Durante os
últimos vinte e cinco anos da sua vida de estudo, o eminente homem de ciência e
filósofo Emanuel Swedenborg (1688-1722) fixou residência em Londres. Como os
ingleses são taciturnos, ganho o hábito quotidiano de falar com demónios e
anjos. O Senhor permitiu-lhe vivistar as regiões ultraterrenas e partir com os
seus habitantes. Cristo tinha dito que as almas, para entrarem no Céu, devem
ser justas; Swedenborg acrescentou que devem ser inteligentes e depois Blake
estipularia que fossem artísticas. Os Anjos de Swedenborg são as almas que
escolheram o Céu. Podem prescindir das palavras; basta que um Anjo pense noutro
para o ter junto dele. Duas pessoas que se amaram na Terra formam um único
Anjo. O seu mundo está regido pelo amor; cada Anjo é um Céu. A sua forma é a de
um ser humano perfeito; a do Céu é assim mesmo. Os Anjos podem olhar para o
Norte, o Sul, o Leste e o Oeste; sempre hão-de olhar Deus cara a cara. São
acima de tudo teólogos; o seu maior prazer é a prece e a discussão de problemas
espirituais. As coisas da Terra são símbolos das coisas do Céu. O Sol
corresponde à divindade. No Céu não existe o tempo; as aparências das coisas
mudam segundo os estados de ânimo. Os trajes dos Anjos resplandecem segundo a
sua inteligência. No Céu os ricos continuam a ser mais ricos do que os pobres,
por estarem já habituados à riqueza. No Céu, os objectos, os móveis e as
cidades são mais concretas e mais complexas que os da Terra; as cores mais
variadas e claras. Os Anjos de origem
inglesa tendem para a política; os judeus para o comércio de jóias; os Alemães
trazem livros que consultam antes de qualquer resposta. Como os Muçulmanos
estão acostumados à veneração de Maomé, Deus concedeu-lhes um Anjo que simula
ser o Profeta. Os pobres de espírito e os ascetas estão excluídos dos prazeres
do Paraíso porque os não compreenderiam.
Jorge Luis
Borges, O livro dos seres imaginários, Companhia Das Letras, páginas 16 e 17