segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Esse Ofício do Verso. (Livro de Borges..melhores momentos..citações importantes)







Procurei para comprar, mas não encontrei em lojas, pois está esgotado e nem em vários sebos que pesquisei no centro do Rio. Fui encontrá-lo na Biblioteca Nacional. Sentei uma manhã e tarde para ler e transcrever os trechos que me interessaram.

SINOPSE do Livro:
Perdidas há mais de trinta anos, estas seis palestras proferidas por Jorge Luis Borges em 1967-68 na Universidade Harvard agora nos chegam de volta, num lance do destino digno do autor das Ficções. Transcrito de fitas só recentemente descobertas, Esseofício do verso é um testemunho inédito da leveza e elegância com que um dos maiores escritores do século XX trata os enigmas da língua e da literatura. Além de um comentário profundamente pessoal sobre diversos aspectos da produção literária, o livro é uma introdução aos prazeres da palavra, ao artesanato da escrita. 
Talvez o mais impressionante seja o modo como Borges consegue, por meio de um delicado equilíbrio entre clareza e humildade, comunicar seu vasto conhecimento literário a uma platéia de leigos. Sua aparente simplicidade serve tanto para fazê-lo mais acessível como para abrandar o impacto de alguns de seus argumentos mais contundentes, como a morte anunciada do romance e certos equívocos da história literária. Quer discuta a metáfora, a poesia épica, as origens do verso, o sentido na poesia ou seu próprio "credo poético", Borges oferece um espetáculo tão cativante quanto intelectualmente profundo. Uma verdadeira aula em seis lições, a cargo de um mestre no auge de suas faculdades.


CITAÇÕES IMPORTANTES (Melhores Momentos)


BORGES, Jorge Luiz. Esse ofício do verso. Organização: Calin-Andrei Mihailescu. Tradução: José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2000.

Sempre que folheava livros de estética tinha a desconfortável sensação de estar lendo as obras de astrônomos que nunca contemplavam as estrelas. Quero dizer, eles escreviam sobre poesia como se a poesia fosse uma tarefa, e não o que ela é em realidade: uma paixão e um prazer.
BORGES 2000, p; 11

“O que é o tempo¿ Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é, então não sei.” Sinto mesmo em relação à poesia.
SANTO AGOSTINHO, citado por BORGES 2000. p. 27

[...] No meu entender, qualquer coisa sugerida é bem mais eficaz do que qualquer coisa apregoada. Talvez a mente humana tenha uma tendência a negar declarações. Lembrem o que dizia Emerson: argumentos não convencem ninguém. Não convencem porque são apresentados como argumentos. E então os contemplamos, e refletimos sobre eles, e os ponderamos, e acabamos decidindo contra eles. Mas quando algo é simplesmente dito ou – melhor ainda – insinuado, há uma espécie de hospitalidade em nossa imaginação. Estamos dispostos a aceitá-lo.
BORGES 2000, p. 40

[...] Não acredito que na Índia as pessoas tenham um sentido da história. Uma das pedras no sapato dos europeus que escrevem ou escreveram histórias da filosofia indiana é que toda a filosofia é vista como contemporânea pelos indianos. Ou seja, eles estão interessados nos próprios problemas, não no mero fato biográfico ou histórico, cronológico. Que fulano era mestre de sicrano, que veio antes, que escreveu sob tal influência – todas estas coisas não são nada para eles. Eles se importam com o enigma do universo. Suponho que, numa época futura ( e espero que ela não tarde), os homens se importarão com a beleza, não com as circunstâncias da beleza.
BORGES 2000, p. 81

Tenho para mim que sou essencialmente um leitor. Como sabem, eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é muito mais importante que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever.
BORGES 2000, p. 103

Divirtia-me uma ideia – a ideia de que, embora a vida de uma pessoa seja composta de milhares e milhares de momentos e dias, esses muitos instantes e esses muitos dias podem ser reduzidos a um único: o momento em que a pessoa sabe quem é, quando se vê diante de si. Imagino que, quando Judas beijou Jesus (se é que o fez), sentiu naquele momento, que era um traidor, que ser um traidor era o seu destino, e que estava sendo fiel ao seu pérfido destino.
BORGES 2000, p. 105

Lembrem que os gnósticos disseram que o único jeito de se livrar de um pecado é cometê-lo, porque depois você se arrepende dele.
[...] Somos pelo simples fato de vivermos no presente. Ninguém descobriu ainda a arte de viver no passado, e nem mesmo os futuristas descobriram o segredo de viver no futuro. Somos modernos, queiramos ou não. Talvez o próprio fato de atacar a modernidade seja agora um modo de ser moderno.
BORGES 2000, p. 117.

Acho que agora cheguei, não a uma certa sabedoria, mas talvez a um certo bom senso. Vejo-me como um escritor. O que significa ser um escritor para mim¿ Significa simplesmente ser fiel a minha imaginação. Quando escrevo algo, mas o tomo como factualmente verdadeiro (o simples fato é uma trama de circunstâncias e acidentes), mas como fiel a outro algo mais profundo. Quando escrevo uma história, escrevo-a porque de alguma forma acredito nela – não como se acredita na simples história, mas antes como se acredita num sonho ou numa ideia.
BORGES 2000, pp. 118, 119.

“O fato central de minha vida foi a existência das palavras e a possibilidade de tecê-las em poeisa.” (BORGES).

Quando escrevo, tento ser fiel ao sonho e não às circunstâncias. Claro, em minhas histórias (dizem-me que devo falar sobre elas) há circunstâncias verdadeiras, mas de algum modo senti que estas circunstâncias deviam sempre ser contadas com certo quinhão de inverdade. Não há satisfação em contar uma história como realmente aconteceu. Temos de mudar as coisas, ainda que as achemos insignificantes; caso contrário, não devemos nos tomar como artistas, mas talvez como meros jornalistas ou historiadores. Embora suponha que todos os verdadeiros historiadores soubessem que podiam ser tão imaginativos quanto os romancistas.
BORGES 2000, páginas 120, 121.

Li várias histórias da filosofia indiana. Os autores (ingleses, alemães, franceses, americanos, etc) sempre se admiram com o fato de que, na Índia, as pessoas não têm senso histórico – que tratam todos os pensadores como se fossem contemporâneos. Traduzem as palavras da Filosofia antiga para o jargão moderno da filosofia atual. Mas isso simboliza algo corajoso. Simboliza a ideia de que se acredita na filosofia ou que se acredita na poesia – que as coisas outrora belas podem continuar sendo belas.
BORGES 2000, página 129.

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