornam hipocondríacos por empatia e preocupação com outra pessoa; a espécie de compaixão que daí nasce não é outra coisa que uma doença. [...].
 NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002.p. 52, aforismo nº 47.

Economia da bondade. - A bondade e o amor, as ervas e forças mais salutares no trato com seres humanos, são achados tão preciosos que bem que desejaríamos que se procedesse o mais economicamente possível, na aplicação desses meios balsâmicos: mas isto é impossível. A economia da bondade é o sonho dos mais arrojados utopistas.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002.p. 52, aforismo nº 48.

O hipócrita que representa sempre o mesmo papel deixa enfim de ser hipócrita. [...]. Aquele que sempre usa máscara do rosto amável terá enfim poder sobre os ânimos benévolos, sem os quais não pode ser obtida a expressão da amabilidade – e estes por fim adquirem poder sobre ele, ele é benévolo. (p. 55)


A mentira – Por que, na vida cotidiana, os homens normalmente dizem a verdade¿ - Não por que um deus tenha proibido a mentira, certamente. Mas, em primeiro lugar, porque é mais cômodo; pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. (Eis por que, segundo Swift, quem conta uma mentira raramente nota o fado que assume; pois para sustentar a mentira ele tem que inventar outras vinte.) Depois, porque é vantajoso, em circunstâncias simples, falar diretamente “quero isto, fiz isto” e coisas assim; ou seja, porque a via da imposição e da autoridade é mais segura que a da astúcia. – Mas se uma criança foi educada em circunstâncias domésticas complicadas, então manipula a mentira naturalmente, e involuntariamente sempre diz o que corresponde a seu interesse; um sentido para a verdade, uma aversão à mentira lhe é estranha e inacessível, e ela mente com toda a inocência.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002.p. 56, aforismo nº 54.

O que se pode prometer – Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são conseqüência do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. – Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor quando, sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno. (aforismo 58, p. 59)

Querer se vingar e se vingar. - Pensar em se vingar e fazê-lo significa ter um violento acesso febril, que no entanto passa; mas pensar em se vingar e não ter força nem coragem para fazê-lo é carregar consigo um sofrimento crônico, um envenenamento do corpo e da alma. A moral, que vê apenas as intenções, avalia igualmente os dois casos; habitualmente o primeiro é visto como pior (pelas más conseqüências que o ato de vingança pode trazer). Ambas as avaliações têm vista curta. ( aforismo 60, p. 59-60)

Aonde pode levar a franqueza. – Alguém tinha o mau hábito de se expressar com total franqueza sobre os motivos pelos quais agia, que eram tão bons ou ruins como os de todas as pessoas. Primeiro causou estranheza, depois suspeita, foi então afastado e proscrito, até que a justiça se lembrou de um ser tão abjeto, em ocasião em que normalmente não tinha olhos ou os fechava. A falta de discrição quanto ao segredo de todos e o irresponsável pendor de ver o que ninguém quer ver – a si mesmo – levaram-no à prisão e à morte prematura.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002. p. 61, aforismo nº 65.

Medida para todos os dias. – Raramente se erra, quando se liga as ações extremas à vaidade, as medíocres ao costume e as mesquinhas ao medo. (aforismo, 74, p. 65)

Mal-entendido acerca da virtude. – Quem conheceu o vício sempre ligado ao prazer, como a pessoa que teve uma juventude ávida de prazeres, imagina que a virtude deve estar ligada ao desprazer. Mas quem foi muito atormentado por paixões e vícios anseia encontrar na virtude o sossego e a felicidade da alma. Daí ser possível que dois virtuosos não se entendam absolutamente. (p. 65, aforismo 75)

A pele da alma. – Assim como os ossos , a carne, as entranhas e os vasos sangüíneos são envolvidos por uma pele que torna a visão do homem suportável, também as emoções e paixões da alma são revestidas de vaidade: ela é a pele da alma. ( aforismo 82, p.67)

Enganos do sofredor e do perpetrador – [...] nada percebemos de injusto, quando a diferença entre nós e outro ser é muito grande, e matamos um mosquito, por exemplo, sem qualquer remorso. [...] Nesse caso, causa e efeito estão envoltos em grupos de idéias e sentimentos muito distintos; enquanto inadvertidamente se pressupõe que o perpetrador e o sofredor pensam e sentem do mesmo modo, e conforme esse pressuposto se mede a culpa de um pela dor do outro. (Nietzsche, aforismo 81, p. 66-67)

A vaidade enriquece. – Como seria pobre o espírito humano sem a vaidade! Com ela, no entanto,ele se semelha um empório repleto e sempre reabastecido, que atrai milhares de compradores de toda espécie: quase tudo eles podem achar e adquirir, desde que tragam a moeda válida (a admiração).
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002. p. 66, aforismo nº 79.


“Dostoiévski considerava o tormento de crianças, e especialmente sua degradação sexual, como um símbolo do mal sobre a ação pura e irreparável. Ele concebia isso como a encarnação – alguns críticos chamariam de “o universal concreto” – do pecadoo imperdoável. Torturar ou violentar uma criança é dessacralizar no homem a imagem de Deus, onde essa imagem é mais luminosa”.
STEINER, George. Tostói ou Dostoievski. Coleção estudos. Tradução: Isa Kopelman. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 150

„Jesus disse que é das criancinhas o reino dos céus porque ele admitia que as crianças são portadoras de fragilidade (que não implica em ser frouxa), e esta fragilidade traz consigo a seiva da disponibilidade e da flexibilidade. Nas crianças há o reservatório movente da boa vontade que é fruto do ser estar aí no mundo em forma de fragilidade. Resumindo, Jesus disse que ser frágil é ser tocável, receptivo. Na fase adulta, adentrar no reino do Sagrado implica em esforço (exercício) de ficar fraco, tocável e exposto, isto é, é estar em atitude constante de concentração da (para) abertura“.

(Joeblackvan inspirado na aula do prof. Dr. Gilvan Fögel na disciplina „Heidegger e o caminho da linguagem“ – IFCS –UFRJ, 19\10\2011)

O cristão comum. – Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecialidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002. p. 95, aforismo nº 119..

Relações com o eu superior. – Cada pessoa tem o seu dia bom, em que descobre o seu eu superior; e a verdadeira humanidade exige que alguém seja avaliado conforme esse estado, e não conforme seus „dias de semana“ de cativeiro e sujeição. Deve-se, por exemplo, julgar e reverenciar um pintor segundo a visão mais elevada que ele pôde ver e representar. Mas os próprios indivíduos se relacionam de modo muito variado com este eu superior, e com frequência são atores de si mesmos, na medida em que depois repetem continuamente o que são nesses momentos. Muitos vivem no temor e na humildade frente a seu ideal, e bem gostariam de negá-lo: temem o seu eu superior, porque este, quando fala, fala de modo exigente. Além disso, ele possui uma espectral liberdade de aparecer ou de permanecer ausente; por isso é frequentemente chamado de dom dos deuses, quando tudo o mais, na realidade, é dom dos deuses (do acaso): ele, porém, é a própria pessoa.
(NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002, página 297, aforismo nº 624)´


[...] Não foi o conflito de opiniões que tornou a história tão violenta, mas o conflito da fé nas opiniões, ou seja, das convicções. Se todos aqueles que tiveram em tão alta conta a sua convicção, que lhes fizeram sacrifícios de toda espécie e não pouparam honra, corpo e vida para servi-la, tivessem dedicado apenas metade de sua energia a investigar com que direito se apegavam a esta ou àquela convicção, por que caminho tinham a ela chegado: como se mostraria pacífica a história da humanidade! Quanto mais conhecimento não haveria! Todas as cruéis cenas, na perseguição aos hereges de toda espécie, nos teriam sido poupadas por duas razões: primeiro, porque os inquisidores teriam inquirido antes de tudo dentro de si mesmo, superando a pretenção de defender a verdade absoluta; segundo, porque os próprios hereges não teriam demonstrado maior interesse por teses tão mal fundamentadas como as dos sectários e „ortodoxos“ religiosos, após tê-las examinado.
(NIETZSCHE, FRIEDRICH. Humano Demasiado Humano. Volume I. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002, página 300 - 301, aforismo nº 630)´

Alienado no presente. – Há grandes vantagens em alguma vez alienar-se muito de seu tempo e ser como que arrastado de suas margens, de volta para o oceano das antigas concepções do mundo. Olhando para a costa a partir de lá, abarcamos pela primeira vez sua configuração total, e ao nos reaproximarmos dela teremos a vantagem de, no seu conjunto, entendê-la melhor do que aqueles que nunca a deixaram. (p. 294, aforismo nº 616)

Mau humor com os outros e com o mundo. – Quando, como é tão frequente, desafogamos nosso mau humor nos outros, e na realidade o sentimos em relação a nós mesmos, o que no fundo procuramos é anuviar e enganar o nosso julgamento: queremos motivar esse mal humor a posteriori, mediante os erros, as deficiências dos outros, e assim não ter olhos para nós mesmos. – Os homens religiosamente severos, juízes implacáveis consigo mesmos, foram também os que mais denegriram a humanidade: nunca houve um santo que reservasse para si os pecados e para os outros as virtudes; e tampouco alguém que, conforme o preceito de Buda, ocultasse às pessoas o que tem de bom e lhes deixasse ver apenas o que tem de mau.
(p. 290, aforismo 607)

Amor e reverência. – O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas.
(p. 289, aforismo nº 603)

Principiantes filosóficos. – Se alguém começou a partilhar a sabedoria de um filósofo, anda pelas ruas com o sentimento de haver mudado e se tornado um grande homem; pois depara com muitos que não conhecem tal sabedoria, e então tem de apresentar um julgamento novo e desconhecido acerca de tudo: porque reconhece um código de leis, acha que é obrigado a se comportar como um juiz.
(p. 286, aforismo 594)

Idade da presunção. – O autêntico período de presunção, nos homens de talento, está entre os vinte e seis e os trinta anos de idade; é o tempo da primeira maturação, com um forte resto de acidez. Com base no que sentem dentro de si, exigem respeito e humildade de pessoas que pouco ou nada percebem deles, e, faltando isso num primeiro momento, vingam-se com aquele olhar, aquele gesto presunçoso, aquele tom de voz que um ouvido e um olho sutis reconhecem em todas as produções dessa idade, sejam poemas ou filosofias, pinturas ou composições. Homens mais velhos e mais experientes sorriem diante disso, e comovidos se recordam dessa bela idade, na qual nos irritamos com a vicissitude de ser tanto e parecer tão pouco. Depois parecemos mais, é verdade – mas perdemos a boa crença de sermos muita coisa: que continuemos então a ser, por toda a vida, incorrigíveis tolos vaidosos.
(p. 288, aforismo nº 288)

O primeiro pensamento do dia. – A melhor maneira de começar o dia é, ao acordar, imaginar se nesse dia não podemos dar alegria a pelo menos uma pessoa. Se isso pudesse valer como substituto do hábito religioso da oração, nossos semelhantes lucrariam com tal mudança.
(p. 285, aforismo nº 590)

Saber usar a maré. – Para os fins do conhecimento é preciso saber usar a corrente interna que nos leva a uma coisa, e depois aquela que, após algum tempo, nos afasta da coisa. (p. 268, aforismo nº 500).

A duração do dia. – Quando temos muitas coisas para pôr dentro dele, o dia tem centenas de bolsos. (p. 273, 529)

Fugindo da luz. – A boa ação foge da luz tão ansiosamente quanto a má ação: esta por temer que que, ao se tornar conhecida, sobrevenha a dor (na forma de punição); aquela teme que, ao se tornar conhecida, desapareça o prazer (o puro prazer consigo mesmo, que cessa quando a ele se junta a satisfação da vaidade).
(p. 273, aforismo nº 528)

Objetivos grandes demais. – Quem publicamente se propõe grandes metas e depois percebe, privadamente, que é fraco demais para elas, em geral também não possui força bastante para renegar em público aqueles objetivos, e inevitavelmente se torna um hipócrita. (Friedrich Nietzsche, humano demasiado humano, volume 1, companhia das letras, p. 275, aforismo nº 541)

Avaliamos os serviços que uma pessoa nos presta segundo o valor que ela atribui, e não segundo o valor que têm para nós. (Nietzsche, p. 274, aforismo 533).

A GAIA CIÊNCIA. Friedrich Nietzsche (Transcrição dos melhores momentos)...rs



A SUPERFÍCIE É O LOCAL DE COMUNHÃO ENTRE O PROFUNDO E O RASO.

Oh, esses gregos! Eles entendiam do viver! Para isto é necessário permanecer valentemente na superfície, na dobra, na pele, adorar a aparência, acreditar em formas, em tons, em palavras, em todo o Olimpo da aparência! Esses gregos eram superficiais – por profundidade!
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA (PRÓLOGO). Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 15


Remédio para pessimistas

Queixa-se de que nada lhe agrada¿
Ainda aqueles caprichos, meu amigo¿
Vendo-o praguejar, chorar, escarrar,
Perco a paciência e a alegria,
Ouça meu conselho! Decida-se um dia
A engolir um belo e gordo sapo
Rapidamente e sem olhar! –
A sua dispepsia ele vai curar!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 27



Toda felicidade que há na terra,
Meus amigos, vem da luta!
Sim, a amizade requer
Os vapores da pólvora!
Em três coisas se unem os amigos:
São irmãos na miséria,
Iguais ante o inimigo,
E livres diante da morte!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 37

Historia abscondita [História oculta]. – Todo grande homem exerce uma força retroativa toda a história é novamente posta na balança por causa dele, e milhares de segredos do passado abandonam seus esconderijos – rumo ao sol dele. Não há como ver o que ainda se tornará história. Talvez o passado ainda esteja essencialmente por descobrir! Tantas forças retroativas são ainda necessárias!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81

Heresia e bruxaria. – Pensar diferentemente do costume – isso é muito menos resultado de um intelecto melhor que de inclinações fortes, más, que desprendem, isolam, desafiam, inclinações alegremente maldosas e arrogantes. A heresia é a contrapartida da bruxaria, e certamente, tal como esta, nada inofensiva ou venerável em si. Os hereges e as bruxas são duas espécies de seres maus: têm em comum o fato de também se sentirem maus, mas terem um prazer incoercível em causar dano àquilo que é dominante (pessoas ou opiniões). A Reforma, uma espécie de redobramento do espírito medieval, num tempo em que ele já tinha a boa consciência a seu lado, produziu ambos em grande quantidade.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 81

Contra o arrependimento. – O pensador vê seus atos como tentativas e questões para obter explicação acerca de algo: sucesso e fracasso, para ele, são antes de tudo respostas. Irritar-se ou mesmo sentir arrependimento, porque alguma coisa deu errado – isso ele deixa para aqueles que agem por terem recebido ordens, e que podem esperar uma surra, caso o seu senhor não se satisfaça com o resultado.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.


[...] Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela desagradável “calmaria” da alma, que precede a viagem venturosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio é vulgar: assim como é vulgar trabalhar sem prazer.[...]
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 85.

Senso da verdade. – Eu elogio todo ceticismo ao qual posso responder: “Tentemos!”. Mas já não quero ouvir falar de todas essas coisas e questões que não permitem o experimento. Este é o limite do meu “senso da verdade”; pois ali a coragem perdeu seu direito.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 91, (Aforismo51).


Agora e outrora. – Que importa toda a arte de nossas obras de arte, se chegamos a perder a arte superior que é a arte das festas¿ Antigamente as obras de arte eram expostas na grande avenida de festas da humanidade, para lembrança e comemoração de momentos felizes e elevados. Agora se pretende, com as obras de arte, atrair os miseramente exaustos e enfermos para fora da via dolorosa da humanidade, para um instantezinho de prazer; um pouco de embriaguez e de loucura lhes é oferecido.

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 117, (Aforismo Nº 89).

Aprendendo a homenagear. – É preciso aprender a homenagear, tanto quanto a desprezar. Todo aquele que segue novos caminhos, e que conduziu muitos por novos caminhos, descobre assombrado como esses muitos são pobres e canhestros ao exprimir sua gratidão, e mesmo como é raro a gratidão poder se expressar. É como se, querendo falar, algo sempre lhe incomodasse a garganta, de forma que ela apenas pigarreia e silencia com o pigarro. O modo como um pensador chega a sentir o efeito de suas idéias e a energia transformadora e perturbadora destas é quase uma comédia; às vezes se diria que os que experimentaram esse efeito sentiram-se por ele ultrajados, no fundo, e que apenas com grosserias podem expressar a independência que acreditam ameaçada. São requeridas gerações inteiras para se inventar apenas uma convenção cortês de agradecimento; e apenas bem tarde chega o momento em que até na gratidão penetra algum espírito e genialidade; então geralmente há alguém que é o grande receptor da gratidão, não só pelo que ele próprio fez de bom, mas sobretudo por aquilo que gradualmente seus precursores acumularam, um tesouro do que há de melhor e de mais elevado.

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 126-127, (Aforismo Nº 100).

Demasiado judeu. – Se Deus queria tornar-se objeto de amor, tinha primeiramente que desistir de julgar e fazer justiça: - um juiz, mesmo um juiz clemente, nunca é objeto de amor. Neste ponto, o fundador do cristianismo não teve sensibilidade bastante refinada – como judeu.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 155, (Aforismo Nº 140).

A cor das paixões. – Naturezas como a do apóstolo Paulo não vêem com bons olhos as paixões; delas conhecem apenas o que é sujo, deformador e lancinante – daí a sua tendência idealista visar a destruição das paixões: vêem no que é divino a completa purificação delas. De modo bem diferente de Paulo e dos judeus, os gregos dirigiram a sua tendência idealista justamente para as paixões e as amaram, elevaram, douraram e divinizaram; evidentemente, com as paixões eles sentiam-se não apenas mais felizes, mas também mais puros e mais divinos. – E os cristãos¿ Queriam eles tornar-se judeus nesse ponto¿ Terão se tornado¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 153, (Aforismo Nº 139).


Guerras de religião. – O maior progresso das massas, até o momento, foi a guerra de religião: pois ela mostra que a massa começou a tratar os conceitos com reverência. As guerras de religião surgem apenas quando as disputas mais sutis entre as seitas levam ao refinamento da razão geral; de modo que mesmo a plebe se toma a sério minúcias, chegando a considerar possível que a “eterna salvação da alma” dependa de mínimas diferenças nos conceitos.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 157, (Aforismo Nº 144).


Sem alegria. – Basta uma única pessoa sem alegria para criar constante mau humor e céu escuro em toda uma casa; e somente por milagre ocorre que não haja esta pessoa! – A felicidade está longe de ser uma enfermidade assim contagiosa – de onde virá isso¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 239).

À beira mar. – eu jamais construiria uma casa para mim (e é próprio da minha felicidade não possuir uma!). Se tivesse de fazê-lo, porém, eu a construiria, como certos romanos, bem junto ao mar e nele penetrando – eu bem gostaria de partilhar segredos com esse belo monstro.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 240).

A obra e o artista. – Esse artista é ambicioso e nada mais: afinal, sua obra não passa de uma lente de aumento que ele oferece a todos os que olham em sua direção.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 241).

[A cada um o que é seu]. – Por maior que seja a minha avidez de conhecimento, não posso extrair das coisas mais do que já me pertence – o que é dos outros continua nelas. Como é possível que alguém seja assaltante ou ladrão¿
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 180, (Aforismo Nº 242).

Palavras de consolo de um músico. -  “Sua vida não chega aos ouvidos dos homens: para eles você vive uma vida muda, e permanece oculta para eles toda sutileza da melodia, toda delicada resolução quanto a seguir ou preceder. É verdade: você não aparece numa larga avenida ao som de uma banda militar – mas essa boa gente não tem o direito de afirmar, por causa disso, que em sua vida não há música. Quem tiver ouvidos, que ouça.”
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 178,179, (Aforismo Nº 234).

Na solidão. – Quando se vive só, não se fala muito alto, também não se escreve muito alto: pois teme-se a ressonância vazia – a crítica da ninfa Eco. – E todas as vozes soam diferentes na solidão!
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 168, (Aforismo Nº 182).

O ofensivo na apresentação. – Esse artista me ofende pela maneira como apresenta suas idéias, suas boas idéias: muito ampla e enfática, e com toscos artifícios de persuasão, como se falasse à plebe. Após dedicarmos algum tempo à sua arte, achamo-nos sempre “em má companhia”.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página, 169, (Aforismo Nº 187).

A música do melhor futuro. – O primeiro dos músicos, para mim, seria aquele que conhecesse apenas a tristeza da mais profunda felicidade, e nenhuma tristeza mais: um tal músico ainda não existiu.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 168 e 169, (Aforismo Nº 183).

Pobre - Hoje ele é pobre; mas não porque lhe tiraram tudo, e sim porque jogou tudo fora – que lhe importa isso¿ Ele está habituado a encontrar – Pobres são aqueles que não entenderam a pobreza voluntária dele.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 185).

Má consciência – Tudo o que ele faz agora é correto e está em ordem – mas ele tem má consciência. Pois sua tarefa é o extraordinário.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 169, (Aforismo Nº 186).

O pensador. – Ele é um pensador: isto é, ele sabe como ver as coisas de modo mais simples do que são.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 189).

Contra algumas defesas. – A mais pérfida maneira de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com razões defeituosas.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 170, (Aforismo Nº 191).

O dissabor do orgulhoso. – O orgulhoso tem seu desgosto até mesmo com os que o levam adiante: ele olha irritado para os cavalos de seu coche.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 171, (Aforismo Nº 198).

Grande homem! – Pelo fato de alguém ser “um grande homem”, não podemos concluir que seja um homem; talvez seja apenas um garoto, ou um camaleão de todas as idades, ou uma mulherzinha enfeitiçada.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 208).

O invejoso. – Ele é um invejoso – não devemos esperar que ele tenha filhos; ele teria inveja deles, porque não pode mais ser criança.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 173, (Aforismo Nº 207).

Os mendigos e a indelicadeza. “Uma pessoa não é indelicada, se usa uma pedra para bater numa porta que está sem campainha” – é o que pensam os mendigos e necessitados de toda espécie; mas ninguém lhes dá razão.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 172, (Aforismo Nº 204).

Perigo na voz. – Com uma voz muito alta na garganta, quase não temos condições de pensar coisas sutis.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 216).

Minha antipatia. – Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necessitam estourar como bombas, e junto às quais sempre há o perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa mais.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 175, (Aforismo Nº 218).

Sem vaidade. – Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos – não por vaidade, mas para que o ser amado não sofra. Sim, aquele que ama gostaria de parecer um deus – e isso também não por vaidade.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 185, (Aforismo Nº 263).

Espírito e caráter. – Alguns atingem seu apogeu como caráter, mas seu espírito não fica à altura deste – e com outros sucede o contrário.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 179, (Aforismo Nº 235).


Alegria na cegueira. – “Meus pensamentos”, disse o andarilho a sua sombra, “devem me anunciar onde estou; não devem me revelar para onde vou. Eu amo a ignorância a respeito do futuro e não quero perecer de impaciência e do antegozo de coisas prometidas.”
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 194, (Aforismo Nº 287).

Saber terminar. – Os mestres de primeira categoria dão-se a conhecer pelo fato de, tanto nas coisas grandes como nas pequenas, saberem terminar de modo perfeito, seja uma melodia ou um pensamento, seja o quinto ato de uma tragédia ou uma ação política. Os melhores de segunda categoria sempre se inquietam com a aproximação do fim, não descendo para o mar com a orgulhosa e tranqüila cadência das montanhas junto a Portofino, por exemplo – ali onde a baía de Gênova termina de cantar sua melodia.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 191, (Aforismo Nº 281).

A quem você chama de ruim¿ - Aquele que quer sempre envergonhar.
Qual a coisa mais humana para você¿ - Poupar alguém da vergonha.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 186, (Aforismo Nº 273 e 274).

A originalidade. – O que é a originalidade¿ É ver algo que ainda não tem nome, não pode ser mencionado, embora se ache diante de todos. Do modo como são geralmente os homens, apenas o nome lhes torna visível uma coisa. – Os originais foram, quase sempre, os que deram nomes.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 184, (Aforismo Nº 261).


Sacrifícios. - A respeito de sacrifícios e de disposição para o sacrifício, os animais pensam de maneira diferente da dos espectadores – mas nunca lhes foi dada a palavra.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 220).

Poetas e mentirosos. – O poeta vê no mentiroso um irmão de leite ao qual ele roubou o leite; de modo que este irmão permaneceu fraco e não adquiriu sequer a boa consciência.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 222).

Finalidade do castigo.- O castigo tem a finalidade de melhorar aquele que castiga – este é o último recurso dos defensores do castigo.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 176, (Aforismo Nº 219).

Em favor da crítica. – Agora lhe parece um erro o que outrora você amou como sendo uma verdade ou probabilidade: você o afasta de si e imagina que sua razão teve aí uma vitória. Mas talvez esse erro, quando você era outro – você é sempre outro, aliás -, lhe fosse tão necessário quanto as suas “verdades” de agora, semelhante a uma pele que lhe escondia e cobria muitas coisas que você ainda não podia ver. Foi sua nova vida que matou para você aquela opinião, não a sua razão: você não precisa mais dela, e agora ela se despedaça e a irracionalidade surge de dentro dela como um verme que vem à luz. Quando exercemos a crítica, isso não é algo deliberado e impessoal – é, no mínimo com muita freqüência, uma prova de que em nós há energias vitais que estão crescendo e quebrando uma casca. Nós negamos e temos de negar, pois algo em nós está querendo viver e se afirmar, algo que talvez ainda não conheçamos, ainda não vejamos! – Estou dizendo isso em favor da crítica.
NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 208, (Aforismo Nº 307).


As condições para Deus. – “Deus mesmo não pode existir sem homens sábios” – disse Lutero com boa razão; mas “Deus não pode existir tampouco sem homens tolos” – isso o bom Lutero não chegou a dizer!

NIETZSCHE, Friedrich. A GAIA CIÊNCIA. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2001, página 151, (Aforismo Nº 129).