SINOPSE do Livro:
Perdidas há mais de trinta anos, estas seis
palestras proferidas por Jorge Luis Borges em 1967-68 na Universidade Harvard
agora nos chegam de volta, num lance do destino digno do autor das Ficções. Transcrito de fitas só recentemente descobertas, Esseofício do
verso é um testemunho inédito da leveza e
elegância com que um dos maiores escritores do século XX trata os enigmas da
língua e da literatura. Além de um comentário profundamente pessoal sobre
diversos aspectos da produção literária, o livro é uma introdução aos prazeres
da palavra, ao artesanato da escrita.
Talvez o mais impressionante seja o modo como
Borges consegue, por meio de um delicado equilíbrio entre clareza e humildade,
comunicar seu vasto conhecimento literário a uma platéia de leigos. Sua
aparente simplicidade serve tanto para fazê-lo mais acessível como para
abrandar o impacto de alguns de seus argumentos mais contundentes, como a morte
anunciada do romance e certos equívocos da história literária. Quer discuta a
metáfora, a poesia épica, as origens do verso, o sentido na poesia ou seu
próprio "credo poético", Borges oferece um espetáculo tão cativante
quanto intelectualmente profundo. Uma verdadeira aula em seis lições, a cargo
de um mestre no auge de suas faculdades.
CITAÇÕES IMPORTANTES (Melhores Momentos)
BORGES, Jorge
Luiz. Esse ofício do verso.
Organização: Calin-Andrei Mihailescu. Tradução: José Marcos Macedo. São Paulo:
Companhia Das Letras, 2000.
Sempre que
folheava livros de estética tinha a desconfortável sensação de estar lendo as
obras de astrônomos que nunca contemplavam as estrelas. Quero dizer, eles
escreviam sobre poesia como se a poesia fosse uma tarefa, e não o que ela é em
realidade: uma paixão e um prazer.
BORGES 2000, p;
11
“O que é o
tempo¿ Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é,
então não sei.” Sinto mesmo em relação à poesia.
SANTO AGOSTINHO,
citado por BORGES 2000. p. 27
[...] No meu
entender, qualquer coisa sugerida é bem mais eficaz do que qualquer coisa
apregoada. Talvez a mente humana tenha uma tendência a negar declarações.
Lembrem o que dizia Emerson: argumentos não convencem ninguém. Não convencem
porque são apresentados como argumentos. E então os contemplamos, e refletimos
sobre eles, e os ponderamos, e acabamos decidindo contra eles. Mas quando algo
é simplesmente dito ou – melhor ainda – insinuado, há uma espécie de
hospitalidade em nossa imaginação. Estamos dispostos a aceitá-lo.
BORGES 2000, p.
40
[...] Não
acredito que na Índia as pessoas tenham um sentido da história. Uma das pedras
no sapato dos europeus que escrevem ou escreveram histórias da filosofia
indiana é que toda a filosofia é vista como contemporânea pelos indianos. Ou
seja, eles estão interessados nos próprios problemas, não no mero fato
biográfico ou histórico, cronológico. Que fulano era mestre de sicrano, que
veio antes, que escreveu sob tal influência – todas estas coisas não são nada
para eles. Eles se importam com o enigma do universo. Suponho que, numa época
futura ( e espero que ela não tarde), os homens se importarão com a beleza, não
com as circunstâncias da beleza.
BORGES 2000, p.
81
Tenho para mim
que sou essencialmente um leitor. Como sabem, eu me aventurei na escrita; mas
acho que o que li é muito mais importante que o que escrevi. Pois a pessoa lê o
que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz
de escrever.
BORGES 2000, p.
103
Divirtia-me uma
ideia – a ideia de que, embora a vida de uma pessoa seja composta de milhares e
milhares de momentos e dias, esses muitos instantes e esses muitos dias podem
ser reduzidos a um único: o momento em que a pessoa sabe quem é, quando se vê
diante de si. Imagino que, quando Judas beijou Jesus (se é que o fez), sentiu
naquele momento, que era um traidor, que ser um traidor era o seu destino, e
que estava sendo fiel ao seu pérfido destino.
BORGES 2000, p.
105
Lembrem que os
gnósticos disseram que o único jeito de se livrar de um pecado é cometê-lo,
porque depois você se arrepende dele.
[...] Somos pelo
simples fato de vivermos no presente. Ninguém descobriu ainda a arte de viver
no passado, e nem mesmo os futuristas descobriram o segredo de viver no futuro.
Somos modernos, queiramos ou não. Talvez o próprio fato de atacar a modernidade
seja agora um modo de ser moderno.
BORGES 2000, p.
117.
Acho que agora
cheguei, não a uma certa sabedoria, mas talvez a um certo bom senso. Vejo-me
como um escritor. O que significa ser um escritor para mim¿ Significa
simplesmente ser fiel a minha imaginação. Quando escrevo algo, mas o tomo como
factualmente verdadeiro (o simples fato é uma trama de circunstâncias e
acidentes), mas como fiel a outro algo mais profundo. Quando escrevo uma
história, escrevo-a porque de alguma forma acredito nela – não como se acredita
na simples história, mas antes como se acredita num sonho ou numa ideia.
BORGES 2000, pp.
118, 119.
“O fato central
de minha vida foi a existência das palavras e a possibilidade de tecê-las em
poeisa.” (BORGES).
Quando escrevo,
tento ser fiel ao sonho e não às circunstâncias. Claro, em minhas histórias
(dizem-me que devo falar sobre elas) há circunstâncias verdadeiras, mas de
algum modo senti que estas circunstâncias deviam sempre ser contadas com certo
quinhão de inverdade. Não há satisfação em contar uma história como realmente
aconteceu. Temos de mudar as coisas, ainda que as achemos insignificantes; caso
contrário, não devemos nos tomar como artistas, mas talvez como meros
jornalistas ou historiadores. Embora suponha que todos os verdadeiros
historiadores soubessem que podiam ser tão imaginativos quanto os romancistas.
BORGES 2000,
páginas 120, 121.
Li várias
histórias da filosofia indiana. Os autores (ingleses, alemães, franceses,
americanos, etc) sempre se admiram com o fato de que, na Índia, as pessoas não
têm senso histórico – que tratam todos os pensadores como se fossem
contemporâneos. Traduzem as palavras da Filosofia antiga para o jargão moderno
da filosofia atual. Mas isso simboliza algo corajoso. Simboliza a ideia de que
se acredita na filosofia ou que se acredita na poesia – que as coisas outrora belas
podem continuar sendo belas.
BORGES 2000,
página 129.
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