GRUPO PRELÚDIO 21 E O ÚLTIMO CONCERTO ANTES DO FIM DO MUNDO. Realizado em 08\21\2012 (Tam tam tam tam ---\---- tam tam tam tam)
Por Joevan Caitano (Joe)
“Não criamos, em qualquer domínio, porque queremos. Criamos
porque temos necessidade [...]. [...] A criação só é possível através de um
mergulho no caos, que nos dá o princípio criativo, mas com o necessário
retorno, uma vez que a obra produzida nunca é puro caos, mas o ordenamento de
uma série de elementos num conjunto inteligível, passível de fruição ou
compreensão (Silvio Gallo. Livro O OFÍCIO DO COMPOSITOR HOJE, páginas 308 e
310)”.
“O artista ocupa o lugar do tronco de uma árvore, pois quando
é pressionado pelo fluxo dos fenômenos e das experiências, tudo o que ele faz,
é recolher e encaminhar aquilo que vem das profundezas da terra para a obra de
arte. Não servir, nem dominar, apenas comunicar. Portanto, ele assume uma
posição realmente humilde. E a beleza da copa não lhe pertence, apenas passa
através dele...O artista ocupa a função de passagem (Paul Klee – livro Sobre a
arte moderna, páginas 52, 53)”.
Sábado às 15h do dia 08 de dezembro,
me dirigi ao Centro Cultural da Justiça Federal no Rio de Janeiro para
prestigiar o último concerto do Grupo Prelúdio 21. Ao chegar ao local, me
deparei com o Professor e compositor Marcos Lucas que estava na porta da sala
onde seria realizado o concerto. Papeamos rapidamente e fraternalmente, e
entramos para o espaço de afetivizações e ebulições sonoras. Após pouquíssimos
minutos de espera, Sérgio Roberto se dirigiu a frente daquele recinto de
fraternidade lúdica, e emitiu rápidas palavras em forma de bem vindo a todos.
Naquele momento, ele ressaltou que o Grupo estava completando 15 anos marcados
pela união, solidariedade e consangüinidade convergentes. Esta coesão de corpos
e de idéias, foi coroada pelo reconhecimento da crítica especializada que
recomendou e indicou o CD do grupo ao Grammy de 2012. Em poucas palavras,
Sérgio Roberto resumiu tudo, pois “a melhor introdução
é aquela que é mais breve possível” dizia Machado de Assis.
Como de costume, cada compositor\integrante do grupo e\ou compositor
convidado foi convidado a se dirigir até o palco para explicar de forma sucinta e detalhada
sobre os principais aspectos da obra, pois a intenção do grupo é sempre promover um
concerto didático. Segundo informou um dos integrantes, o compositor J. Orlando
Alves não pode comparecer, no entanto, foi gentil ao enviar um e-mail
esclarecendo alguns aspectos sobre a peça “Incidências II”. Segundo o autor, a
peça foi composta em 2005 e foi estruturada a partir da organização das alturas
em forma de convergência de trítonos e semitons que realçam breves incidências
de duas seções. A peça foi executada pelo exímio flautista Rudi Garrido.
Enquanto escutava eu me perguntava: Afinal, porque será que Orlando resolveu
nos dar um chá melódico criativo em dose dupla masturbando-nos sado\demo\auditivamente
pelo mecanismo vibratório de dois intervalos sinistros de se ouvir? Encontrei
consolo e resposta plausível num dos aforismos de Nietzsche denominado “É
PRECISO AMAR”:
Eis o que nos
acontece no domínio musical: é preciso antes de tudo aprender a ouvir uma figura, uma melodia, saber discerni-la com o
ouvido, distingui-la, isolá-la e delimitá-la enquanto vida para si: em seguida,
é preciso esforço e boa vontade para suportá-la,
apesar de sua estranheza, usar a paciência para seu aspecto e expressão, ternura
pelo que ela tem de singular; - vem enfim o momento em que nos habituamos a ela, em que nós a
esperamos, em que sentimos que nos faria falta, se se ausentasse; e daí em
diante ela não deixa de exercer sobre nós sua imposição e sua fascinação, até
que tenha feito de nós seus amantes humildes e maravilhados, que não concebem
melhor coisa no mundo e só desejam ela e mais nada. – Porém não é só na música
que isto nos acontece: é justamente assim que aprendemos a amar todos os objetos que agora amamos. Acabamos
sempre por ser recompensados por nossa boa vontade, nossa paciência, nossa
eqüidade, nossa ternura com a estranheza, pelo fato de que a estranheza pouco a
pouco se desvende e venha se oferecer a nós como nova e indizível beleza: aí
está sua gratidão por nossa hospitalidade. Quem ama a si mesmo só pode ter
chegado a isto por este caminho: não há outro. Também se deve aprender o amor
(NIETZSCHE apud MACHADO 2006, p. 49).”
Logo em seguida, o compositor Pauxy
Gentil-Nunes caminhou de forma serena e tranqüila, pois todo espírito criador
olha baixo, olha manso e olha abençoador (Nietzsche) e se posicionou
concentrativamente direcionando o olhar reflexivamente em direção ao teto portador de sutilidade luminosa. Após
alguns segundo de mistura e mistério, ele reposicionou o olhar em direção ao
público e falou que o nome da peça que ele escreveu tem por título “Suarabácti”.
Segundo Pauxy, “Suarabácti” soa uma palavra mágica e misteriosa, entretanto, é
uma palavra que coaduna ao metier da lingüística, pois neste nicho, atiça-se o
processo via engrenagem de duas consoantes que vai se separando até juntar e
formar outra palavra. Ele sinalizou que a peça “Suarabácti” é marcada
pela mistura serial contendo uma série de 22 notas ao mesmo tempo, que é
portadora de uma batida de bossanova e de um tecido musical que vai se
esgarçando até gerar outro tecido. Com muito louvor e amor, Pauxy convidou o
excelente violonista Fábio Adour para executar esta peça. Segundo Pauxy, muitos
violonistas já executaram esta peça, mas foi nas mãos de Fábio Adour, que a
química entre os dedos, notas e cordas se tornaram mais que divivas. Herr Adour
executou toda a peça com a maestria da pegada de um cavalheiro das notas. Nos
momentos finais que antecederam o orgasmo das cordas, Adour emitia bravorosas
palmadas nas molduras libidinais, sensuosas e pandeirosas do violão. Nossa
memória involuntária nos conduzia a pornomagia de bundas e musas, de bundas e
música. Depois de intermitentes espancamentos manuais, aquela música finalmente
cessou de forma cansada e silenciosa, mas o contexto de gemidos nos labirintos
bucais de cordas e madeira nos fez entender claramente que naquela tarde, um
anjo sadomasomusic passou por ali emitindo prazer e furor, furor e prazer. Deleuze e
Guatarri (1997) estavam certíssimos ao escreverem que “a
máquina de sofrer é uma peça de uma máquina que não pára (cessa) de gozar
consigo mesmo”.
Passado aqueles momentos de vontade de
potência via poder da judiação das cordas e afins, foi a vez de Caio Senna se
explicar didaticamente. Caio falou que a peça “Far from my window” foi
escrita por encomenda de um pianista americano e a fabricação da mesma ocorreu
entre agosto e outubro de 2011. Caio assinalou que compôs a peça usando a
técnica de variações, focada numa melodia que varia. Confessou de forma muito
honesta que foi humilde ao ponto de mergulhar num retorno acolhedor de uma
simplicidade, por isso, afirmou que se apaixonou pelo sentimental e banal. Manoel de Barros escreveu: “Tudo aquilo que for ínfimo e
desprezível, traga a mim, pois neles vejo exuberância”. Caio sentou-se
no piano elétrico e começou a tocar de forma concentrada, divertida,
melodiosa\arpejada e econômica aquela peça. Ele parecia uma criança se deleitando
nos braços do frágil, do óbvio, da espiritualidade portadora de gestos simples
e nobres. A postura de Caio lembra a jeito\trejeito do espírito criador amante
do grande estilo e da concisão econômica das ideias:
[...] “é alguém marcado pela concentração, pela
contenção, pela intensidade. Isso se irradia nele. Nada de derramamentos, de
efusões e transbordamentos fúteis. É simples, sóbrio, mas nisso e por isso
cheio do solene e do hierático da montanha. Sendo assim, desde o contido e o
intenso, sua medida é sempre o sóbrio, o pouco, o parco, o pobre. Isto, para
ele, é o suficiente, mesmo o só necessário e até a fartura. Mas isso tudo já é
o simples (FOGEL 2009, p. 13).”
No fluxo do simples sennaiânico, foi à
vez de um cara cheio de muita simplicidade subir ao palco. Marcos Lucas é
sinônimo de muita ternura e afetuosidade quando fala e\ou escuta. Ele
esclareceu-nos que a peça Tríptico foi escrita há 4 anos por
encomenda para o violonista Armildo Uzeda (que gravou um CD só com obras do
Prelúdio 21 para violão) e contém 3 movimentos. 1º Movimento: Presto e
obstinado marcado por ritmo perpétuo sem variações do início ao fim; 2º
Movimento: Nebuloso, diáfano, contendo som metálico para mais brando; 3º
Movimento: Quarta-Feira de Cinzas com trejeitos e sensações de um folião
bêbado. Herr Lucas afirmou que no terceiro movimento, ele assumiu a batucada
dos foliões do samba durante o carnaval. Essa mistura de levadas e configurações
sonoras numa mesma peça nos mostra que:
“a música de nossos dias deve ser compreendida
como configuração de relacionamentos, definida em termos de
multidirecionalidade e multidimensionalidade e em termos qualitativos também.
Pois é o reflexo da nossa vida cotidiana, e a vida é transformação constante,
um processo que não se permite se prender em objetivos específicos e
interpretações. É preciso compreender que a humanidade deve concentrar todos os
seus esforços nesse processo de transformação constante, pois é este que
constitui o único aspecto inalterável de nossa existência (KOELLREUTTER 1990).”
Marcos Lucas ressaltou a grande
competência do violonista Fábio Adour por ter encarado a peça há pouco tempo e
ter dado conta do recado em pouco tempo de estudos. Herr Adour tocou e mais uma
vez nos encantou dedilhosamente.
Após
aplausos calorosos a dupla Lucas e Adour, foi à vez da compositora norte-
americana Rami Levin, pontuar verbalmente alguns aspectos da peça Dialogue.
Segundo ela, a peça foi escrita durante a graduação e possuía apenas um
movimento. Ela (Rami) tocava oboé e a outra colega tocava flauta. Esta obra foi
escrita em homenagem a amiga dela e contém a ideia de espelho, pois o oboé toca a
parte da flauta e a flauta toca a parte do oboé e vice-versa. Posteriormente (5
anos depois), a mesma obra foi ampliada para três movimentos. Para a execução
dos 3 movimentos, Rami convidou os professores Pauxy Gentil Nunes (flauta) e
Leonardo Fuks (oboé). Ambos tocaram a peça em forma de duplo e \ou heterônimos
de si mesmo. Resisti ao outro lado da mesma moeda e ela não se individará em
vós. Para entender a história do duplo, cito um trecho do escritor argentino
Luis Carlos Borges:
Sugerido ou estimulado pelos espelhos, as águas e os irmãos gêmeos, o
conceito de duplo é comum a muitas nações. É plausível supor que expressões como
Um amigo é um outro eu de Pitágoras ou o Conhece-te a ti mesmo platônico se
inspiraram nele. Na Alemanha chamam-no Döppelgänger; na Escócia Fetch, porque
vem buscar (fetch) os homens para levá-los à morte. Encontrar-se consigo mesmo
é, por conseguinte, funesto; a trágica balada Ticonderoga, de Robert Louis
Stevenson, conta uma lenda sobre esse tema. Recordemos também o estranho quadro
How they met themselves, de Rossetti: dois amantes se encontram consigo mesmos,
no crepúsculo do bosque. Caberia citar exemplos análogos de Hawthorne, de
Dostoiewski e de Alfred de Musset. Para os judeus, pelo contrário, a aparição
do duplo não era presságio de morte próxima. Era a certeza de haver alcançado o
estado profético. Assim o explica Gershom Scholem. Uma lenda recolhida pelo
Talmude narra o caso de um homem em busca de Deus, que se encontrou consigo
mesmo. No conto Willian Wilson, de Poe, o duplo é a consciência do herói. Ele o
mata e morre. Na poesia de Yeats, o duplo é nosso anverso, nosso
contrário, o que nos complementa, o que não somos nem seremos. Plutarco
escreve que os gregos deram o nome de outro eu ao embaixador de um rei (BORGES
2007, pp 85, 86)
Depois desta etapa em forma de
espelhos sonoros, humano, demasiado humano, o compositor Neder Nassaro se
projetou vocalmente para tecer considerações sobre a sua peça Curto
Circuito. Neder apenas leu um trecho que diz assim:
“Música é fluxo. Mesmo quando em silêncio é
expressão continua. Ar, atrito, silêncio o ar nos engole e engolimos o ar que
nos engloba. Mas nos atrevemos a reinventar o ar, que é som em potencialidade.
Música é a arte de cortar o ar (NASSARO 2012, página móvel, livro vocal
conversível).”
O violonista Gabriel Lucena segurou o
violão com força e, mirando os punhos e dedos nas cordas da expectativa,
começou a serrar sonoramente aqueles afetos vibrativos. Ele simulou uma
guilhotina cortadora de pneuma para nos mostrar que “a
espera é um à toa muito ativo” (Guimarães Rosa), pois o vento sopra onde
quer, ninguém sabe de onde ele vem e nem para onde ele vai. Por isso, é preciso
estar sempre em processo de posição\elaboração de cortes precisos e
estratégicos, pois o nosso corpo lançado no Dasein (Ser estar aí no mundo) é
portador de musicalidade enigmática. Fernando Pessoa escreveu: “Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos
tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me
conheço como sinfonia (PESSOA 2011, p. 298).
Lá pelos 40 minutos do segundo tempo,
entrou em cena o jovem compositor Sérgio Roberto trazendo consigo pitadas de
humor reflexivo. Ele esclareceu que a peça “A canção que não foi escrita” foi
construída melodicamente e harmonicamente sobre um poema do poeta Mário
Quintana. Sérgio também nos disse que ganhou de presente da comadre da filha
dele um livro de poesias do Mário Quintana e que ao receber aquele emaranhado
de palavras singelas, fez um pacto de musicar todos os poemas. Na solidão
perfeita, Sérgio analisou quais poemas seriam musicalizados primeiramente, pois
solidão para ele significa entregar-se a uma obra que somente ele pode fazer.
No meio de muitos excelentes poemas, Sérgio se rendeu a entrega e escuta para
decidir entre o bom e o melhor. Sobre esta sensibilidade para decisões
abensonhadas, vale a pena conferir o que a experiente compositora Marisa
Rezende escreveu:
“Compor significa,
entre outras coisas, fazer escolhas. Compor significa muitas coisas, entre
elas, poder fazer escolhas. Duas estruturas semelhantes e uma diferença básica
de intenção: no primeiro caso penso no compositor atuando no momento de compor.
Optando por algum material, por alguma exploração deste material, por uma forma
a ser dada a este material. Atento a códigos nele contidos e a processos que
deles se desprendem. E, se entre a sensação e a opção já corre um rio, como não
lembrar que são ambos fenômenos que dependem da percepção (REZENDE 2007, p.
77).”
Antes de convidar os dois intérpretes
(Mimi Cassiano: Soprano e Luiz Carlos Barbieri: Violão), Sérgio Roberto
ressaltou que a canção nos dá a ideia de alguém que sorriu a alma triste do
poeta e que um simples sorriso muda tudo. Quando os dois interpretes subiram ao
palco, Sergio falou depois de muitos ensaios e gravações acompanhado de Mimi e
Barbieri, fica muito difícil falar em composição própria, pois honesto e
coerente é afirmar que rolou um coletivo autoral fruto de um processo alquímico
coletivo, desempenhado por convergência de singularidades. Os dois intérpretes
tocaram a pele da nossa alma ávida pela escuta de um Deus poético. Quando eles
terminaram de executar a peça, todos nós falamos em nosso silêncio eloqüente: “Sem música, a vida seria um erro (Nietzsche)”.
Para finalizar aquela tarde com chave
de ouro, lá pelas tantas da prorrogação sem morte súbita na vida múltipla, o
mago Alexandre Schubert (São Schubert) subiu ao palco para dar aquela canja
retórica sobre a sua peça “Quarteto de Flautas”. Como sempre,
ele estava super animado, por isso, enquanto falava empolgosamente, emitia
rajadas de sorrisos e delírios de júbilos. São Schubert falou-nos que a peça
foi composta há 22 anos (1992 eu acho) ....Direto do túnel do tempo....Schubert
sorria e a platéia reagia com risos prol louvação e canonização da
ancestralidade criativa. Enquanto a gente se borrava todo de tanto rir,
Schubert explicava que aquela peça foi construída em dois movimentos. No 1º
movimento, reside uma instrumentação compacta em estilo coral que migra para um
estilo contrapontístico (fugato) e depois retorna à ideia coral inicial. Já no
2º movimento, rola dança frenética com pitadas visíveis e audíveis de rock
progressivo. Schubert confidenciou-nos que nos tempos de juventude musicada,
curtia muito escutar rock progressivo, por isso, esse tempero rockiano contido
na segunda parte da orgia sonora das flautas. O compositor paulista Silvio
Ferraz (UNICAMP) esclarece-nos muito claramente sobre a força
penetrante\convergente de tudo o que ouvimos e gostamos de ouvir (nossas
influências):
[...] quando
escrevemos música nunca estamos sozinhos, pois uma série muito grande de
diálogos atravessam nossa escrita. As obras nascem, assim, junto a uma linha
infindável e quase irreconstituível de contágios. Qualquer coisa que se mexa à
volta pode mudar o percurso de uma criação mesmo a mais predefinida. (FERRAZ
2007, pp 7, 8)
A peça "Quarteto de Flautas" foi executada lindamente com ares de jovialidade e competência pelos brilhantes instrumentistas Gisele Mascarenhas, Priscila Maia, Rômulo Barbosa e Timóteo Pereira...Clap Clap Clap para este quarteto de sopros em forma de flautas da afetividade humana jovial humana...
Pelo panorama exposto na esteira das
palavras deste texto, dá para entender que o grupo Prelúdio 21, é um grupo
formado por compositores experientes e com carreira consolidada no âmbito da
composição e do ensino de composição no Brasil. Não faz o menor sentido jovens
compositores em início de carreira se gabarem arrogantemente afirmando
bocudamente que são alunos de um destes compositores acima para obterem
regalias e privilégios em forma de QI (quem indique e afins), pois segundo o
filósofo espanhol Ortega y Gasset, um grande feito de um homem dignifica o pai
deste homem; Um grande\grande feito dignifica o pai e o avô deste homem; Um
grande\grande\grande feito dignifica o pai, o avô e o bisavô deste homem e
assim segue o reconhecimento e louvação genealógica retroativa. A dignificação
é sempre para trás e JAMAIS para frente para evitar o comodismo e a frouxidão
da\na vida. Para frente é preciso ralar e conquistar. Nietzsche ressaltou que “dificilmente quebramos a perna quando subimos
trabalhosamente na vida, mas sim quando fazemos corpo mole e tomamos os caminhos
fáceis (NIETZSCHE 2002, p. 118).
Parabéns aos compositores integrantes
do Grupo Prelúdio 21 e todos os
demais convidados (compositores, intérpretes, público, fotógrafos e afins) que
durante o ano de 2012 transformaram as tardes do último sábado de cada mês, em
prazerosos fragmentos do tempo marcado pela ação e magia da coisa sonora se
fazendo coisa em forma de som como princípio de realidade. Estes compositores
desbravadores nos mostraram a força da singularidade em prol da coletividade,
pois fazer música\compartilhar música é preciso, competir não é preciso. Todos
estavam engajados na conquista dos limites, pois o ser forte é ser forte no
limite. A formiga é forte sendo só formiga e toda formiga. O leão é forte sendo
leão e todo leão. O homem para ser feliz e forte, precisa ser somente homem e
todo homem. O desejo de competição visando à superação dos limites humanos é
utópico, antinatural e mortal, pois se um dia o homem conseguir superar os seus
próprios limites, ele estoura e deixa de ser homem, porque desaparecerá como
homem. O Prelúdio é forte porque é somente 21 e todo 21...E ISSO BASTA para
2013....
Mas, e (...) se (...) o mundo acabar
em 21 de dezembro? Perfeito....Os compositores morrerão com a sensação de dever
cumprido. Nascer é se deparar com o esboço de si mesmo, viver é ir preenchendo
aos poucos este esboço\rascunho de si mesmo, e morrer é se deparar com a
alegria inconsciente de ser perfeito, pois quando o homem faz o que tinha que
fazer, ele morre sem lamúrias e com sentimento de gratidão, por ter feito nem
demais e nem de menos, mas por ter feito tudo o que tinha que fazer dentro dos
limites. Morrer nestas condições é quando o homem vem todo inteiro para fora
desde as suas mais profundas profundezas e encara o infinito da cumulação (do
sumo), que é diferente do infinito matemático, pois neste divivo infinito, a
cada passo que o homem dá, ocorre o todo, por isso, o pouco que se consegue
dentro do possível, é tudo. E que venha o fim através da arte, fim marcado pelo
acabamento, saturação, reunião (Sammlung), ajuntamento, síntese, compactação,
concentração máxima para ver tudo o que a história pôde. Que venha o fim como
história, como realização de possibilidades, pois cumular é encher-se todo e
tudo que enche se esvazia e se renova pelo recomeço via retomada de forças. Que
dia 21 de Dezembro seja um ponto máximo de concentração suprema, marcado por
máxima intensidade, pois o fim nada mais é do que a possibilidade de reunião e
de retomada de ação, pois a essência da ação está na cumulação, na plenitude da
ação. Prelúdio 21 é formado por homens e a essência da
ação está na cumulação, na plenitude da ação (HEIDEGGER 2009, pp. 23, 24);
o homem é ação: é história se fazendo história no tempo do tempo. Lembre-se que
cada um é filho de suas obras, dizia o velho Dom Quixote.
Recomendo a todos os integrantes que façam como o Orlando fez ...se entregando quanto cedo antes as orgias das águas purificadoras e sensualizadoras....Para o fim do mundo e o eterno retorno nascer feliz...O lance é pedir aos deuses sombra e água fresca que porque o Senhor dos Afetos fará maravilhas em 2013...
Orlando esbanjando sensualidade MUSICALIGENTE.
Um abraço sonoro e afetuoso do Joe.
Boas férias para todos...
Bibliografia consultada antes do fim do
mundo...
BORGES, Jorge
Luis. Livro dos
seres imaginários. São
Paulo: Companhia Das Letras, 2007.
DELEUZE, Gilles;
GUATARRI, Felix. Kakfa.
Por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
FERRAZ, Silvio
(Org.). NOTAS.
ATOS. GESTOS. Relatos composicionais de
Marisa Rezende. Silvio Ferraz. Denise Garcia. Fernando Iazzetta. Marcos
Lacerda. Rodolfo Caesar. Rogério Costa. São Paulo: 7 Letras, 2007.
FOGEL, Gilvan. O QUE É FILOSOFIA? Filosofia como exercício de finitude. Aparecida-SP: Idéias &
Letras, 2009.
GALLO, Silvio. Tom Zé e o Ato da Criação. Em: TRATENBERG, Lívio
(Orgs.): O
OFÍCIO DO COMPOSITOR HOJE. São
Paulo: Perspectiva, 2012, pp. 308-310.
HEIDEGGER,
Martin. Sobre o
Humanismo (cartas ao humanismo). Tradução: Emmanuel Carneiro Leão.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2009.
PESSOA,
Fernando. Livro
do Desassossego. São Paulo: Companhia de Bolso, 2011.
KOELLREUTTER,
Hans-Joachim. TERMINOLOGIA
DE UMA NOVA ESTÉTICA DA MÚSICA.
Porto Alegre: Editora Movimento, 1990.
MACHADO, Duda
(Orgs.) FRIEDRICH
NIETZSCHE. Breviário de Citações ou PARA CONHECER NIETZSCHE [Fragmentos e
Aforismos]. Seleção, organização e tradução: Duda Machado. São
Paulo: LANDY EDITORA, 2006.
NIETZSCHE,
Friedrich. Humano
Demasiado Humano. Volume II.
Tradução de Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia Das Letras, 2002.
KLEE, Paul. Sobre a arte
moderna e outros ensaios. Prefácio e notas: Günther Regel. Tradução:
Pedro Süsskind. Revisão Técnica: Cecília Cotrim. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001. pp 52-53)
REZENDE, Maria. Pensando a composição. Em: FERRAZ, Silvio (Org.). NOTAS. ATOS. GESTOS. Relatos composicionais de Marisa Rezende. Silvio Ferraz. Denise Garcia. Fernando Iazzetta. Marcos
Lacerda. Rodolfo Caesar. Rogério Costa. São Paulo: 7 Letras, 2007, p. 77.