Kid caminho, kid bengala e kid cosquinha: Natalismos de um Cristo chamado Kristhus.
Malandramente e estrategicamente em
nome de uma moral da pureza e neutralidade gerativa carnálica\messiânica, a tradição
cristã contou-nos (achando que somos bobos, dementes e lesados) que José e
Maria cresciam em intensificação afetiva, porém, ambos eram virgens (aham). O
aparecimento do mago em forma de anjo Gabriel, expôs em forma de reportagem ao
vivo todo projeto fecundativo\programático costurado nos bastidores do tecido
da discretagem nos porões das guaritas mais secretas do casal, detonando na
raiz, qualquer insinuação de cinismos espirituáticos.
José e Maria eram muito pobres e não
possuíam plano de saúde e nem tinham uma casa própria para morarem. Quando a
barriga começou a pipocar, ambos procuraram uma maternidade, porém, não havia
vagas, pois muitos já estavam na espera da emergência. Por recomendação de um
jovem andarilho, eles se dirigiram ao estrebológico, pois lá, era um local
muito sinistro cheio de animais domésticos e selvagens (que conviviam
belicosamente), micoses, vírus e bactérias nocivas. O menino Jesus nasceu
cercado pela ferocidade da vida, no entanto, ele sobreviveu a todos estes
perigos.
Após superar esse estágio de
periculosidade maternal\existencial, com a bravura dos pais, o menino continuou
vivendo e crescendo em musculatura, sabedoria e graça. Jesus era muito
engraçado, pois ele fazia barquinhos de papel, jogava aviãozinhos durante as
aulas catequéticas, e as 12 anos e nos interstícios das Sinagogas (papo de
homens) já filosofava sobre os aforismos de Nietzsche em quadrinhos e falava
com muita fluência sobre a importância das imagens de arquivo da companhia
Redtubes para o pensamento afetivo\kid humano demasiado humano, pois, segundo diz a
narrativa sagrada, o mancebo Timóteo desde criança já sabia das coisas básicas
da vida.
Num belo dia Jesus resolveu dar uma volta
e viu uma mulher prostituta que estava prestes a ser apedrejada, pois a
sociedade machista admitia que ela possuía mais horas de cama do que urubu de
vôo. Mas Jesus ao ouvir o argumento convincente daquela mulher, ele disse que o
que ela fazia era apenas trabalho para auto-sustentação e questionou: “Quais de
vocês não vendem o próprio corpo como engenheiros, advogados, professores,
taxistas, etc em nome de um salário mantenedor? Então, quem não tem “pecados” e
é cínico que atire a primeira pedra”. Todos saíram com dor de próstata e de
piru murcho.
Numa outra ocasião, ele passou na beira
do monte e começou a papear com algumas pessoas, mas aquelas discussões
intimistas foram ficando tão legais, que outras pessoas foram se agregando
aquele grupo até formar uma multidão. Por isso, Jesus sentiu a necessidade de
uma estrutura maior com microfones, aparelhagem de som, câmeras de filmagem
(arquivo) para proferir o sermão do monte, que posteriormente serviriam como
inspiração esquemática para curtas metragens cinematográficas. Jesus estruturou
homileticamente esses sermões a partir de pequenas histórias com rapidez,
criatividade e clareza nas introduções, pois Graciliano Ramos aconselhou que a
melhor introdução é a mais breve. A estrutura do sermão cristológico era
assentada em Friedrich Nietzsche, pois, ele dizia que o grande estilo implica
em capacidade de concentração, condensação e economia informativa, falando
apenas o necessário, porém de forma inédita. Conforme diz o filósofo Martin
Heidegger, “dizer genuinamente é dizer de tal maneira que a plenitude do dizer,
própria ao dito, é por sua vez inaugural.
Quando Jesus viajou para uma cidade
vizinha, ele foi acordado lá pelas tantas da madrugada por uma mulher assustada
que alegou que um dos filhos estava possesso por espíritos imundos (demônios?).
Quando Jesus chegou lá, viu aquele jovem compondo uma sinfonia, por isso,
gesticulava e cantarolava de forma muito sutil e esdrúxula aquela melodia
atonal. Jesus citou trechos do livro “O visível e o invisível” de Merleau-Ponti
e disse para aquela mãe tonal equivocada: “o homem para ser homem precisa ver
fantasmas”.
Enquanto o Messias enviado passeava
por um gueto de afetivizações, ele viu um homem que teve uma perna amputada,
por isso, andava com auxílio de uma bengala. Quando ele viu Jesus ele bradou
desesperado: mestre! Tenho fome, dá-me a chance de comer, pois o cafetão deste
espaço que emana grana e prazer nunca permitiu que deficientes físicos se
apropriassem das mulheres dessas vitrines, porque tal procedimento implicaria
na transgressão da lei “seca aos excluídos”. Jesus ficou reflexivo, no entanto, ao ver um
japinha da zonal Sul da cidade Santa entrar com o carrão pelos portões da
afetividade, Jesus chamou aquele administrador carrasco e falou: Ou você aceita
a bengala, ou você vai receber um chá de cabala judicial, pois agora eu sou o
caminho, a justiçabilidade, a amabilidade e a ferocidade da vida (também). Houve
um acordo cafetônico-messiânico, e foi dado àquele homem manjubálico, o direito
de acessar os mananciais em forma de corpos escorregadios e grutas suculentas.
Jesus foi convidado a fazer um
discurso pela paz na praça da paz celestial, no entanto, era terrificante e
assustador a aglomeração de pessoas ávidas por milagres. No meio do rebuliço e
efervescente remelexo de corpos, um dedo enigmático tocou nas zonas erógenas de
Jesus excitando cócegas. Jesus parou e disse: “Produção! Alguém me tocou, pois
senti uma sensação de cosquinha”. Ao ouvir gemidos de amor, ele viu uma mulher
cheia de vontade, exprimida em meio aquela força humana demasiada humana, pois
vontade de poder é movimento espontâneo de vir à luz, de aparecer e impor-se.
Então todos perguntaram a Jesus: “Mestre! Porque você só sentiu o toque dela no
meio dessa multidão carente¿ Então aquele Rabi respondeu dizendo: “sentir é
estar distraído” (Alberto Caeiro \Fernando Pessoa). Esta cena nos mostra que a
sensualidade implica e disposição, aptidão para sentir, isto, é estar
ligado\aceso.
Por todas essas proezas, simplicidade
e luta em favor das classes subalternas, Jesus representava uma ameaça a elite
religiosa dominante, caracterizada pela casta sacerdotal, líderes do Tempo de
Jerusalém, e outros estratos sociais que usavam o nome de Deus para manipular
pessoas usando ferramentas como pecado original, salvação e condenação
universal (faz sentido ainda, se a terra não é mais o centro do Universo? Agora é Pluri-Universo),
vida de santidade, entrega de dízimos e ofertas, sacrifícios, rituais de
adoração e outras malandragens e mentiragens em forma de discurso de controle.
Foi morto na cruz, porque era visto como um espinho na musculatura social
dominante da época. Apesar da deturpação das práticas ensinadas pelo Cristo, no
século XXI, convém citar um trecho do livro O
anticristo de Nietzsche:
“Volto atrás, conto a história genuína
do cristianismo. – Já a palavra “cristianismo” é um mal-entendido – no
fundo, houve apenas um cristão, e ele morreu na cruz. O “evangelho” morreu na cruz. O que desde então se
chamou “evangelho” já era o oposto daquilo que ele viveu: uma “má nova
“, um disangelho. É absurdamente
falso ver numa “fé”, na crença na salvação através de Cristo, por exemplo, o
distintivo do cristão: apenas a prática cristã,
uma vida tal como a viveu aquele que
morreu na cruz, é cristã... Ainda hoje uma vida assim é possível, para determinadas pessoas e até necessária: o
cristianismo autêntico, original sempre será possível...Que significa “boa
nova”? A vida verdadeira, a vida eterna foi encontrada – não é prometida, está
aqui, está em vocês: como vida no
amor, no amor sem subtração nem exclusão, sem distância. Cada um é filho de
Deus – Jesus não reivindica nada apenas para si - , como filho de Deus cada um
é igual ao outro...”
A tragicidade da morte de
Jesus Cristo, ele nos mostrou que apesar dos pais dele não possuírem seguro
saúde nem tampouco, seguro moradia no período da gravidez-maternidade, ele
sobreviveu às adversidades inerentes ao início de tudo e quando se tornou
adulto, teve a honra de dizer: “No mundo tereis aflições, mas tendes bom ânimo
porque eu venci as bactérias, micoses, vírus e todo tipo de mequetrefes naquele
estrebológico”, por isso, “eu vim para que vocês tivessem vida em abundância
(seguro saúde), pois na casa de meu Pai, há muitas moradas (seguro moradia)”. E
pela morte-ressurreição, partiu rumo às entranhas do Universo misterioso
chamado ciclo repetitivo da vida e da morte. Amém.
Com este texto, encerro a “trilogia
do sorriso” que contém os seguintes textos disponíveis na internet:
HARMONIAS E HERESIAS
1. Jesus e a gangue dos samurais: uma heresia
sexy cinematográfica. (2009)
2. Jesus e a onda de alienígenas: uma comédia
de ficção de ficção herítica. (2010)
3. Kid caminho, kid bengala e kid cosquinha: a
história de um Cristo chamado Cristo. (2011)
Abraços do Joe e feliz natal
Perfeito, uma abordagem critica na qual podemos ver o hoje através do ontem, onde os contextos se misturam entre história do passado situada no presente. E o principal, sem medo das castas sacerdotais, srsrr. Parabéns!
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